O Carnaval de BH entrou, nos últimos anos, na lista dos mais procurados destinos do país para quem deseja curtir a festa. Este ano, estimativa é de que a capital mineira conte com 6 milhões de foliões, um recorde de público para a cidade. Mas não foi sempre assim. Por muito tempo, eram pouquíssimas as atrações carnavalescas, e menos ainda são os movimentos que perduraram, fazendo parte de décadas da trajetória da folia momesca em BH. A Banda Mole é um deles. Resistência no movimento de rua, o bloco completa 50 anos, com cortejo no próximo sábado (22), prometendo levar mais de 70 mil pessoas em oito horas de festas para as ruas do Centro de BH.
O presidente da Banda Mole, Luiz Mário Jacaré Ladeira, conhecido como Jacaré, de 84 anos, lembra que, na década de 1950, o Carnaval da cidade era marcado por corsos na Praça Sete, com desfile de carros ornamentados, e por bailes, como os do Automóvel Clube e do Minas Tênis. Naquela época, as fantasias mais comuns variavam entre pirata, marinheiro e colombina — um pouco diferente do que se vê hoje em dia.
Jacaré explica que as festas dos clubes deixaram de ser populares na década 1970 e, em 1975, com o fim do bloco carnavalesco “Leões da Lagoinha”, os foliões do bloco extinto se juntaram com os filhos e netos das tradicionais famílias do bairro Lagoinha e fundaram a “República Independente da Banda Mole”. “Quando o cara era ‘bobão’ a gente chamava de ‘bunda mole’. Então, fizemos o trocadilho. Criamos a ‘Banda Mole’ para mostrar que o mineiro também gosta de Carnaval”, lembrou. O primeiro desfile contou com cerca de 10 músicos de chão e aproximadamente 100 pessoas.
Banda Mole surgiu de um grupo de amigos que queriam reviver o carnaval em Belo Horizonte
Entre 1980 e 1990, a Banda Mole se tornou popular e caiu no gosto de milhares de belo-horizontinos. “Já trouxemos grandes nomes da música brasileira para os nossos desfiles, como Luiz Caldas e Jota Quest. Em 1996, quando a gente trouxe o Ara Ketu, tivemos o auge: colocamos 500 mil pessoas na rua”, conta.
Lembrando que a festa acontece na semana que antecede o Carnaval, já que, quando tudo começou, grande parte — para não dizer todo mundo — ia curtir a festa em outros lugares por falta de programação. E, mesmo sem a tradição de ir às ruas, arrastou meio milhão de amantes da farra.
Jacaré relembra que a Banda Mole planejou trazer os Mamonas Assassinas, mas o acidente que matou os integrantes ocorreu um mês antes do evento, em 2 de março de 1996.
O presidente ri ao lembrar dos tempos em que casamentos foram cancelados em uma tradicional Igreja Católica devido à farra da Banda Mole ao passar na porta. “Quando a gente subia a rua da Bahia e tinha casamento na Igreja de Lourdes, dezenas de pessoas iam ‘agarrar’ o noivo, a noiva, os padrinhos… Os padres decidiram não celebrar casamentos no sábado em que Banda Mole passava”, conta.
O primeiro desfile da Banda Mole contou com cerca de 10 músicos de chão e aproximadamente 100 pessoas
Jacaré conta que viu o Carnaval de BH ''morrer’’ e “renascer” no formato que conhecemos hoje. Foi em 2009, quando o então prefeito da cidade, Márcio Lacerda, proibiu a utilização da Praça da Estação, no Centro da capital, como espaço para festas. Em protesto, manifestantes ocuparam e criaram a “Praia da Estação”, marcando volta da folia na capital, que este ano contará com mais 600 cortejos programados.
“Não fomos responsáveis pela volta do Carnaval, mas contribuímos bastante”, contou Jacaré. E continuam contribuindo!
Está marcada para o próximo sábado (22), das 14h às 22h, a 50ª edição, que promete levar milhares de foliões para a Avenida Afonso Pena, entre as ruas da Bahia e Guajajaras. Os shows desta edição serão de Akatu, Toninho Geraes, Vira e Mexe, Zé da Guiomar convidando Giselle Couto e Manu Dias, Júlia Rocha, entre outros. A organização do evento promete uma surpresa para celebrar o meio século de trajetória. Veja a programação:
Palco Samba
14h00 – DJ Paula Mendes - No início do evento e nos intervalos entre as atrações
14h20 às 15h20 - Zé da Guiomar convida Giselle Couto e Manu Dias
15h40 às 17h10 - Júlia Rocha convida Fran Januário
17h40 às 19h10 – Bloquinho Banda Mole
19h40 às 21h40 – Toninho Geraes
Trio 1 (Entre Rua da Bahia e Álvares Cabral)
14h00 às 15h00 e nos intervalos entre as atrações– DJ Vini Brown
15h00 às 17h00 – Banda Meu Rei (Axé)
17h30 às 19h30 – Akatu (Pagode)
20h00 às 21h50 – Baile do Maguá (Brasilidades)
Trio 2 (Entre Rua dos Guajajaras e Álvares Cabral)
14h00 às 15h00 e nos intervalos entre as atrações– DJ Ed da @bsurda
15h00 às 17h00 – Trem dos Onze (Pagode)
17h30 às 19h30 – Baile do Kin (Funk)
20h00 às 21h50– Vira e Mexe (Axé)
Cortejo
17h10 – Desfile da Diretoria da Banda Mole com a Charanga do Bororó
Serviço
Data: 22 de fevereiro, sábado
Horário: 14h às 22h
Local: Avenida Afonso Pena, entre as Ruas Bahia e Guajajaras
Entrada: gratuita