“Ela me ligava todos os dias, estava cheia de planos. Ela disse que ia fazer um ‘bolinho de chuva’ para visitá-la esta semana.” Essa foi a fala do pai de Evilyn Priscila dos Santos, de 18 anos, que morreu depois de um acidente durante uma perseguição da polícia aos motociclistas que integram o ‘rolezinho do grau’. Ela estava na garupa do marido, João Vitor Martins Montes, de 21, que também faleceu.
O velório, que ocorre na Igreja Pentecostal Escolhidos De Deus, no bairro Jardim Vitória, foi tomado pelo sentimento de revolta dos amigos e familiares. “A gente não vai parar enquanto não houver justiça. Eles (os policiais) foram negligentes e vão ter que responder de alguma forma. A gente confia na Corregedoria para que (a punição) possa servir de exemplo para que não aconteça de novo”, disse o pai.
O enterro está marcado para às 15h30, no Cemitério da Paz, no bairro Caiçara, na Região Noroeste. Motociclistas, que conheciam o casal, vão sair no cortejo até o velório.
Nesse sexta-feira (16), o “rolezinho” foi alvo de uma operação policial, com o objetivo de combater a prática do “grau”. Certa hora, começou uma perseguição, e uma das motocicletas seguidas pela Polícia Militar era de João Vitor. A família dele alega, inclusive, que ele não estava fazendo “grau”.
“Teve um evento dos motoqueiros, mas o João Vitor não estava, eu tenho vídeos para provar que estava comigo na hora”, disse a tia de João, Michele Lima. Ela foi uma das últimas pessoas que encontrou o casal. “Estavam rindo, estavam felizes. Evelyn, cheia de vida, brincou comigo. Eu não vou esquecer do sorriso dela. E, meia hora depois, recebo a informação de que estão mortos atropelados pela polícia? Isso é revoltante”.
Segundo a família, João e Evilyn fugiram da polícia por medo de terem o veículo apreendido. Michele disse que o casal fazia autoescola.
“Eles não estavam roubando, eles não estavam fazendo nada de errado. Simplesmente, não tinham carteira com habilitação, ficaram com medo e fugiram. Nada justifica eles terem jogado a viatura em cima deles”, relatou o pai da jovem.
O jovem perdeu o controle da direção, bateu em umas betoneiras, e acabou arrastado por uma das viaturas policiais. O corpo dele só foi localizado uma hora depois, quando a PM foi acionada para voltar ao local.
Evilyn, por sua vez, não foi arrastada, mas ficou ferida e chegou a ser socorrida ao hospital Risoleta Neves, na região Norte de BH. Ela não resistiu aos ferimentos, e teve a morte confirmada ao longo desse sábado.
Os planos do casal
Evilyn completaria 19 anos no próximo dia 25 de dezembro. A família organizava uma festa surpresa. “Ela estava trabalhando em dois empregos e contando dinheiro para comprar uma moto. Ela gostava muito de moto. Nunca esteve envolvida em nada ilícito. Era uma jovem de 19 anos que gostava de curtir a vida”, lamentou o pai.
Já João Vitor trabalhava com carteira assinada como servente em uma obra durante o dia e, à noite, ele trabalhava fazendo entrega. “Os dois estavam cheios de planos, montando a casinha deles”, disse Michele.
A tia ainda acusa a polícia de tentar “incriminar” João usando como argumento o fato que o jovem já tinha passagem. “Como se isso abonasse e como se uma pessoa que tem passagem não pudesse se regenerar, como se a solução fosse a pena de morte. Ele tinha duas passagens como o menor infrator e, depois que ele fez 18 anos, não teve mais”, finalizou.
A Polícia Militar se manifestou sobre o acontecido. Leia o comunicado na íntegra:
“A Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) esclarece que, na noite dessa sexta-feira, 16.12, durante operação no Anel Rodoviário para coibir o chamado ‘Rolezinho do Grau’, após xingarem e provocarem os militares, motociclistas fugiram das guarnições policiais pelas ruas dos bairros, cometendo imprudência e direção perigosa. Posteriormente, a instituição foi acionada para atendimento de acidente de trânsito. Chegando ao local, os militares verificaram tratar-se de motociclista que provavelmente havia fugido da perseguição policial e que veio à óbito no local do acidente. Uma mulher foi socorrida e encaminhada ao hospital.
A corporação esclarece, ainda, que qualquer denúncia sobre atuação policial militar será devidamente apurada”.
(Com informações de Felipe Quintella)