Donos de papelarias e livrarias em Belo Horizonte relatam que a venda de materiais escolares e livros didáticos está cerca de 20% abaixo da média dos últimos anos, apesar de janeiro ser considerado o mês mais importante para o faturamento deste setor. A instabilidade econômica e a perda do poder de compra da população é apenas uma das razões.
A esperança do setor, agora, é que as vendas se intensifiquem no fim do mês, com os pais que deixaram para fazer as compras escolares de última hora. É o que explica Cláudia Batista, dona de duas papelarias na região Centro-Sul de BH, que afirma que nem adotando promoções e descontos de 15% para colégios parceiros as vendas aumentaram.
“Nós temos notado que as vendas estão bem aquém dos anos anteriores, cerca de 20% a menos. Eu acho que a população está sem dinheiro e a estabilidade econômica está se agravando. Mas os pais sempre deixam pra última hora e nós estamos esperando o final de janeiro”.
Uma nova tendência que vem diminuindo o lucro das papelarias e livrarias é a refilação dos livros didáticos, uma forma de tornar um livro usado comprado pelos pais em seminovo. Após comprar o livro usado nas mãos de outro aluno por, pelo menos, metade do preço do original, os pais levam o livro para a papelaria que “renova” o material.
“Essa renovação ela chama refilação de livros. Nós procuramos uma nova opção para também ter o cliente perto, porque as mães e pais estão optando por comprar livros usados. Um livro novo, hoje, que seria R$100, a mãe compra usado por 50% do valor, ou seja, R$50. Ela traz na papelaria e a gente vai refilar o livro pra ela pelo valor de R$5,50”.
Novos negócios ameaçam as papelarias e livrarias
Outro motivo para a baixa de vendas, além da perda de poder de compra da população, são os novos modelos de negócio que “roubam” os clientes das papelarias e livrarias tradicionais. Segundo Rui Mansur, proprietário de uma livraria que tem quase 40 anos de mercado, o que mais atrapalha o negócio é a venda direta das editoras para os pais e mães.
“Os grandes colégios aderiram a esse esquema, dando desconto maior do que nós, livrarias, temos nas distribuidoras. Por incrível que pareça, o editor está dando um desconto maior pros pais do que para nós, livreiros”.
Rui Mansur também reclama das apostilas feitas pelos próprios colégios e vendidas diretamente aos pais. Segundo ele, esta é uma tendência das escolas, o que atrapalha as vendas das livrarias. Com isso, ele acredita que o setor das papelarias e livrarias está com o tempo contato para fechar.
“Tem as apostilas também, porque os colégios, hoje, fazem as apostilas, vendem no colégio, e olha que o preço é mais caro do que os livros didáticos. Este é mais um segmento que a gente perde. A tendência é fechar, a tendência é que muitas livrarias vão fechar”.