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Polícia registrou mais de 160 boletins de ocorrência contra clínica odontológica de BH que fechou as portas

Em meio ao desespero de clientes e funcionários deixados na mão, a Delegacia Especializada em Defesa do Consumidor abriu investigação

Arcata fechou as portas na última terça

Desde o fechamento repentino da Clínica Odontológica Arcata, em Belo Horizonte, a Polícia Militar (PM) já registrou, até o início da tarde desta sexta-feira (10), 163 boletins de ocorrências contra a empresa. Só hoje, ao menos sete pessoas procuraram a corporação.

Na noite de terça-feira (7), a empresa enviou um comunicado aos clientes, fornecedores e trabalhadores dizendo que a clínica encerraria as atividades após 14 anos. Em meio ao desespero de clientes e funcionários deixados na mão, a Delegacia Especializada em Defesa do Consumidor abriu investigação.

A corporação orienta que todo consumidor lesado pela empresa deve comparecer na rua Martim de Carvalho, 94, no bairro Santo Agostinho, na região Centro-Sul de BH.

A polícia esclarece que a vítima deve apresentar todos os possíveis elementos de prova, como documentos, mensagens via aplicativo e/ou e-mail, para colaborar com o trabalho investigativo.

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‘Não posso rir em público’

Uma paciente contou à reportagem da Itatiaia que perdeu parte do maxilar em um implante e contraiu uma bactéria que a deixou em estado grave. Hoje, sem os dentes que tanto sonhou e com risco de agravamento do quadro, a mulher diz que a clínica destruiu a vida dela.

“A gente vai para a clínica colocar dentes e acaba perdendo 5 centímetros do maxilar. Vou ter que tirar uma parte do osso da minha perna para colocar no maxilar”, relatou a doceira Carla Alves, que investiu R$20 mil para o procedimento.

Ela contou que contratou o serviço para fazer o implante de quatro dentes. “Mas, como eles demoram cerca de 3 anos para fazer esse procedimento, acabei perdendo mais um dente por forçar a mastigação. Agora, com essa bactéria que eu peguei lá na na clínica perdi mais três”, relatou.

Carla diz viver com vergonha e medo. “Não posso rir em público, fico totalmente constrangida. À noite, na hora que eu vou dormir, eu fico com medo da placa romper. Essa placa pode romper a qualquer momento e, por isso, vou precisar de outra cirurgia para colocar o osso”, disse.

Carla está na Justiça contra a empresa há dois anos. Agora, com esse fechamento da clínica, ela teme não conseguir a reparação dos danos. “Não sei como vai fazer, eu só sei que eu já chorei demais ontem”. finalizou.

Comunicado da clínica

“Encerramos este capítulo da nossa história com a certeza de que fizemos tudo o que estava ao nosso alcance para continuar”, disse no início da semana.

A nota aponta que a odontologia foi uma das atividades econômicas mais atingidas pela crise da provocada pela pandemia de Covid-19: “Para se ter uma ideia, fomos impedidos de exercer nossa atividade durante vários meses, sem que os custos para a manutenção de nossa estrutura ou pessoal fossem interrompidos”, complementou.

Tal situação resultou na queda da arrecadação e, mesmo com a retomada das atividades, a empresa não conseguiu se recuperar.

“Com o retorno gradual das atividades, as imposições de restrições rígidas dos órgãos públicos à nossa atividade, embora necessárias naquela época de incertezas, impossibilitou a equalização das finanças do empreendimento, resultando em uma batalha árdua mas ao final inócua frente a inviabilidade econômica que se apresentou nos anos que se passaram”, informa a nota.

A Itatiaia procurou a Clínica Odontológica Arcata para ter um posicionamento sobre os problemas relatados e, até o momento, não teve retorno.

Enzo Menezes é chefe de reportagem do portal da Itatiaia desde 2022. Mestrando em Comunicação Social na UFMG, fez pós-graduação na Escola do Legislativo da ALMG e jornalismo na Fumec. Foi produtor e coordenador de produção da Record e repórter do R7 e de O Tempo
Formou-se em jornalismo pela PUC Minas e trabalhou como repórter do caderno de Gerais do jornal Estado de Minas. Na Itatiaia, cobre principalmente Cidades, Brasil e Mundo.