Além do impacto humano e da tragédia ambiental, prefeitos de municípios gaúchos e o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), estão preocupados com a economia e a reconstrução do estado. No auge dos temporais, boa parte do quinto maior PIB do Brasil ficou parado em rodovias que foram fechadas por deslizamentos, crateras ou pelas inundações.
A reportagem da Itatiaia flagrou vários congestionamentos quilométricos e que se arrastavam por horas. Em um deles, encontramos um motorista transportando exames que podem salvar a vida de uma pessoa.
"É material de Oncologia para o Hospital das Clínicas. Subi há uma hora na ponte de Canoas e estou até agora parado. Só andei uns quatro quilômetros”, relata o empresário Pablo Moraes.
A reportagem percorreu mais de 5 mil quilômetros de estradas durante cerca de 30 dias de cobertura. A nossa reportagem registrou transtornos em mais de dez cidades de diferentes pontos do Estado. Com as chuvas intensas, as rodovias chegaram a registrar mais de 150 pontos de bloqueio. Neste momento, há 80 pontos de bloqueios parciais ou totais em estradas estaduais e federais.
Os buracos e os desvios de rota têm sido inimigos dos caminhoneiros. Com uma borracharia às margens da rodovia em Eldorado do Sul, Ricardo Lucena Medeiros, têm escutado esse tipo de relato diariamente.
“Estraga tudo, corta pneu, quebra-molas. O cara cai em um buraco desses aí. É perigoso. Esse viaduto consertaram essa semana, mas com a chuva que deu essa noite, alagou tudo de novo”, conta.
Estudo mostra necessidade de crédito para o transporte
O cenário descrito pelo borracheiro com base na conversa com os caminhoneiros encontra fundamento no estudo mais recente divulgado pela CNT, Confederação Nacional dos Transportes. O levantamento aponta que mais da metade das empresas de transporte gaúchas vão precisar de apoio financeiro após as enchentes. O estudo aponta que 52,0% das transportadoras vão recorrer a linhas de crédito, com taxas de juros reduzidas, para se reerguer. O buraco provocado pela chuva custa caro.
Um pneu desse novo, dependendo da marca é R$ 2 mil
Entre os 171 empresários ouvidos pela CNT, 20% disseram que vão demorar de 90 a 180 dias para normalizar os negócios. Quase um terço das empresas (31%) teve a operação parcial ou totalmente paralisada por mais de 15 dias, desde o início da calamidade. 54% dos empresários disseram que tiveram perdas relativas a veículos e implementos; e 36% indicaram prejuízos com garagens ou pátios.
“Queima tudo, não sobre nada. Essa água é corrosiva”, avalia o mecânico Rafael Menezes sobre os problemas encontrados nos veículos inundados.
O levantamento da CNT aponta que todos os modais foram afetados. rodovias, portos e aeroportos. Neste momento de reconstrução, será preciso um planejamento estratégico. A avaliação é do professor da escola de engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, PHD na área de transportes, Luiz Afonso dos Santos Senna.
“O grande desafio imediato é a reconstrução de curto prazo dessa infraestrutura para que a economia possa circular. As pessoas, mercadorias, cargas, etc. A médio prazo, diria dentro de alguns meses, é começar o trabalho de planejamento dos projetos para reconstruir, talvez em novos lugares, que evitem as cotas de inundação que temos hoje”, afirma.