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Perfil: Belo Horror

A capital mineira reivindica o direito de ter a mobilidade urbana como prioridade

Os mártires, São Cosme e São Damião, eram irmãos gêmeos. Foram trazidos para o Brasil em 1530 por Duarte Coelho Pereira e, hoje, são invocados para afastar epidemias. Já apelamos aos dois santos, agora suplicamos ao prefeito Álvaro Damião. Prefeito, sim senhor! Pode estar em exercício, mas rima, Damião tem a caneta na mão. Prezado prefeito Álvaro Damião, o senhor tinha apenas dois anos de idade, mas certamente conhece Beto Guedes que, em 1972, lançou a linda canção, na verdade, um rock progressivo, “Belo Horror”, onde, brincando com o nome de Belo Horizonte, em alguns versos, foi profético: “Belo horizonte, meu segredo. Mato horizontes. Céu sem dono”.

Belo Horror foi o caos em que Belo Horizonte se transformou, com esta epidemia de desordem na mobilidade urbana. Belo Horror no Paraíso, as regiões Vila da Serra, em Nova Lima, e Belvedere, em Belo Horizonte.

Todos os dias, moradores e vítimas que precisam trafegar nesses chiques bairros - onde mora o maior PIB do Brasil , além das centenas de moradores de Rio Acima, Nova Lima e Raposos - enfrentam verdadeiro calvário. São trabalhadores tentando chegar ao serviço, pais levando e buscando os filhos na escola, pessoas doentes a caminho de hospitais, todos fulminados, afetados por um trânsito enlouquecedor, estúpido, doente e cruel.

Daí o projeto da Avenida da Linha Férrea ser mais que uma necessidade urgente, um meio de sobrevivência. Ele trará mobilidade digna sem comprometer a essência ambiental da área, resolvendo de vez esse problema crônico. Aliás, vai casar moradia, mobilidade, trabalho e meio ambiente, em longa lua de mel.

Prefeito Álvaro Damião, afasta de nós essa epidemia antes que vire pandemia. Cuidado com as suspeitas e “amigas” opiniões egoístas e egocêntricas, que se veem donas de bairros e regiões. Por favor, aprove, já, as obras como também já estão postas e transparentes. Priorize o bem-estar e o sacro direito de ir e vir de todos os cidadãos.

A História e a experiência são as melhores professoras e os melhores exemplos. Não corra o risco de, no lugar de um legado, nos deixar uma herança maldita como aquele prefeito que aprovou a avenida Raja Gabaglia, o Inferno como conhecemos hoje. Faça o correto e fará muito!

Que esse caos sirva de alerta aos que criticam a obra, muitas vezes visando interesses próprios, tenebrosas transações. O medo da desvalorização dos imóveis de luxo é apenas uma desculpa ridícula porque a Avenida da Linha Férrea é exatamente o contrário. Civilidade! Melhores infraestrutura e mobilidade significam maior valorização. É hora de olhar além do próprio umbigo e pensar na coletividade.

Belo Horizonte não merece a fama de pequenez, de “obras em canteiros no lugar de canteiro de obras”. Por falar nisso, qual foi a grande última obra que tivemos em Belo Horizonte ou região metropolitana? A Linha Verde? Onde está nosso “metrô”, entre aspas, porque o que temos não é metrô, é trem de superfície. Metrô é uma “cidade” embaixo da cidade; é velocidade, conforto e qualidade de vida. Nosso “anel rodoviário era de vidro e se quebrou”; nossas rodovias, uma vergonha; ciclovias, uma piada. Na sexta capital do Brasil, o projeto da Linha Férrea é uma dessas soluções que não pode ser ignorada. Remédio para uma situação insustentável que precisa ser abordada com seriedade. Seriedade rimando com mobilidade urbana de forma integrada e sustentável. Asfalto e verde em perfeita harmonia. Planejamento ouvindo a voz das comunidades. Enfim, a Cidade Jardim vencendo o Belo Horror.

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humberto.filho@cidadeconecta.com