O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), comentou, nesta quarta-feira (19), o
“Reafirmo meus sentimentos aos familiares e amigos. Eu tenho filho jovem, sei a dificuldade que é para a gente poder garantir a tranquilidade, dormir sossegado, sabendo que ele vai e volta”, afirmou o governador.
Familiares e amigos se despediram de Williams Nogueira, de 28 anos, que foi sepultado nesta quarta-feira (18) no Cemitério Campo Santo, em Salvador. O corpo dele foi encontrado dois dias depois de ser sequestrado por traficantes da facção Bonde do Maluco (BDM) em um terreiro de candomblé.
Os suspeitos publicaram uma foto da vítima, em sua própria conta no Instagram, fazendo o sinal de número três com as mãos, símbolo da facção BDM, principal rival do Comando Vermelho (CV).
Williams morava com a mãe na região nordeste do bairro Amaralina, em Salvador, área controlada pelo CV. No entanto, segundo familiares, ele não tinha qualquer envolvimento com facções. A vítima trabalhava na Secretaria de Turismo da Bahia.
Sequestro
No sábado (15), a família se deslocou até Simões Filho, município localizado há cerca de 30 km do local onde moram, para frequentar um terreiro de candomblé. Enquanto estavam no espaço, um grupo de homens entrou no terreiro e recolheu os celulares de todas as pessoas presentes.
Williams foi o único levado pelos criminosos.
‘Sempre plantou o bem’
Em entrevista à Itatiaia, uma fonte contou que conhecia Williams há mais de dez anos e que ele era “um menino do bem, trabalhador e querido por todos”. Emocionada, descreveu a vítima como alguém incapaz de fazer mal a qualquer pessoa.
“Ele nunca se envolveu em nada errado. Sempre foi leal, ajudava quem precisasse, era alegre e divertido. Eu não sei o que levou a tamanha crueldade. Foi brutal o que fizeram com ele, uma violência por uma guerra que nem era dele”, relatou.
A fonte, que pediu para não ser identificada, disse ainda que, até agora, ninguém da comunidade conseguiu entender como ele foi encontrado morto em Simões Filho.
“Circulam muitas versões, mas a verdade só ele poderia contar, e ele não está mais aqui. Foi cruel demais. Eu não consigo acreditar até agora, mesmo depois do sepultamento”, afirmou.
A Polícia Civil informou que a 3ª Delegacia de Homicídios já possui indícios da autoria do crime, mas as investigações seguem sob sigilo.
O que são os gestos de facção: ‘Tudo 2' e ‘Tudo 3'
No contexto do crime organizado na Bahia, expressões como “tudo 2” e “tudo 3” são usadas para indicar a qual facção uma pessoa supostamente pertence ou com qual grupo teria algum tipo de vínculo. Assim como os gestos de número dois ou três com as mãos.
O termo “tudo 2” é associado ao Comando Vermelho (CV), uma facção que atua em diversas regiões do estado da Bahia, mas que surgiu originalmente no Rio de Janeiro. Já “tudo 3” é relacionado ao Bonde do Maluco (BDM), grupo rival do CV e que disputa áreas de tráfico e influência, principalmente na Região Metropolitana de Salvador.
Nessa guerra territorial, moradores de bairros controlados por um dos grupos podem ser considerados “alvo” ao circular em áreas dominadas pelo rival, mesmo sem envolvimento com atividades criminosas.
Em janeiro deste ano, um jovem de 20 anos foi morto a tiros em Feira de Santana, no interior da Bahia, supostamente por uma foto postada nas redes sociais, na qual fazia um gesto associado a uma facção criminosa.
“Segundo o registro, dois homens se aproximaram, olharam o aparelho celular de Marcos e em seguida efetuaram os tiros”, explicou a Polícia Civil em nota enviada, na época, à CNN. O jovem morreu no local do crime.
Marcos Vinícius era natural de Curaçá, no norte da Bahia, e não tinha passagens pela polícia. Ele foi confundido com um membro do grupo criminoso que atua em Feira de Santana.