Ouvindo...

Polícia Civil abre inquérito para apurar denúncia de assédio sexual contra professor da PUC

Advogada das estudantes diz que a ação não tem um foco meramente punitivo, que ela é também ‘pedagógica’ e que pode ajudar a sociedade a ter mais respeito mútuo

Estudantes protestam na porta da PUC contra assédio dos professores

A Polícia Civil instaurou inquérito para apurar denúncia de suposto assédio sexual que teria sido cometido por um professor do Curso de Medicina Veterinária da PUC Betim. Pelo menos três alunas registraram Boletins de Ocorrência contra três professores da mesma universidade na Delegacia Especializada em Investigação à Violência Sexual, de acordo com a advogada Bárbara Mascarenhas. Elas acusam os docentes de importunação ou assédio sexual por meio de toques em partes do corpo durante as aulas presenciais, mensagens de conteúdo inadequado e até mesmo insinuações de que poderiam ser favorecidas em estágios ou no desempenho das disciplinas, caso concordassem com “favores sexuais’.

Bárbara divulgou, ontem, uma Carta Aberta aos Conselhos Federal e Regional de Medicina Veterinária por meio da qual “tornam público à sociedade brasileira a sua indignação diante dos assédios sofridos no espaço de uma das maiores universidades do país”. Em outro trecho da carta, exigem que o Conselho “implemente medidas imediatas e urgentes para garantir a segurança, o respeito e o tratamento digno a todas as médicas e acadêmicas da área da veterinária”.

O presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV), Bruno Divino, disse que fez contato com a reitoria da PUC-MG e foi informado que a direção instaurou uma Comissão Investigativa para apurar os fatos, com prazo curto para conclusão e que, em breve, a Universidade irá divulgar um relatório a respeito do caso. Bruno lembrou que o CRMV tem, entre seus inscritos, mais médicas-veterinárias do que médicos-veterinários e que repudia qualquer tipo de assédio moral ou sexual. “Sempre lembramos às nossas colegas, médicas, que se mantenham vigilantes para identificar qualquer situação de abuso sexual ou moral e que, se for caso, reúnam as provas para que o agressor seja cobrado e punido, tanto no âmbito dos Conselhos Regionais ou Federais, como, em outras esferas”.

Ação não tem foco apenas punitivo

Bárbara Mascarenhas ressaltou que o foco da ação não tem um caráter meramente punitivo, mas também pedagógico e cultural, uma vez que é da maior importância rever a forma como a sociedade lida com a mulher e também o homem ou homossexual no ambiente acadêmico, social ou profissional. “Nossa questão não é de gênero e sim de respeito pelo ser humano de um modo geral”, ressaltou. Na avaliação dela, as mulheres acabam sendo alvos mais fáceis pela cultura machista vigente, por ainda serem vistas, muitas vezes, como meros objetos de satisfação sexual. “E, no caso das médicas-veterinárias, essa queixa se torna ainda mais pujante porque a prática profissional exige que elas, muitas vezes, tenham que se deslocar tarde da noite para uma fazenda para atender um animal, o que as deixa numa situação de maior vulnerabilidade”.

Bárbara acredita que o episódio seja uma oportunidade de reflexão para os todos os agentes envolvidos: universidade, corpo docente e até das próprias alunas. “As redes sociais e os aplicativos de mensagens nos proporcionaram uma proximidade e uma intimidade que, para a qual, talvez não estejamos preparados. É preciso rever a forma como estamos lidando com isso e, para tanto, é fundamental legitimar a fala dessas meninas, os constrangimentos pelos quais têm sido obrigadas a passar e a dor de não serem “ouvidas” ou “acolhidas” pela instituição que escolheram para se formarem profissionalmente”.

Reunião de Acolhimento

A advogada informou que amanhã (26) haverá uma reunião com as estudantes e suas famílias com o objetivo de explicar como será feita a condução do processo e de encorajar aquelas meninas que ainda se sentem intimidadas em denunciar. “Existem muitos relatos de assédio e desrespeito, mas muitas temem represálias e não se sentem seguras para fazerem formalmente uma denúncia. Por uma sociedade mais justa, tanto para homens, como para mulheres. É preciso romper esse silêncio. Crescer, evoluir, dói”.

A Polícia Civil de Minas Gerais informou que “por se tratar de crime contra a dignidade sexual, a investigação tramita em sigilo”. Procurada pela reportagem da Itatiaia, a PUC respondeu que:“Desde que tomou conhecimento a respeito do assunto, vem acompanhando o caso, tomando todas as providências cabíveis e está aguardando o desenrolar das medidas adotadas”.

Entenda melhor:

https://www.itatiaia.com.br/editorias/cidades/2022/11/17/professor-da-puc-e-denunciado-por-assedio-sexual

Maria Teresa Leal é jornalista, pós-graduada em Gestão Estratégica da Comunicação pela PUC Minas. Trabalhou nos jornais ‘Hoje em Dia’ e ‘O Tempo’ e foi analista de comunicação na Federação da Agricultura e Pecuária de MG.