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Casas de madeira: construtora é suspeita de abandonar obras em Capitólio, Ouro Preto e Serra do Cipó

Polícia Civil investiga o caso com suposto estelionato

Clientes acusam construtora de abandonar obras após receber o dinheiro

A Construtora de Casa Luxus, apontada por clientes como responsável por abandonar obras após receber o pagamento, apresenta em seu site um portfólio com casas que vão de R$ 84 mil a R$ 328 mil. Entre os processos contra a empresa, há clientes que fecharam contrato para construção de imóveis em cidades turísticas de Minas, mas dizem que ficaram na mão. A Polícia Civil investiga o caso com suposto estelionato. Nessa segunda-feira (20), reportagem da Itatiaia mostrou que o prejuízo pode chegar a R$ 1 milhão.

Leia também: Clientes denunciam construtora por abandonar obras e causar prejuízo de R$ 1 milhão em Minas

A reportagem da Itatiaia teve acesso a processos envolvendo a empresa. Em um deles, um cliente pagou, em 2021, quase R$ 80 mil para a construção de dois chalés em Capitólio, cidade do Sul de Minas Gerais banhada pelo lago de Furnas.

“Cada chalé custou R$ 39 mil, dando R$ 78 mil os dois, com toda mão de obra e entrega na chave com tudo pronto: acabamento, a parte da madeira e com 10 anos de garantia”, diz a vítima, que mora fora do Brasil e prefere não se identificar.

Ele conta ainda que a obra foi iniciada, mas de maneira lenta. “Na verdade, ele contratou um pedreiro de Capitólio mesmo, para não gastar com o aluguel. Esse pedreiro fez a parte de alvenaria dos dois chalés e, depois dessa parte, a obra ficou parada por um bom tempo. E a gente já começou a se desentender, porque eu sabia que não iria bater com o cronograma de três meses (90 dias úteis)”, explicou o cliente.

“Fiquei cobrando. Como eu ainda estava pagando as prestações, ele respondia. Ele até conseguiu mandar a madeira, que ficou parada lá por um tempo”, contou o comprador.

Ainda de acordo com ele, a construtora chegou e enviar um montador que fez a metade da casa. “Depois disso, o montador foi embora, eles abandonaram a obra, pararam de me responder e tive que entrar com o processo na Justiça. Em seguida, fiquei sabendo que sete pessoas tinham sido enganadas por ele da mesma forma: ele abandona as obras, algumas nem começam, e pega todo dinheiro”.

Além da devolução do valor pago com juros, o cliente pede, na Justiça, indenização por dano moral. O valor total da causa é de R$ 120 mil.

Ouro Preto

Já em Outro Preto, na região Central de Minas, um casal fechou contrato para construção de uma casa no distrito de Cachoeiro do Campo. Os clientes deram entrada de R$ 59 mil e dividiram o restante em seis parcelas de R$ 23.000,39. A obra foi iniciada, o casal chegou a fazer pagamentos adicionais e, mesmo assim, a casa não ficou pronta. Na Justiça, os compradores pedem o ressarcimento de parte do valor pago e indenização por dano moral e material.

Já em Santana do Riacho, conhecida como Serra do Cipó, uma moradora teve que concluir a obra com recursos próprios após desacordo com a empresa.

Clientes de Esmeraldas, Betim, Sabará, Brumadinho e Serra do Cipó também acionaram a Luxus na Justiça.

Mundo virtual

Na internet, clientes dizem que a Luxus promete o que não cumpre no mundo real. O site da empresa, que ainda está ativo, oferece 22 modelos de casas de madeira, inclusive opções de luxo, com piscina, suítes e deck. É o caso da Rolls-Royce, que 151 M², duas suítes master, closet e 83,55 M² de deck, totalizando 234,55 M².

Com a frase ‘realize seu sonho’, o perfil do Instagram da Luxus tem 7.498 seguidores e algumas postagens de com entrega de casas. No entanto, é fechado para comentários.

Investigação

A Polícia Civil confirmou à Itatiaia que instaurou inquérito para ‘apurar possível crime de estelionato praticado pela mulher, de 30 anos, e homem, de 40 anos’.

“A investigação encontra-se em andamento com a realização de oitivas e diligências necessárias à elucidação dos fatos”, diz trecho da nota.

“A PCMG esclarece que o crime de estelionato é de ação penal pública condicionada à representação das vítimas, que devem comparecer à delegacia mais próxima de sua residência para propor a devida representação criminal, conforme previsão legal. Nesses casos, é importante que a vítima também reúna e apresente todos os possíveis elementos de prova, como documentos, mensagens via aplicativo e/ou e-mail, para colaborar com o trabalho investigativo”, conclui.

Covid-19

Em mensagem, a proprietária da Luxus garante não ter abandonado a obra e diz ter acordo extrajudicial com os clientes. “Alguns poucos, inclusive, aceitaram e outros (a maioria) não aceitaram. A situação diante da pandemia ficou muito, muito difícil. Muitas empresas fecharam suas portas e nós tentamos de todas as maneiras permanecer. A empresa perdeu lucro nas obras, passou até mesmo investir o que pode, até que chegou um momento que não deu mais. Estamos realmente numa situação muito difícil financeiramente, mas, de maneira nenhuma abandonamos ninguém, simplesmente algumas exceções de clientes que não quiseram acordo, não quiseram entender a situação da empresa”, disse trecho da resposta.

“Pedimos desculpas aos clientes, mas também pedimos empatia, vamos ajustar tudo se Deus quiser!”, completou.

Na resposta, a Luxus destaca ainda ter direitos, assim como clientes. “Não somos golpistas, nosso endereço, telefone e rede social o tempo todo estavam disponíveis para que pudessem nos procurar, mas entraram na Justiça e ainda querem manchar nossa imagem, e nós sabemos os nossos direitos quanto a isso. Isso vale também para todos que difamarem o nome da nossa empresa e nos acusarem de algo que não cometemos”, diz outro trecho.

A reportagem tentou ligar no telefone disponível no site da empresa, mas ninguém atendeu. Nos processos que a Itatiaia teve acesso, oficiais de Justiça não conseguiram localizar os donos para entregar as notificações judiciais.

“Tenho cliente inadimplente que não pagou tudo e, mesmo assim, procurou a Justiça depois de receber a notificação extrajudicial. Temos também clientes que estão com 95% da obra pronta; temos clientes com 80% da obra pronta; temos clientes com 50% da obra pronta e, fora esses, temos clientes com obras entregues, obras que foram bem sucedidas”, disse.

Veja:

Jornalista formado pela Newton Paiva. É repórter da rádio Itatiaia desde 2013, com atuação em todas editorias. Atualmente, está na editoria de cidades.