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Alunos de Contagem, na Grande BH, estão sem uniforme três meses após início das aulas

Prefeitura gastou mais de R$ 10 milhões em licitação com fábrica têxtil, mas centenas de estudantes ainda não receberam uniformes; pais e responsáveis reclamam da situação

Fotos mostram uniformes desbotados e surrados

Estudantes da rede municipal de ensino de Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, estão sem uniforme escolar mesmo três meses após o início das aulas. Algumas crianças estão dependendo de doação de uniforme para poder ir a escola.

Documentos obtidos pela reportagem mostram que a Prefeitura de Contagem assinou um contrato de R$ 11,6 milhões com uma indústria têxtil de Três Corações, no Sul de Minas. A compra foi confirmada em 3 de fevereiro e a entrega deveria ser feita até o início de abril, mas o prazo já está atrasado em 45 dias.

Pais e responsáveis pelos estudantes estão incomodados com a situação e denunciam que muitos alunos precisam ir para a escola com uniformes velhos, desbotados ou com roupas normais. Lilian Couto, mãe de uma criança que está no 3º ano do Ensino Fundamental, conta que o filho já não possui uniforme para estudar.

“A gente vai na Secretaria de Educação, eles cobram a prefeitura, que joga para o projeto e fala que é na empresa e a gente não tem resposta de ninguém, ficamos de nãos atadas. Meu filho está indo com roupa normal para a escola. O material escolar até foi entregue, mas também veio atrasado. Uma falta de respeito com os pais e professores também, já que eles não têm resposta.”

Já o filho de Cíntia Gomes passa por uma situação ainda mais complicada. Ele acabou de entrar na rede municipal de ensino e está indo todos os dias com o mesmo uniforme, que veio de uma doação.

“Muito ruim, tem muitas mães que não têm uniforme e o filho precisa ir sem. Como é que você faz para lavar todo dia? Ele chega sujo todo dia e fala que estava brincando. Como eu chego pra ele e falo ‘você não pode brincar porque não tem uniforme e depende de doação’?”.

O presidente da Associação Contagem Voluntária, Marlon Neves, afirma ter recebido centenas de reclamações de pais com o mesmo problema. O ativista acredita que há uma falha no planejamento da prefeitura.

“Na minha avaliação é um erro de gestão. Um ano letivo que começa em fevereiro em quase todo ano e você vai deixar para fazer o processo de confecção e distribuição em fevereiro? Outro problema que a gente vê é não procurar gerar emprego e renda aqui e procurar uma empresa de outra cidade sendo que podia aproveitar a mão de obra e gerar emprego e renda dentro da cidade de Contagem.”

Segundo Marlon, no ano passado também houve atraso na entrega, mas a prefeitura teria alegado que a pandemia da Covid-19 atrasou o serviço. “Só que a pandemia já acabou, né? Tá na hora da gente voltar a normalidade e trabalhar com previsibilidade”, defende o ativista.

A Itatiaia entrou em contato com a Prefeitura de Contagem e aguarda retorno.

Formado em jornalismo pela PUC Minas, foi produtor do Itatiaia Patrulha e hoje é repórter policial e de cidades na Itatiaia. Também passou pelo caderno de política e economia do Jornal Estado de Minas.