O Hospital da Mulher e Maternidade Santa Fé, em Belo Horizonte, está com as portas fechadas. Com isso, trabalhadores denunciam que estão com salários e FGTS atrasados. A decisão de interromper as atividades foi tomada depois que o grupo Pró-Saúde, responsável pela administração da unidade, comunicou o encerramento da gestão nessa quinta-feira (1°). Na manhã desta sexta-feira (2) os trabalhadores protestaram na porta da unidade hospitalar.
Em nota, a empresa informou que o desligamento aconteceu porque não houve a sinergia necessária entre a entidade filantrópica e o conselho diretor da maternidade. Ainda, por meio de nota, o grupo garantiu que de acordo com o contrato de gestão assinado pelas partes os 169 profissionais devem continuar empregados.
A diretora do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde de BH e Região (SINDESS), Adinalva Alves, explica que os salários estão atrasados há cerca de três meses.
“Então, foi há três meses mais ou menos que nós fomos procurados pelos trabalhadores pelo atraso no pagamento e pela divisão do pagamento em quatro vezes, e o corte do tíquete alimentação. Desde então, a gente vem correndo atrás pra ver como fica a situação. Chamamos o hospital e a Pró-Saúde várias vezes em reunião, até na Delegacia Regional do Trabalho. O que foi combinado na delegacia eles não cumpriram.”
A Itatiaia entrou em contato com a Maternidade Santa Fé que reconheceu, por meio de nota (leia abaixo), que há problemas contratuais e financeiros que serão discutidos na justiça.
Entenda
Em setembro de 2021 a direção médica fechou a parceria com a Pró-Saúde com o objetivo de reverter a crise financeira que comprometia a sustentabilidade da maternidade Santa Fé. Na semana passada, funcionários organizaram um protesto na porta do hospital. Em setembro de 2021 a maternidade foi arrendada.
A Maternidade Santa Fé foi fundada no dia 6 de novembro de 1957. Em 1973 inaugurou a sede no bairro Santa Teresa, região leste de BH. Atualmente, a maternidade está localizada no bairro Horto. Com mais de 200 mil partos realizados a maternidade é parte integrante da história da capital mineira.
Nota
A parceria com a Maternidade Santa Fé foi firmada com base no objetivo comum que unia a Pró-Saúde e os médicos proprietários do hospital.
Esse objetivo estava pautado pelo desafio de promover o equilíbrio financeiro, modernizar os processos assistenciais e de hotelaria e ampliar os serviços, transformando a maternidade em um centro avançado para o atendimento integral da mulher.
Não seria uma tarefa fácil diante das dificuldades — a Maternidade corria um sério risco de fechar as portas e ainda enfrentava o rescaldo de uma crise de imagem amplamente noticiada pela imprensa nacional.
Mas acreditamos que, para todos os desafios, há um caminho, uma solução.
Porém, os próximos passos dessa parceira nos surpreenderam.
Assumimos a gestão da Maternidade Santa Fé em setembro de 2021, já com um enorme déficit de operação e, à época, com o descredenciamento junto às operadoras de planos de saúde, justificado à época pelo baixo índice de qualidade assistencial, que impedia a maternidade de receber pacientes conveniados.
Além disso, o ponto central da parceira dependia do empenho e do compromisso de médicos manter e ampliar a quantidade de clientes para a maternidade.
Para nossa surpresa, médicos da maternidade passaram a sabotar esse compromisso. Ou seja: a maior parte dos donos do hospital passou a encaminhar e atender pacientes em hospitais concorrentes. O corpo clínico também se recusou a atender pacientes oriundos de operadoras de planos de saúde contratualizadas pela Pró-Saúde.
Ao longo da gestão, várias cláusulas contratuais também não foram cumpridas, entre as quais as de número 6, 9 e 11, relativas ao não pagamento de débitos anteriores ao contrato, taxa de gestão, repasses de operadoras e verbas rescisórias quando da transferência de funcionários para o nosso quadro laboral.
Também havia uma forte resistência dos médicos em modernizar o atendimento e processos assistenciais, em detrimento de um entendimento ultrapassado e completamente desconectado com o padrão de mercado. Tarefas básicas, como por exemplo a definição de um Plano de Parto, levou seis meses para acontecer.
Assim, diante de um cenário totalmente adverso, do qual faz parte a promoção de outras ações contraditórias do quadro societário da Maternidade Santa Fé, decidimos encerrar o contrato de gestão no dia 30/11.
Conforme prevê o contrato assinado pelas partes, os 169 profissionais deverão continuar com seus vínculos empregatícios diretamente com o conselho mantenedor da Maternidade, a partir de dezembro 2022.
As obrigações trabalhistas serão cumpridas. A primeira parcela do 13º salário, inclusive, foi paga no dia 30/11. Vale transporte e convênio médico estão em dia.
Outras questões contratuais e de responsabilidade financeira entre a Pró-Saúde e Maternidade Santa Fé, serão oportunamente discutidas no âmbito judicial.
Os principais órgãos e entidades interessadas na parceria foram devidamente comunicadas.
Lamentamos o desfecho e as mensagens que circulam em nome da direção da Maternidade, que são inverdades que não encontram qualquer lastro na realidade dos fatos.
Com informações da repórter Aline Neves.