Um homem que alimenta a família há décadas com peixes fisgados na Lagoa da Pampulha, cartão-postal de Belo Horizonte, diz não acreditar na poluição das águas. O debate sobre a pesca e o consumo de peixes da lagoa reaparece após a Itatiaia mostrar que uma carpa com de 1 metro foi fisgada recentemente no local.
“Essa água não está contaminada. Se tivesse contaminada, os peixes morria (sic). Meus filhos está tudo criado (sic) comendo peixe daqui. Desde 1986 que pesco aqui e até hoje ninguém morreu, graças a Deus”, disse José do Carmo Oliveira, que divide o trabalho como vigilante e a pescaria. “Tenho quatro filhos e tá (sic) tudo grande, já”, completou.
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Doenças
O professor do Instituto de Ciências e Biologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Ricardo Mota Pinto Coelho, garante que consumir peixes da Lagoa da Pampulha pode causar anemia e problemas no fígado e nos rins.
“A Lagoa da Pampulha, todos nós sabemos, é poluída por esgotos domésticos e poluição industrial. O esgoto, em si, pode carregar animais patógenos, que podem causar infecções. Agora, a poluição industrial pode causar efeitos tóxicos, porque na Lagoa da Pampulha existem metais pesados, como cádmio e o chumbo”, alerta o professor.
Ricardo ressalta que a situação é mais grave quando se consome de porte avantajado, como a carpa gigante fisgada recentemente. “São mais velhos e, portanto, acumulam mais todas essas toxinas”.
A recomendação da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) vai no mesmo sentido, como explica o gerente de Defesa dos Animais da PBH, Leonardo Maciel. “A pesca na Lagoa da Pampulha não é permitida utilizando garatéias e redes. A peça com anzol ainda é tolerada em algumas circunstâncias. Mas nós não recomendamos que haja o consumo desses peixes”, diz o gerente, que reforça o risco mesmo após o peixe ser frito ou cozido.
“As pessoas alegam que se a água tem um certo grau de contaminação a fritura e o cozimento vão retirar essa contaminação. Isso não é uma verdade. A fritura e o cozimento podem retirar alguns agentes infecciosos como bactérias, mas não retira metais pesados. As pessoas podem falar: ‘eu como o peixe da lagoa tem tantos anos e não aconteceu nada’. Esses metais pesados vão se acumulando ao longo da vida. Eles não saem do corpo e, em determinado momento, quando chega a idade, vão começar a vir os problemas. Problema de fígado, problema de rim, problema de anemia”, explica.
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