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Festival Faísca é cancelado e produção acusa BDMG Cultural de ‘quebra de acordo’

O evento estava marcado para começar nesta sexta (11) no BDMG Cultural, que fica Rua Bernardo Guimarães, no bairro de Lourdes

Na imagem a 24ª edição. Este ano, o festival contaria com 66 expositores

A 25ª edição da Faísca Festival de Publicações Experimentais, que iria começar nesta sexta-feira (11), no Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) Cultural, em Belo Horizonte, foi cancelada. De um lado, a produção alega quebra de acordo por parte do banco. Com isso, a cidade e a cena perdem um projeto de R$ 160 mil. Do outro, o BDMG Cultural diz que “propôs adiar o Festival, oferecendo três novas datas, duas ainda este ano e uma outra em 2023”.

“Esta seria a maior das edições já realizadas. A expectativa era também a melhor possível. Teríamos noite de abertura e quatro dias de festival e diversas atividades para além da feira de publicações experimentais, que contaria com 66 expositores, de várias partes do país, entre artistas, designers, microeditoras, impressores”, explicou a gestora cultural Helen Murta, de 37 anos.

O evento ocuparia o BDMG Cultural, que fica rua Bernardo Guimarães, no bairro de Lourdes, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, e contava com mostras, laboratórios de criação, exibições de documentário, performances, intervenções e DJs na programação.

“Nossa projeção para o evento inteiro era um total de R$160 mil, diretamente para artistas e publicadores independentes”, disse.

Tratativa com patrocinador

Em abril, segundo a gestora cultural, o BDMG Cultural fez contato com a Editora Pulo, formada por ela e por outro artista gráfico, para uma conversa sobre possibilidades de realização do evento.

“Como fomos parceiros do instituto nas 24 edições realizadas até então, ficamos satisfeitos por nos acionarem em um momento em que não estávamos planejando fazer nenhuma edição”, explicou a gestora cultural.

Após várias reuniões, o instituto aprovou e deu aval para que o projeto fosse executado. “Naquele momento, no valor de patrocínio de R$74 mil. Com essa confirmação, para ampliar ainda mais o festival, elaboramos e aprovamos projeto pela Empresa Municipal de Turismo de Belo Horizonte (Belotur), no valor de R$60 mil”, explicou.

Helen contou que, em determinado momento, as coisas começaram a ficar ‘estranhas’. “A formalização jurídica, prevista para ser assinada 60 dias antes do evento, começou a atrasar e cada vez nos passavam um motivo diferente, e isso foi se prolongando.”

“Questionados, várias vezes, em relação aos constantes atrasos e informações contraditórias, e como isso estava atrapalhando a produção do evento, tanto em relação à coordenação e ao trabalho da equipe, como na divulgação e desenvolvimento de ações do festival, e informados da nossa enorme preocupação com valores de passagem, hospedagem e outros compromissos, que só aumentavam, enquanto o prazo diminuía, firmaram um patrocínio maior, no valor de R$100 mil”, acrescentou.

No dia 26 de outubro, os gestores culturais foram convocados para uma reunião presencial de urgência. “Lá, simplesmente, nos informaram que não providenciaram a assinatura necessária para a realização do patrocínio. Naquele dia não apresentaram nenhuma solução para o problema relatado, só jogaram no nosso colo o cancelamento do patrocínio.”

Segundo Helen, no dia 31, o BDMG voltou atrás e comunicou que o acordo de patrocínio seria cumprido. “Corremos com tudo o que dava pra fazer e, ainda assim, não apareceu contrato, somente uma vaga previsão de data de assinatura, que poderia ser, conforme nos informaram, na própria semana do festival.”

No dia 1º, os gestores culturais pediram o “Auto de Vistoria” do Corpo de Bombeiros. “Para nossa surpresa, nos informaram que o BDMG Cultural não tinha nem AVCB válido. Ali foi a gota d'água”, relatou.

E agora?

“As perdas são gigantes. Não tivemos festival e, com isso, foi jogado fora o trabalho de vários profissionais da cultura, além de envolver dezenas de participantes, que prepararam ações, publicações pra lançar, deixaram de marcar outros compromissos de trabalho, providenciaram viagens, enfim, se prepararam para estar no evento”, lamentou. A produção solicitou, inclusive, junto à Belotur, a devolução integral dos recursos.

De acordo com a Helen, estão sem receber: produtores, artistas gráficos, um design, a empresa contratada para o projeto cenográfico e videomakers, além de agência de turismo para a vinda dos convidados. Outros prestadores de serviço ainda tinham expectativa de serem contratados, como contador, fornecedores, assistentes de produção, técnicos, seguranças, entre outros.

“A expectativa seria a que o BDMG Cultural cumprisse com a devida responsabilização, se retratando e restituindo todos os danos causados a nós e a terceiros”, acrescentou.

O que diz o BDMG

O BDMG Cultural apresentou outra versão dos fatos. Conforme nota encaminhada à Itatiaia, o BDMG disse que conversou com a Editora Pulo no início deste ano e que sugeriu adiar a data do Festival. Isso porque, conforme o BDMG, há restrições “impostas pela legislação aos órgãos públicos em ano eleitoral” e também não iria dar tempo do contrato ser assinado antes da data prevista para o evento.

Ainda em nota, o BDMG explicou que a decisão pelo cancelamento foi unilateral e partiu dos próprios organizadores. Confira a nota na íntegra.

“O BDMG Cultural informa que, no início deste ano, foi procurado pela Editora Pulo para retomar as conversas em torno da realização do Festival Faísca.

Desde que foi criado há sete anos, 18 das 24 edições foram realizadas com o apoio do Instituto. Por ser parceiro do Festival, o BDMG Cultural se manteve aberto ao diálogo e disposto a realizar o patrocínio.

No entanto, considerando as restrições impostas pela legislação aos órgãos públicos em ano eleitoral e percebendo que o contrato não teria como ser assinado antes da data prevista para a realização do evento, o BDMG Cultural propôs adiar o Festival, oferecendo três novas datas, duas ainda este ano e uma outra em 2023. Em decisão unilateral, os organizadores optaram pelo cancelamento.

Mesmo assim, o Instituto se colocou à disposição, por mais de uma vez, para conversar presencialmente, mas os convites não foram aceitos.

O BDMG Cultural reitera o seu compromisso com a transparência, com o diálogo permanente e com o fomento à cultura mineira, em suas mais diversas manifestações.

Programação

Em 2022, depois do período mais crítico da pandemia, o BDMG Cultural retomou a programação de eventos e foi palco de quatro exposições para visitação presencial e virtual, além de realizar o 21º Prêmio BDMG Instrumental, um dos principais no campo da música instrumental do país.

O Instituto destinou ainda R$350 mil a patrocínios de fomento à arte e cultura em várias regiões de Minas Gerais, realizou a 3ª edição do LAB Cultural, único programa de residência artística online multilinguagem em atividade no Brasil e está presente em diversas atividades do Circuito Liberdade”.

Formou-se em jornalismo pela PUC Minas e trabalhou como repórter do caderno de Gerais do jornal Estado de Minas. Na Itatiaia, cobre principalmente Cidades, Brasil e Mundo.