Imagens que mostram
De acordo com médico psiquiatra e diretor clinico do Instituto Raul Soares, professor da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, Lauro Eustáquio, a deficiência intelectual e esquizofrenia são doenças diferentes, mas que podem coexistir. “A deficiência intelectual é um atraso do desenvolvimento — a pessoa já nasce com ela. Já a esquizofrenia se desenvolve ao longo da vida”, explicou.
Leia também:
‘Vaqueirinho': conselheira tutelar revela diagnóstico e sonho de domar leões do jovem Conheça a leoa que matou ‘Vaqueirinho’ em zoológico de João Pessoa
O que é esquizofrenia
A esquizofrenia é uma doença do cérebro caracterizada por delírios (crenças falsas e fora da realidade), alucinações (como ouvir vozes) e comportamento estranho ou desorganizado. Segundo o especialista, não há cura. “Com medicamentos e terapia ocupacional, a grande maioria dos pacientes apresenta melhora e pode levar uma vida quase normal”, afirmou.
Segundo a conselheira tutelar Verônica Oliveira, em entrevista ao UOL nesse domingo (30), que acompanhou “Vaqueirinho” durante oito anos, o jovem era filho de uma mãe com esquizofrenia e neto de avós que também tinham comprometimentos mentais.
“A doença costuma surgir por volta dos 20 anos e tem forte carga genética”, disse o especialista.
Em casos graves de surto psicótico, o psiquiatra deve avaliar o paciente e indicar o tratamento adequado, que pode ser ambulatorial, em regime de hospital-dia (como CAPS e Cersams) ou exigir internação hospitalar, ou em clínica psiquiátrica.
Sonhava em se tornar domador de leões
Vídeos que circulam nas redes sociais registraram o momento em que “Vaqueirinho” escala o muro da jaula onde a leoa estava. Em determinado ângulo, o rapaz aparece andando sobre uma tela de proteção; segundos depois, visitantes do zoológico o filmam já pendurado em uma árvore que dava acesso à jaula.
Logo depois, ele continua descendo pela árvore até que a leoa o ataca pelas pernas. Segundo Lauro Eustáquio, essa falta de percepção de perigo pode ser um sinal do estado em que ele se encontrava.
O psiquiatra explica que o tratamento serve justamente para “trazer o paciente de volta para a realidade”, mas cada pessoa reage de um jeito. “O tratamento é para isso, porém cada um tem um grau diferente de resposta”, afirmou. Em entrevista, Verônica contou que ele cresceu sem apoio familiar e que sonhava em viajar para a África para se tornar domador de leões.
Somente em 2023, Gerson recebeu o que seria seu primeiro laudo. A coluna do Carlos Madeiro, do UOL, teve acesso ao documento, que apontou hipótese de retardo mental com transtorno de conduta e recomendou atenção integral.
''O paciente evolui com comportamento disruptivo e dificuldades adaptativas. Segue com oscilações de humor, labilidade afetiva, agitação psicomotora e impulsividade. (...) Recomenda-se tratamento multidisciplinar em saúde mental, sob supervisão e regime integral'', afirma o documento.
Abandono
Os relatos da assistente social expõem uma trajetória marcada por pobreza extrema, transtornos mentais não tratados e abandono familiar. Para o psiquiatra, esses são pontos cruciais e interligados.
Para Lauro Eustáquio, o fechamento de hospitais psiquiátricos sem a devida implantação de alternativas eficazes e de qualidade é um fator que contribui para tragédias como a ocorrida.
“Muitos CAPS e Cersams são precários em diversas cidades”, finalizou.