A escritora, artista visual, psicanalista e professora do Museu de Arte Contemporânea (MAC) da Universidade de São Paulo (USP), Katia Canton, lançou o livro: Contos de Fadas, Modos de Ser e de Usar: Educação, Arte e Psicanálise (Editora Panda Educação), obra que segundo o Jornal da USP combina pesquisa acadêmica, arte e psicanálise para destacar o valor formativo das narrativas mágicas.
Para a autora, os contos de fadas são mais do que histórias infantis: são heranças culturais vivas, criadas e recriadas ao longo dos séculos, capazes de estimular a imaginação, transmitir valores éticos e preparar crianças e adultos para desafios da vida.
“Os contos de fadas são potentes ferramentas formativas. Constroem formas alargadas de legitimar nossas vidas e heranças humanas; portanto, são imprescindíveis para todos nós”, afirma Katia.A obra reúne estudos de Jack Zipes, Maria Tatar, Angela Carter, Nelly Novaes Coelho e conceitos de Freud, Jung e Lacan, integrando teoria, prática educativa e reflexão sobre arte e cultura.
Trajetória pessoal
Katia lembra que os contos de fadas marcaram sua infância. “Narram a trajetória de uma menina muito tímida e sonhadora que passava as tardes ouvindo histórias de uma tia-avó”, recorda. Essa experiência influenciou sua carreira como artista e professora, conduzindo pesquisas que exploram arte, educação e psicanálise.
“Desde criança, o lado mais belo e significativo do conto de fadas sempre esteve associado à sua capacidade de produzir esperança. Mas não uma esperança ingênua, e sim a força ativa que move os personagens a lutar por uma vida melhor”, explica.
O livro apresenta uma linha do tempo dos contos de fadas, desde narrativas orais da Antiguidade, passando por obras de Marie de France, Madame D’Aulnoy, Charles Perrault e os Irmãos Grimm, até o cinema de animação da Disney. Katia destaca pesquisa de 2015 que aponta que algumas histórias podem ter até seis mil anos, mais antigas que a mitologia grega.
“Os contos abordam temas universais, bem e mal, certo e errado, humano e não humano, e se transformam conforme são recontados em diferentes culturas”, observa.
Contos de fadas e educação
Para a autora, os contos são instrumentos educativos fundamentais, capazes de estimular a imaginação, a reflexão ética e a construção de valores humanos.
“Há toda uma gama de operações de sentido que expandem o aprendizado de ouvir e ler histórias, dependendo das singularidades de cada vida que as recebe”, afirma.O livro também recupera memórias de leitura da própria autora, incluindo obras que marcaram sua infância, como As Reinações de Narizinho (Monteiro Lobato), Onde Vivem os Monstros (Maurice Sendak), O Menino do Dedo Verde (Maurice Druon) e Flicts (Ziraldo).
Em Lisboa, onde vive e pesquisa atualmente, Katia destaca a importância da leitura diante do mundo contemporâneo.
“Vivemos cercados por redes sociais, notícias vorazes e inteligência artificial. Diante desse panorama, ler é um ato político. Torço para que os livros e as histórias tenham vida longa, pois foi a capacidade narrativa que nos fez humanos.”O lançamento do livro reforça o papel dos contos de fadas não apenas como entretenimento, mas como instrumento de educação, reflexão e preservação da cultura, mostrando que a magia das histórias continua atual e necessária.