As fortes chuvas que atingem o Rio Grande do Sul já deixaram 10.242 pessoas desalojadas em todo o estado, segundo a última atualização da Defesa Civil. Entre os afetados, 4.645 foram para abrigos. Porém, mesmo com a casa alagada, alguns resistem a ir para os alojamentos montados por prefeituras e governo estadual.
Este é o caso do aposentado Valmir, morador do bairro Arquipélago, em Porto Alegre, região formada por 16 ilhas no delta do rio Jacuí. Ele decidiu armar uma barraca à beira de uma rodovia em Porto Alegre, onde está com a família e com o cavalo de estimação.
Questionado pela Itatiaia se pretendia ir para um abrigo, o idoso respondeu: “Não, porque tenho um cavalo para cuidar, que não posso abandonar. Fazer o que? Não posso abandonar meu cavalinho, meu bichinho de estimação. Muita gente abandona, mas eu não”, afirma o aposentado.
Valmir conta que esta é a terceira vez que tem a casa alagada. A última foi em setembro de 2023, quando a água alcançou dois metros de altura dentro da casa do aposentado.
“Tá tudo alagado. Tá tudo debaixo d'água. Eu moro há 50 aqui. Consegui salvar [os pertences] só um pouquinho, quase nada. Perdi tudo, praticamente de novo. [Já são] três vezes”, lamenta.
Moradores resistem sair da Ilha do Pavão
Apesar do idoso se recusar a ir para um abrigo por causa do cavalo de estimação, outras pessoas temem a estrutura pela quantidade de pessoas e possíveis confusões no local.
“Todo mundo parece que tá indo para o abrigo. Nós estamos vendo, porque se a água passar um pouquinho aqui e entrar, nós vamos ter que ir também. É que abrigo é muito complicado. É muita gente, discussão, aquilo tudo. Por enquanto eu tô tentando evitar. Tenho que ficar aqui olhando, porque vai que some alguma coisa de dentro de casa também”, afirma Jader Prates, morador da Ilha do Pavão, em Porto Alegre.
“Não tem muito o que fazer. Só botar [os móveis] para cima e torcer para que não suba mais que o esperado. Falaram que iam descer as barragens ainda. Então, tem muita água para descer”, teme o rapaz.
Moradora da Ilha do Pavão, a agente de saúde Josiane Garcia também tenta evitar o abrigo.
“Para sair de casa só se for no último caso. A gente tem as nossas coisas com muita dificuldade. E nos casos em que o terreno tem um pouco mais de aterro, como o meu, a gente espera que a água não entre dentro de casa, mas na maioria já entrou. A gente levanta tudo o que tem dentro de casa com tijolo e tenta não perder nada”, explica.
Porém, a mulher conta que parentes tiveram que ir para abrigos da capital gaúcha. “Minha mãe está lá, já entrou água dento da casa dela. Meu irmão também. Mas eu estou aqui ainda”, finaliza.
Defesa Civil alerta para importância dos abrigos
Guilherme Todeschini, gerente de Atividades da Corregedoria Geral, da Secretaria Municipal de Segurança de Porto Alegre, afirma que os agentes municipais estão tentando conscientizar a população sobre a importância de deixar a região das ilhas e ir para um abrigo da prefeitura.
“Não pode ficar aqui. É uma questão de segurança das pessoas mesmo. A gente não sabe o nível exato [que o rio] vai subir. Mas a previsão é catastrófica, de até três metros. Significa que essa margem da BR vai ficar cheia de água. Então, não tem ponto seguro hoje para as pessoas que estão aqui na ilha ficarem. A gente tá oferecendo esse local seguro da prefeitura para eles possam ir até lá. Siga a orientação da prefeitura e da Defesa Civil. Quem puder ir com seus meios próprios, saia e evada-se da ilha porque vai encher de água”, alerta.