As vazões do Rio das Velhas, responsável por abastecer cerca de 70% de Belo Horizonte e 43% da Região Metropolitana (RMBH), vêm diminuindo de forma expressiva. Um estudo técnico conduzido pelo Instituto Fórum Permanente São Francisco revelou uma redução histórica entre 20% e 25% no volume anual do rio nos últimos 40 anos.
O estudo, realizado ao longo de 14 meses com apoio do Ministério Público e concluído em setembro deste ano, avaliou dados de 1980 até 2024. Foram utilizados diferentes modelos estatísticos e ferramentas de inteligência artificial para garantir a confiabilidade dos resultados.
De acordo com o estudo, o Rio das Velhas tem sofrido especialmente nos períodos de seca, entre maio e setembro, quando praticamente não há chuvas. “Os rios todos estão secando, porque as chuvas acabaram. A gente acha que é por questão de mudança climática”, diz Cruz.
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Já durante o período chuvoso, entre outubro e abril, o volume total de chuvas não diminuiu significativamente nas últimas décadas. O ponto de alerta é a forma como essas chuvas ocorrem atualmente: com mais intensidade e menos regularidade.
“Antes, era aquela chuva mansa, que penetrava o solo e recarregava os aquíferos. Agora, ela vem de uma vez só. Não dá tempo dela entrar no chão”, explica. Isso faz com que as águas escorram rapidamente pela superfície, causando enchentes e impedindo a recarga das nascentes que alimentam o rio.
‘Extremamente necessário proteger o rio’
Além disso, o estudo revela que 63% da água que abastece o Rio das Velhas vem do subsolo, e não diretamente das chuvas. Isso torna a situação ainda mais delicada, já que o rebaixamento dos aquíferos — em grande parte causado por atividades mineradoras — impacta diretamente as nascentes.
“O rio tem sofrido também com a redução progressiva de suas vazões e com cheias imensas, nunca registradas, possivelmente causadas pelas mudanças climáticas. É extremamente necessário recuperar, proteger e preservar esse rio, essencial para a vida da Região Metropolitana de Belo Horizonte”, alerta Cruz.
A pesquisa mostra ainda que a redução de vazão do Velhas já compromete a segurança hídrica da capital mineira. Em caso de problemas graves com o rio, como um possível rompimento de barragem na região de Nova Lima, 70% da cidade pode ficar sem água por tempo indeterminado.
O que diz a Copasa
À Itatiaia, a companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) afirmou que não há risco de interrupção na captação em períodos de alta concentração de esgoto ou baixa vazão.
Entretanto, a companhia informou ainda que tem projetos em andamento em parcerias com prefeituras para melhorar o saneamento na bacia do Rio das Velhas.
“A Copasa tem ampliado seus esforços para preservar e recuperar a bacia do Rio das Velhas, uma das mais importantes de Minas Gerais. O destaque das ações é o Programa Pró-Mananciais, criado pela Companhia em 2017 para proteger microbacias e áreas de recarga dos mananciais que abastecem a população.
Voltado à recuperação ambiental e à mobilização das comunidades, o Pró-Mananciais promove iniciativas sustentáveis e integra o compromisso da empresa com a Agenda 2030 da ONU e com práticas ambientais, sociais e de governança (ESG). Desde sua criação até o segundo trimestre de 2025, o programa já investiu mais de R$ 20,2 milhões na bacia do Rio das Velhas.
Entre os resultados alcançados estão: 277 km de Áreas de Preservação Permanente cercadas; plantio de quase 79 mil mudas nativas; implantação de 6,3 mil bacias de contenção de chuva; construção de 410 km de terraceamento em curvas de nível; mais de 354 mil m² de aceiros e adequação de mais de 444 km de estradas; ações de educação ambiental com crianças e adolescentes”.
( Sob supervisão de Lucas Borges)