“O café mudou a vida da minha família”. A afirmação é de Zilda Soares, 57 anos, que encontrou na bebida a forma de sustento dos quatro filhos e do marido. No Dia Mundial do Café, celebrado nesta sexta-feira (14), a reportagem da Itatiaia foi ao Centro de Belo Horizonte para mostrar como o café vai além do glamour das cafeterias dos shoppings e regiões nobres de BH.
No caso de Zilda, ela, o marido, Geraldo, 53 anos, e o filho Ronan, de 28, trabalham como vendedores de café em bancas localizadas no entorno da Praça Sete. São pelo menos dez garrafas de café vendidas por dia, o que garante uma renda mensal entre R$ 2 mil e R$ 3 mil.
Confira o áudio com Clever Ribeiro:
Dados da Organização Internacional do Café (OIC) apontam que os brasileiros bebem, em média, entre 3 a 4 xícaras de café diariamente. Em razão da alta no preço, o consumo diminuiu na comparação entre 2022 e 2021, mas a expectativa do segmento é crescer 1,94% neste ano e 4,10% em 2024.
Desde 2016, a rotina da família da comerciante, moradora do bairro Aarão Reis, região Norte de BH, se repete: acordar às 2h, preparar o café ‘raiz’ (passado no coador tradicional) e seguir, às 4h, para o centro da capital, onde clientes compram o cafezinho por R$ 1. Segundo ela, a bebida é feita no coador de pano, na medida certa do pó, com café extraforte e uma ‘xicrinha’ de açúcar.
“A venda do café ajuda muito na alimentação, me ajuda a comprar minhas coisas e a pagar as prestações”, diz Zilda. “Se a pessoa chegar com R$ 0,50 a gente vende; com R$ 1, a gente vende; e com R$ 1,50 também. É do jeito que o cliente pede, para (o movimento) não parar nunca”, destaca. Dona Zilda também doa pelo menos um pão e um café para pessoas carentes, atitude presenciada pela reportagem.
O marido de Zilda, Geraldo Roberto, é figura conhecida na rua Curitiba, a cerca de 300 metros de onde sua mulher atua. Ele conta que a ideia de vender café no Centro começou com um dos filhos, que estava desempregado. “Hoje, ele trabalha como confeiteiro e eu continuei ficando aqui. Depois veio o Ronan e a minha esposa.”
A estratégia da venda do cafezinho é atrair mais fregueses para outros produtos que a família também comercializa. “As pessoas vão gostando do café, que é o principal, para chamar a atenção para o pão, o bolo e o pãozinho”, explica.
Na Praça Sete, o cafezinho de Ronan foi vendido em 2 horas. “Cheguei às 4h e às 6h já não tinha nada.”
‘Bom e barato’
Cliente fiel da família, o técnico em eletrônica Giderlei Baudráia elogia a qualidade do cafezinho. “Passo aqui todos os dias de manhã. O café é novo, porque eles fazem cedo e trazem. Em lanchonete, o café é requentado a maioria das vezes, e isso dá um gosto ruim”, diz.
Café Nice
A bebida também é item indispensável no Café Nice. Com 84 anos de tradição, o estabelecimento continua firme e é muito mais do que parada obrigatória de políticos em campanha. Fundado em 1939 por Heitor Resende, o Café Nice ganhou esse nome em homenagem a um estabelecimento carioca. Mesmo o preço mais elevado do cafezinho (R$ 4) não impede o movimento intenso dos clientes.
Preço
Pesquisa divulgada pelo site Mercado Mineiro em janeiro deste ano aponta alta de 16,88% no preço do cafezinho nas padarias da capital no último ano. O mesmo levantamento mostra variação de R$ 1 até R$ 2 entre os estabelecimentos pesquisados.
*Reportagem Rômulo Ávila e Clever Ribeiro. Imagens: Naice Dias