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O relato além da notícia: repórter da Itatiaia no RS vê a cidade transformada por enchente nunca antes vista

Cidades do Rio Grande do Sul vivem inundação histórica há uma semana

Capital gaúcha está inundada há uma semana e com nova previsão de chuva

Quem hoje navega pelas ruas de Porto Alegre mal reconhece um dos principais pontos da cidade. A zona norte, que conecta a capital ao restante do estado, está totalmente coberta pelas águas. Carros completamente submersos, empresas que precisaram ser abandonadas, avenidas que se tornaram hidrovias... e nem refletem mais a agitação do fluxo de trabalhadores dos bairros São João, Navegantes e Humaitá. A estação de trem não tem mais barulho de trilhos, mas de barco a motor.

Na Aj Renner, todos os caminhos não levam mais à Arena do Grêmio, mas ao socorro das vítimas. Da água, voluntários guiam aqueles que escolhem deixar suas casas em direção à terra firme. Há também quem tema mais a criminalidade, e opte por arriscar a própria vida, com medo de perder o pouco que tem.

Nas zonas alagadas, além do nível do Rio Guaíba, é preciso se atentar ao risco da violência. Por lá, policiais se tornam marinheiros, e a carga de água, um bem mais precioso que barras de ouro em Porto Alegre, precisa de escolta.

No horizonte, o Laçador Gaúcho, símbolo da cultura do Rio Grande do Sul, resiste, assim como no hino do estado, forte, aguerrido e bravo.

A ida para o aeroporto não é mais de ansiedade para viajar, mas de poder voltar para o lar. No embarque, os gaúchos se despedem das mais de 100 pessoas que deixaram a amada terra. E quando o por do sol vai se encontrando com a água do Guaíba, no fim de tarde, ninguém mais ali carrega um chimarrão; no olhar, vai um pouco de solidão.

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E se de dia o cenário da capital gaúcha é triste, quando cai a noite é assustador… no céu que escurece, ainda dorme um aguardado sol. No inverno que se avizinha, já faz muito frio. O povo machucado busca esperança em si para aquecer o coração.

No final da água turva, mais amarga que lágrimas, as luzes da cidade se acendem em esperança por novos dias.


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Gaúcha de Porto Alegre, Mauri Dorneles é formada em Jornalismo pela PUC-RS e trabalha como correspondente do portal Itatiaia Esporte no Sul do Brasil. Também cursou Cinema. Antes da Itatiaia, passou por Correio do Povo, Record RS, Rádio Grenal, RBS TV e Band.