A modelo trans Camila Montovani se pronunciou nesta terça-feira (11) sobre o
“Quando vi a notícia, fiquei muito abalada, nem consegui dormir direito. Poderia ter sido eu ou qualquer uma de nós. Infelizmente, o Brasil continua sendo o país que mais mata pessoas trans no mundo há 16 anos. Isso precisa mudar”, disse. O caso ganhou repercussão nacional
“Será que uma transexual não tem direito de viver? Não tem direito de viver em paz?”, disse o pai, emocionado. Camila contou que conversou com Edson nesta terça-feira (11) e relatou que ele estava muito abalado. A modelo afirmou que fez uma doação ao pai de Alice, que precisava de ajuda para custear o sepultamento da filha, e informou que vai buscar orientação jurídica sobre como contribuir com as investigações.
“O senhor Edson mal conseguia falar, estava muito triste. Já entrei em contato com uma amiga advogada para ver o que podemos fazer”, explicou. Para Camila Mantovani, a repercussão do caso é fundamental para dar visibilidade à realidade das pessoas trans no Brasil. Ela também pediu que as autoridades conduzam uma investigação rigorosa.
“É importante que esse crime tenha visibilidade, porque mostra a realidade que vivemos. Todas nós passamos por isso de alguma forma. Peço que as autoridades investiguem e que os responsáveis por essa monstruosidade sejam punidos com todo o rigor da lei”, concluiu.
Medo constante
Durante o velório, Edson Alves relatou que, há cerca de três meses, a filha vinha demonstrando medo de sair de casa. Em entrevista, Camila mencionou o
“Quando ele falou aquilo, me deu vontade de chorar e abraçar ele. Esse medo é o que todas nós sentimos, ainda mais no país que mais mata pessoas LGBTQIA+ no mundo. Isso precisa mudar”, disse a modelo. Camila ressaltou que o medo de sofrer violência é constante entre pessoas trans e que o caso de Alice evidencia a vulnerabilidade dessa população no Brasil.
Pai lamenta morte da filha. A mulher trans morreu após ser espancada na Savassi
“É muito difícil abrir a porta de casa e sair para a rua achando que algo pode acontecer só por você ser quem é. Isso abala o psicológico, mas a gente precisa ser forte e cobrar das autoridades que esse tipo de crime tenha um fim”, afirmou. A modelo classificou o assassinato de Alice como uma crueldade sem tamanho e voltou a cobrar punição exemplar.
“Só uma pessoa sem amor no coração não se sensibiliza com o que aconteceu. Eu também sinto esse medo, mas acredito na Justiça. Espero que descubram quem fez isso e que esse crime não fique impune. Ninguém tem o direito de tirar a vida de ninguém, ainda mais por ela ser quem ela é”, completou.
Crime de ódio aconteceu em 23 de outubro
Alice, mulher trans de 33 anos, foi atacada por três homens no dia 23 de outubro, na Savassi, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, após sair de uma pastelaria. De acordo com o pai, os agressores a esperaram na Rua Sergipe, quando ela atravessava em direção à Avenida Getúlio Vargas, após sair de uma pastelaria.
“Eles estavam esperando ela. Quebraram o nariz, várias costelas, e ainda pisaram nas pernas dela”, contou. A Polícia Civil busca imagens de câmeras de segurança que possam ter registrado o crime.
Depois da agressão, Alice apresentou vômitos e dificuldade para se alimentar. Ela ficou internada por duas semanas em um hospital da capital, mas não resistiu aos ferimentos e morreu no domingo (9).
A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) informou que o caso será investigado pelo Núcleo Especializado de Investigação de Feminicídios do Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). A suspeita é de crime de ódio motivado por transfobia. Até o momento, ninguém foi preso.
Brasil é o país que mais mata pessoas trans
O Brasil é, pelo 17º ano consecutivo, o país que mais mata pessoas trans no mundo. Em 2024, 105 pessoas trans foram assassinadas no país, segundo o relatório Dossiê: Registro Nacional de Mortes de Pessoas Trans no Brasil em 2024 – da Expectativa de Morte a um Olhar para a Presença Viva de Estudantes Trans na Educação Básica Brasileira, da Rede Trans Brasil.
O levantamento indicou que houve uma redução de 16% em relação ao ano anterior, mas que pelo 16º ano consecutivo, o país é o que mais assassina pessoas trans e travestis no mundo.
O dossiê detalha os números de mortes em cada região do Brasil em 2024:
- São Paulo liderou o número de assassinatos de pessoas trans no Brasil, com 16 casos registrados.
- Seguido por Minas Gerais que ocupou a 2ª posição, com 12 ocorrências.
- Depois temos o Ceará, que contabilizou 11 casos. E o Rio de Janeiro que ficou na 4ª posição, com 10 assassinatos.
- A Bahia, Mato Grosso e Pernambuco registraram 8 casos cada, enquanto Alagoas apresentou 6 ocorrências.
- Os estados do Maranhão, Pará e Paraíba contabilizaram 5 assassinatos cada, seguidos por Piauí e Rio Grande do Sul, com 4 casos cada.
- No Espírito Santo e Santa Catarina houve 3 assassinatos cada, enquanto Goiás, Rondônia e Sergipe registraram 2 casos cada.
- O Amapá, Amazonas, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul e Paraná registraram 1 assassinato cada.
- Nos estados do Acre, Rio Grande do Norte e Roraima não foram encontrados registros de assassinatos em 2024.
- Houve ainda um assassinato no exterior.
- Além disso, foi identificado 1 caso cuja localização não pôde ser determinada.