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Profissionais da saúde denunciam ‘erros absurdos’ na correção de concurso do governo

As pessoas afetadas suspeitam que foram prejudicadas por uso de inteligência artificial para a avaliação de currículos do Enare, organizado pela Ebserh

Profissionais da saúde denunciam que estão sendo afetados por conta de erros da banca organizadora do Enare (Exame Nacional de Residência). A avaliação é realizada pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh/MEC), com apoio da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Os candidatos alegam haver imprecisões na análise de currículo da prova do Enare 2024/2025. A Itatiaia conversou com duas médicas que estão entre as afetadas. Outras áreas da saúde, como enfermeiros, fisioterapeutas e farmacêuticos, entre outros, também foram prejudicadas.

O exame acontece em duas etapas: uma prova objetiva, realizada em 20 de outubro do ano passado, e uma análise de currículo. Os profissionais alegam que os erros estão na segunda.

Os afetados estão se mobilizando em um grupo com quase 400 integrantes, de diversos locais do Brasil, para cobrar os organizadores do Enare. Muitos deles afirmam que entraram com ações judiciais.

Eles suspeitam que tenham sido afetados pelo uso de inteligência artificial na avaliação dos currículos, informação não confirmada pela banca examinadora.

O período de interposição de recursos se encerrou no dia 16 de janeiro, e o resultado definitivo foi divulgado nessa terça-feira (21).

O início da fase de escolha das vagas começa na próxima semana, no dia 28 de janeiro. Os profissionais afetados pressionam pelo adiamento.

“Balde de água fria”

A Itatiaia conversou com Agatha Soyombo, médica formada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ela relata que, apesar de ter concluído a graduação, teve o histórico escolar zerado. A médica afirma que era para ter recebido 50 pontos.

Agatha quer fazer residência médica em pediatria. Ela conta que o Enare é como se fosse um “Enem da área da saúde” e é a porta de entrada para diversas instituições em Belo Horizonte, como o Hospital das Clínicas, o Hospital Odilon Behrens e o Hospital da Polícia Militar de Minas Gerais.

Na justificativa da nota, a banca examinadora copiou e colou um trecho do edital.

Ela também teve a alínea 5 zerada, referente a iniciação científica. Agatha enviou dois documentos que comprovam a realização de dois projetos diferentes.

A médica anexou a documentação e o comprovante com os protocolos em uma ação judicial que está movendo contra a banca examinadora. A reportagem teve acesso aos arquivos.

Agatha publicou um vídeo nas redes sociais denunciando os erros. A publicação já conta com quase 80 mil visualizações.

“Nós estamos de mãos atadas, porque o processo seletivo, a escolha de vaga começa na semana que vem. Então, assim, em pouquíssimo tempo, a gente recebeu esse balde de água fria em uma coisa que é definidora do nosso futuro”, desabafa a médica.

“A gente está vendo ir por água abaixo uma chance que a gente lutou a graduação toda por incompetência do processo seletivo”.
Agatha Soyombo, médica afetada no Enare por erro da banca examinadora

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Yasmim Garotti, médica formada pela Universidade Federal dos Vales Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), conta que pagou R$ 330 para se inscrever para a prova de residência médica, preço que ela diz ser “irrisório” perto do custo de toda a preparação.

“Acredito mais em um valor de saúde mental e de prejuízo físico, porque muita gente estava na faculdade ou estava trabalhando, e no final, acabou sendo prejudicado por incompetência da banca que está organizando”, desabafa.

“Nada do que a gente está fazendo mobilizando e cobrando tá adiantando. Tem muita coisa errada acontecendo nisso e tem muita gente sendo injustiçada”.
Médica Yasmim Garotti

O que diz a organização do Enare

Em nota enviada à Itatiaia, a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) comentou as denúncias. Confira o pronunciamento na íntegra:

A Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), informa que o resultado final do Exame Nacional de Residência (Enare 2024/2025) será divulgado nesta segunda-feira (27), após análise de todos os recursos apresentados pelos candidatos.

A estatal ressalta que, imediatamente após tomar conhecimento dos relatos de possíveis inconsistências na análise curricular - etapa correspondente a 10% da avaliação no Enare - solicitou apuração da Fundação Getulio Vargas (FGV), empresa responsável pelo exame.

Após verificação da FGV todas as medidas foram adotadas para assegurar a integridade do exame.

A Ebserh reitera seu compromisso em assegurar transparência, segurança e a qualidade na condução do Enare.

A reportagem procurou a Fundação Getúlio Vargas (FGV), mas não obteve retorno. O espaço segue aberto.


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Jornalista formado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Na Itatiaia, escreve para Cidades, Brasil e Mundo. Apaixonado por boas histórias e música brasileira.
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