A Faculdade de Saúde Pública (FSP) da Universidade de São Paulo (USP) divulgou os primeiros resultados do Inquérito de Saúde no Município de São Paulo (Isa Capital 2024), levantamento realizado em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS).
O estudo, baseado em entrevistas com 5 mil moradores da capital, oferece um panorama atualizado sobre os principais indicadores de saúde da população.
Segundo o levantamento, 14,2% das pessoas com 10 anos ou mais declararam ser fumantes, proporção significativamente menor que nos levantamentos anteriores: 18,9% em 2003 e 19,3% em 2008.
No consumo de álcool, entre entrevistados com 12 anos ou mais, 27,5% foram classificados com consumo de risco e 4,5% com consumo de alto risco ou provável dependência, totalizando 32% da população avaliada.
O estudo também revelou que 35,7% dos adultos estão com sobrepeso e 26,9% apresentam obesidade. Entre os idosos, os índices são de 11,8% e 28,4%, respectivamente.
Adoecimento e diagnóstico
Um quarto dos entrevistados (25%) relatou ter apresentado algum problema de saúde nas duas semanas anteriores à pesquisa, percentual superior ao observado em 2015 (18,8%).
Os casos autodeclarados de diabetes e hipertensão entre pessoas com mais de 20 anos chegaram a 11% e 26,3%, respectivamente, bem acima dos índices registrados em 2003 (4% e 17%).
“Não se trata necessariamente de um maior adoecimento; pode refletir também o aumento do acesso ao diagnóstico”, explica Gizelton Pereira Alencar, professor da FSP responsável pela apresentação dos dados.
Impactos da pandemia e vacinação
Pela primeira vez, o Isa Capital incluiu questões sobre covid-19 e os efeitos da pandemia na saúde mental dos paulistanos. De acordo com o levantamento, 35,8% dos moradores afirmaram ter contraído a doença, e 97,4% relataram ter recebido a vacina contra o coronavírus.
Acesso e uso do SUS
Mais da metade das consultas médicas e internações realizadas na capital paulista foram custeadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Entre os entrevistados, 85% disseram ter feito ao menos uma consulta médica nos últimos 12 meses, sendo 57,3% pelo SUS, 32,8% por convênios ou planos de saúde e 8% com recursos próprios.
“O SUS é quem mais financia as ações de prevenção e também as consultas médicas”, observa Marília Cristina Prado Louvison, professora da FSP e responsável pela análise do uso de serviços de saúde.
Entre os 8% que relataram internações ou cirurgias, 56,2% foram realizadas pelo SUS, 39,4% por planos de saúde e 3,9% com recursos próprios.
Desafios da pesquisa de campo
Os dados do Isa Capital 2024 foram coletados entre agosto de 2023 e dezembro de 2024, por meio de questionários presenciais aplicados pelos pesquisadores. As perguntas abordaram condições socioeconômicas, características familiares e habitacionais, ocorrência de doenças recentes, uso de serviços de saúde e medicamentos.
“Não é simples bater na casa das pessoas, num contexto de pós-pandemia e de violência nas grandes cidades, e conseguir que o morador abra a porta, ouça e aceite participar de uma entrevista longa. Houve muita recusa, muito retorno. Sem o trabalho dos entrevistadores, não haveria pesquisa”, relata Zilda Pereira da Silva, professora da FSP e integrante da coordenação do estudo.