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A moda e o deserto do Atacama

O excesso de roupas produz os “cemitérios de roupas” pelo mundo, ou seja locais onde grandes quantidades de roupas são descartadas

A moda e o deserto do Atacama

Começou no dia 22 de outubro o Minas Trend, evento da moda realizado em Belo Horizonte com a finalidade de divulgar a moda mineira e também para impulsionar a indústria da moda no Brasil. O evento já está na sua 32° edição e se tornou o maior salão do setor da moda na América Latina, reunindo a moda de Minas e do Brasil.

A moda mineira sempre foi conhecida pelo seu bom gosto e criatividade e grandes marcas originárias daqui são conhecidas no cenário mundial. E causa fascínio em muitas mulheres, seja numa bolsa, um sapato ou mesmo uma nova peça de roupa.

Esse fascínio, tendências, e estações a indústria da moda que antes lançava inverno e verão, introduziu outono e primavera também. E, a moda de grandes estilistas foi copiada para que todos pudessem ter acesso a preços mais acessíveis. Infelizmente, isso tudo ocasionou nas mulheres um consumismo desenfreado, uma vontade de parecer com essa ou aquela pessoa e surgiu o descarte de roupas. Compro, uso, doou ou jogo fora.

Nada contra os eventos de moda, nada contra a moda, mas essa hoje necessita ser sustentável. Já escrevi algumas vezes sobre a moda sustentável e hoje retomo a esse tema tão importante.

O excesso de roupas produz os “cemitérios de roupas” pelo mundo, ou seja locais onde grandes quantidades de roupas são descartadas, muitas vezes vindas da indústria de moda rápida (fast fashion), criando problemas ambientais e sociais significativos. Esses depósitos de roupas baratas estão se tornando um fenômeno global, com exemplos notáveis em regiões como o deserto do Atacama, o Gana e a Índia.

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O deserto do Atacama conhecido por sua beleza natural, é o deserto mais árido do mundo e sua superfície se assemelha à superfície de Marte. Alguns cientistas afirmam que ele possui um ecossistema lagunar, o único no mundo e nele pode conter pistas sobre a origem de vida na Terra.

Mas, como mencionado anteriormente, o deserto do Atacama tornou-se um grande depósito de roupas descartadas. Muitas das roupas enviadas para o Chile são sobras de estoques ou roupas de segunda mão vindas da Europa, EUA e Ásia, que não encontram destino no mercado local. Estima-se que cerca de 39 mil toneladas de roupas são descartadas anualmente, contaminando o solo e agravando problemas de poluição e mudanças climáticas.

O porto de Iquique, no norte do Chile, recebe grandes quantidades de roupas de segunda mão e sobras de estoques, vindas principalmente da Europa, dos EUA e da Ásia. Muitas dessas roupas não são comercializadas no mercado local e acabam sendo descartadas ilegalmente no deserto. Estima-se que cerca de 39 mil toneladas de resíduos têxteis são descartadas no Atacama anualmente.

Esses resíduos têxteis não são biodegradáveis e contêm substâncias químicas prejudiciais ao meio ambiente, que podem contaminar o solo e os lençóis freáticos. Além disso, a decomposição desses materiais libera gases que contribuem para o efeito estufa.

Isso causa um grande impacto ambiental num dos lugares mais lindos do mundo, com uma necessidade de se adotar práticas mais sustentáveis na produção e no consumo de roupas, como o uso de materiais reciclados, a compra consciente e a reutilização de peças.

A moda urge ser sustentável.


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Cristiana Nepomuceno é bióloga, advogada, pós-graduada em Gestão Pública, mestre em Direito Ambiental. É autora e organizadora de livros e artigos.