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Degustatividade: Esther Rooftop, em Sampa

Benoit Mathurin foca em vinhos brasileiros para harmonizar com seus pratos de alma francesa

Wonton de frango com camarão

No 11° andar de um dos primeiros prédios modernistas de São Paulo, funciona, desde 2016, o restaurante comandado pelo chef francês Benoit Mathurin. As mesas da varanda com vista para a Praça da República são as mais disputadas, bem agradáveis para um fim de tarde.

Desde a adolescência, Benoit trabalhou em refinados restaurantes de Paris como o estrelado Lasserre e, ao longo de seus 30 anos de carreira, atuou em eventos ao lado de chefs aclamados como Alain Passard, Gérald Passedat e Bertrand Grebaut. Sua cozinha tem base francesa com toques brasileiros e orientais. A carta de vinhos é 100% nacional, sendo boa parte natural e de mínima intervenção de vinícolas referências como Arte da Vinha, Vanessa Medin e Penzo. São cerca de 60 rótulos a partir de R$130 até R$299, sendo dez opções servidas em taças de 150ml (R$39 a R$45).

Bem refrescante para um dia de verão, o crudo de atum (R$63) é rodeado por um molho a base de leite de coco e capim limão, decorado com lâminas de rabanete e folhas de beterraba. Típico da culinária chinesa, o wonton é uma trouxinha frita, feita de massa fina e recheio suculento de camarão e frango (R$67). Caem bem com o Zanella Back Âmbar 2022 (R$181), um Sauvignon Blanc de vinhedos de altitude, cultivados a 1300 metros na serra Catarinense, Vale do Boava – São Joaquim/SC. Vinificado com leveduras indígenas, macera 50 dias com as cascas e repousa 12 meses em ânforas de barro.

Em forma de petisco, o croissant serve de base para o delicioso creme de cebola e cogumelos. Por cima entra um mix de folhas frescas regadas por molho rôti, pesto de salsinha e lascas de parmesão (R$68). Harmoniza com um branco estruturado, assim como um tinto leve da uva Pinot Noir. Apreciamos com o Wally Pinot Noir 2023 (R$219) a partir de uvas plantadas, vinificadas e engarrafadas em Canguçu, Rio Grande do Sul, sem sulfito, sem intervenção e sem filtro.

Ovos e ovas maionese (R$56) é um clássico da gastronomia de bistrot na França, finalizado com ovas de peixe, croutons e ervas. De difícil harmonização, ficou perfeito com o elegante espumante Mademoiselle Lili Laranja 2022 (R$299). O blend de Trebbiano Toscano (90%) e Chardonnay (10%) é uma homenagem à filha de Benoit Mathurin, que idealizou o vinho em parceria com os sócios da vinícola Lá Grande Bellezza, localizada em Pinto Bandeira, Rio Grande do Sul.

Não poderia deixar de mencionar que o vinho mineiro Maria Maria Syrah faz parte da criteriosa seleção do chef.

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Magmatic Chardonnay 2021

Eduardo Zenker vem da primeira geração de vinhateiros que ousaram vinificar de maneira natural em terras brasileiras. Autodidata, o agricultor estudou e testou mais de 30 castas de uvas que resultaram em mais de 50 tipos de vinhos, registrados em seu livro, “Realinversa: o Memorial da Arte da Vinha”, publicado em 2018. Destaca ainda os principais pontos da longa caminhada no mundo do vinho de baixa intervenção. Junto com sua esposa Gabriela Schäfer fundaram a Arte da Vinha, que passou por um período turbulento, superado pela paixão em fazer vinhos autênticos e fidedignos aos preceitos da natureza. A vinícola possui 1,2 hectare de vinhedos próprios em Carlos Barbosa na Serra Gaúcha e trabalha em grande parte com uvas de parceiros. Colhida em Monte Alegre dos Campos/RS a Chardonnay fermentado por 20 meses, diretamente em barricas usadas de carvalho francês antes de dar origem ao Magmatic 2022 (R$220), rótulo natural de destaque na carta do Esther Rooftop. Foram produzidas apenas 530 garrafas, já esgotadas com o produtor. Na vindima de 2023 foram lançadas apenas 250 garrafas, ainda disponíveis no site artedavinha.com.br a R$245.

Magmatic Chardonnay 2021

Quincho

Em busca de restaurantes com pratos autorais focados em vegetais, não pude deixar de conhecer o Quincho, eleito o melhor Restaurante Vegetariano pelo Prêmio SP Gastronomia 2024, concedido pelos jornais O Globo e Valor Econômico e da Rádio CBN. Adorei começar pela seleção de acepipes a serem escolhidas quatro opções para compor uma porção de 200 gr (R$52). Claro que optei pelo escabeche de jiló, ao lado da berinjela japonesa ao molho de missô e gengibre, cogumelo shimeji confitado com nozes pecan e coração de alcachofra em conserva de azeite. Além da queda que tenho por jiló, milho é mais uma iguaria que me cativa. Os outros dois pratos que escolhi retratam o milho deliciosamente de formas diferentes, no bolinho cremoso com queijo taleggio (R$34) e na canjiquinha de milho crioulo com queijo pecorino, ora pro nobis, bagos de milho verde assado e ovo perfeito (R$82). A chef Mari Sciotti cativa fornecedores locais e prima por ingredientes de qualidade.

Canjiquinha de milho crioulo do Quincho

Mata Café by Bachour

Inaugurado recentemente na badalada Rua Oscar Freire, em São Paulo, o Mata Café by Bachour irá funcionar apenas por seis meses nesse endereço. O cardápio tem assinatura do porto-riquenho Antonio Bachour, eleito melhor chef confeiteiro em 2018, 2019 e 2022. Esse ano Bachour recebeu o prêmio Pastry Innovation Award pela La Liste. Seus lindíssimos e elegantes doces enfeitam a vitrine, declamada com toda simpatia pela Lili. Em forma de laranja, uma fina casca de chocolate branco imita a textura da fruta. Ao ser cortada, revela camadas de mousse de baunilha com laranja, geleia e crémeux de tangerina e bolo de laranja (R$55). Desmancha como nuvem na boca. Leveza também marca os croissants em diversos formatos. O Bow Tie Morango e Mascarpone (R$42) apresenta-se em um belíssimo laço e o de Pistache (R$46) vem no clássico modelo com listras verdes, foi o meu preferido. A água sem gás é cortesia da casa.


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Léa Araujo é criadora do Degustatividade.com.br, onde compartilha experiências gastronômicas desde 2009. Colunista de gastronomia do Cidade Conecta há nove anos, participa do júri de vários concursos.