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Polêmica sobre leilão de arroz colocou produtores gaúchos e governo em rota de colisão

Reportagem visitou lavoura que foi arrasada pelas enchentes no interior do Rio Grande do Sul

Produtor observa lavoura de arroz arrasada por enchentes no Rio Grande do Sul

As chuvas no Rio Grande do Sul fizeram com que produtores rurais entrassem em rota de colisão com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e parte da equipe do governo petista. No centro da polêmica, o arroz — alimento presente na mesa de praticamente todos os brasileiros.

A crise se instalou após o presidente afirmar que estava indignado com o fato de um pacote de arroz, de 5 kg, custar mais de R$ 30. As primeiras declarações do petista sobre o assunto se deram no fim do mês de abril, época em que as chuvas ficaram mais intensas no Rio Grande do Sul. Em várias aparições públicas, ao longo de maio, Lula afirmou que o Brasil precisaria importar arroz de outros países.

“Essa semana eu fiquei um pouco irritado porque o preço do arroz no pacote de 5 quilos no supermercado estava R$ 36. Por isso tomamos a decisão de importar 1 milhão de toneladas de arroz para que a gente possa equilibrar o preço nesse país”, disse em uma dessas ocasiões

As declarações do presidente foram muito mal recebidas pelos produtores de arroz no Rio Grande do Sul. A maior entidade de produtores do país afirma que as perdas em decorrência dos temporais que atingiram o Estado não atingiram 1,5%. Em entrevista à Itatiaia, o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul, Alexandre Azevedo Velho, ressaltou que a decisão do Presidente Lula não foi fundamentada em critérios técnicos.

“Tu achas que justifica o governo anunciar uma compra de até 1 milhão de toneladas se eu tenho uma quebra de 1,5% no Rio Grande do Sul e se eu tenho um aumento da produção brasileira? Eu tenho essa produção maior devido ao aumento da área plantada fora do Rio Grande do Sul”, explica.

À época, o ministro da agricultura, Carlos Fávaro, afirmou que a tragédia no Rio Grande do Sul gerou especulação e alta no preço do arroz. A Federarroz negou essa possibilidade e afirmou que o arroz chegou a faltar em alguns pontos do país em decorrência de problemas de infraestrutura. No entanto, afirmou que o transtorno foi pontual e culpou o Governo Lula pela elevação no preço do produto.

Produtor relata perdas

Em meio à polêmica, a nossa reportagem saiu novamente de Belo Horizonte e viajou mais de 2.000 km até o Vale do Rio Pardo, uma das áreas produtoras de arroz no estado gaúchol, para conversar com quem planta e vive do cultivo do arroz. Os produtores confirmaram a informação da Federação, que mais de 80% do arroz já havia sido colhido no momento dos temporais. O produtor Carlos Rabuske conseguiu colher a maioria do cultivo, mas reconheceu que teve perdas em algumas áreas.

“Tive perdas. A lavoura de maior tamanho, no município de Rio Pardo eu tinha colhido toda ela no fim de abril e não tive tempo de começar na outra. A outra ainda não estava no ponto de ser colhida e faltava uma semana para começar quando veio essa enchente histórica e arrasou com a lavoura”, conta.

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Da anulação à desistência do leilão

Lula anunciou um leilão de 1 milhão de toneladas de arroz. O produto seria importado e vendido em pacotes de 5 quilos por um preço tabelado de R$ 20 e teria menções ao governo federal no rótulo.

No entanto, o assunto que já dividia opiniões, ficou ainda mais polêmico. O leilão para importar 263 mil toneladas de arroz foi anulado no dia 11 de junho, pelo próprio governo, após indícios de irregularidades em algumas empresas e conflitos de interesses. Lula afirmou que a anulação ocorreu por conta de “falcatrua numa empresa” e falou em “emoção” ao tomar a decisão.

“Tivemos a anulação do leilão porque teve uma falcatrua em uma empresa. Por quê eu vou importar? Porque o arroz tem que chegar na mesa do povo, no mínimo, a R$ 20 o pacote de cinco quilos. Não dá para ser um preço exorbitante. A minha tese é que eu sou 80% emoção e 20% razão”, disse Lula.

Após muita polêmica, nessa quarta-feira (3), pela primeira vez, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, garantiu que o Governo Lula não vai mais fazer leilões para importar arroz.

Segundo o ministro, os preços cederam e o arroz voltou a ser vendido na casa dos R$ 20 . O ministro afirmou que os os preços cederam em decorrência da volta da normalidade nas estradas e a intenção do governo de comprar arroz no mercado internacional.

Em uma linha diferente das falas de Fávaro, o Ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, afirmou que a palavra final sobre tema quem dará será o presidente Lula, que até agora, não se manifestou publicamente sobre o assunto.


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Repórter de política na Rádio Itatiaia. Começou no rádio comunitário aos 14 anos. Graduou-se em jornalismo pela PUC Minas. No rádio, teve passagens pela Alvorada FM, BandNews FM e CBN, no Grupo Globo. No Grupo Bandeirantes, ocupou vários cargos até chegar às funções de âncora e coordenador de redação na BandNews FM BH. Na televisão, participava diariamente da TV Band Minas e do BandNews TV. Vencedor de 8 prêmios de jornalismo. Já foi eleito pelo Portal dos Jornalistas um dos 50 profissionais mais premiados do Brasil.