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Moradores de comunidades de BH protestam contra ordens de despejo pedidas pela Cemig

Empresa afirma que casas foram construídas em áreas privadas e que apresentam risco para as moradias, por isso pede desapropriação

Moradores fecharam faixa da avenida Nossa Senhora do Carmo

Moradores do Morro do Papagaio e outras comunidades de Belo Horizonte protestaram, na manhã desta segunda-feira (08), contra ordens de despejo expedidas pela justiça a pedido da Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais). A manifestação aconteceu na Avenida Nossa Senhora do Carmo, na entrada para o bairro Belvedere, na região centro-sul da capital.

Os participantes levaram faixas com os dizeres “Cemig, tira a mão da nossa terra” e ocuparam a via nos dois sentidos. Apenas uma faixa ficou aberta para a circulação de veículos. Os manifestantes afirmam que a companhia pede a desapropriação de dezenas de imóveis em pelo menos oito comunidades de Belo Horizonte.

A Cemig afirmou, em nota, que os imóveis foram construídos de forma irregular em áreas sob linhas de transmissão. A companhia afirma possui o terreno desde a década de 1970 e que desapropriação visa assegurar a segurança dos moradores. Como as casas ficam debaixo de redes de alta tensão, há risco de choque elétrico e outros acidentes que podem levar à óbito.

Tentativa de retirar famílias acontece desde 2010

De acordo com Cristiano Almeida, um dos organizadores do protesto, desde 2010 a Cemig tenta desapropriar as moradias. Ele conta que muitos moradores estão desesperados por não saber para onde ir e pede pela ajuda das autoridades. “A nossa briga é para que as pessoas atingidas tenham pelo menos uma assistência”, disse.

A autônoma Marlene Souza, de 49 anos, é moradora da Vila Bernadete e mora com os dois filhos - uma menina de 10 anos e um jovem de 25. A família está com o despejo marcado para a próxima sexta-feira (12).

“Eu vou pra onde, me diz? Perigo por perigo, a gente já corre risco todos os dias aqui na comunidade. Você acha que se a gente tivesse opção iria morar debaixo da fiação?

A mulher conta que procurou a defensoria pública, mas foi informada de que não teria nenhum tipo de direito, pois o terreno é legalmente da Cemig.

“Estamos revoltados, tristes. Estamos sendo tratados feito lixo. O documento do despejo diz que eles vão usar força armada se a gente ainda não tiver saído de casa na sexta. Mas eu não tenho nem onde colocar as minhas coisas.

A incerteza do futuro é motivo de preocupação para a autônoma. Marlene trabalha vendendo café na porta de uma empresa em Belo Horizonte. Ela lucra cerca de 30 reais por dia, o equivalente a 600 reais por mês. É com esse dinheiro que ela alimenta os filhos e paga as contas de casa. “Eu não tenho como pagar aluguel. Meu dinheiro consegue pagar só a comida e as contas de casa”, desabafa.

Despejos individuais

Os moradores questionam, também, o método usado pela Cemig para fazer as desapropriações. Eles contam que em anos anteriores, a empresa entrou com processos coletivos na justiça, pedindo desapropriação de vários imóveis ao mesmo tempo.

Porém, agora, ela entra com ações individuais, para um morador de cada vez. Com isso, até as datas das desapropriações são diferentes para cada morador.

A Cemig afirma que as ações não são desapropriações, já que ela é detentora da posse dos terrenos. Os despejos seriam parte de um movimento de reintegração de posse da companhia.

A reportagem da Itatiaia entrou em contato com a Prefeitura de BH e aguarda contato.

Fernanda Rodrigues é repórter da Itatiaia. Graduada em Jornalismo e Relações Internacionais, cobre principalmente Brasil e Mundo.