“Tudo que eu faço é com amor. Quero fazer cada vez melhor. Quero sempre melhorar e sempre fazer bem feito”. Essa é Vovó Loca, que aos 94 anos que esbanja vitalidade e empreendedorismo.
Seu nome completo é Fabíola Maia de Oliveira. A Vovó Loca, como ela é mais conhecida, nasceu em 1929, em Morro do Pilar, cidade localizada a 150 km de Belo Horizonte. Com uma rara simpatia, ela recebeu a reportagem da Itatiaia na casa de sua filha caçula, em Belo Horizonte, para revelar os segredos por trás da inigualável vontade de viver que ela carrega.,
O início
Vovó Loca começou a trabalhar cedo. Aos 10 anos aprendeu a cozinhar e a fazer pão na casa dos padrinhos, que a acolheram depois da perda precoce da mãe. Depois de casada, continuou no ofício e foi a primeira padeira do Morro do Pilar. Ensinou o trabalho para todos os 14 filhos, que foram peças importantes para o sucesso do negócio. Também foi chapeleira e fez bolos de casamento e salgados.
Depois de completar 90 anos, passou por uma mudança forçada para Belo Horizonte durante a pandemia da Covid-19 e precisou se reinventar. Foi assim que começou a bela história da “Coxinha da Vovó Loca”, projeto que Fabíola toca, atualmente, com a neta Bárbara Maia.
Coxinha da Vovó Loca
O projeto começou por acaso. No início de 2020, após se mudar de Morro do Pilar para Belo Horizonte a pedido dos filhos, Vovó Loca passou mal e precisou ser hospitalizada. Segundo a família, foi a primeira vez na vida que a idosa precisou ser internada. O diagnóstico foi de pancreatite.
Enquanto estava no hospital, foi decretado o primeiro lockdown, em decorrência da Covid-19 no Brasil, o que causou grandes preocupações nos familiares. Com o iminente risco enfrentado nos centros de saúde, foi recomendado que Vovó Loca terminasse o tratamento em casa.
“Quando ela saiu do hospital, a gente sentiu a necessidade de dar um movimento para a vida dela e de fazer ela voltar a ser a pessoa que eu conheço. A mulher que eu conheço que é forte, que é ativa e que está o tempo inteiro se movimentando”, contou a neta Bárbara.
Foi assim que surgiu a ideia de comercializar a tradicional coxinha produzida pela vovó, que mantém a mesma receita há quase um século! O que começou como um serviço prestado apenas para amigos e familiares se tornou um trabalho após uma publicação viralizar nas redes sociais.
Divisão do trabalho
Enquanto Fabíola ficou responsável pela receita e por coordenar a cozinha, as netas se responsabilizaram pelas vendas na internet e organizaram a divulgação. As coxinhas são feitas com peito de frango, farinha de trigo, tempero caseiro e com um toque especial: o amor.
No auge do perfil ‘Coxinha da Vovó Loca’, foram tantos pedidos que foi necessário estipular um limite de produção - 1.000 coxinhas encomendadas por semana, para não sobrecarregar a idosa e os familiares que ofereciam auxílio.
O segredo da longevidade
Aos 94 anos, chama a atenção a memória intacta da idosa. Durante a conversa, ela relembrou, com detalhes, histórias da infância e da vida no interior. A memória mais antiga é a de um acidente de automóvel em que ela se envolveu quando tinha 4 anos. A lembrança traumática aconteceu durante uma mudança de residência da família.
“Nessa mudança, um carro bateu no outro, lá na Serra da Serpentina. Eu sei até o lugar que é. Quando o carro bateu, eu tava no colo da minha irmã mais velha. Na batida, quem tava num carro passou para o outro e eu caí no meio dos dois. Se o carro tivesse passado, eu teria morrido”, relembra.
Ao ser perguntada sobre qual o segredo para a manter uma memória tão boa na velhice, Vovó Loca disse não haver nenhum. Para ela, sua longevidade está relacionada à vontade de viver e no prazer de trabalhar. “É Deus quem dá a gente as coisas, né?”.
Rotina ativa e movimentada
“Sempre tô fazendo coxinha, um ‘crochêzinho’ ou então é a palavra cruzada”, conta a Vovó Loca.
Mesmo que ela divida seus dias entre o interior e a capital, a casa de Vovó Loca ainda é o Morro do Pilar. Lá ela tem uma rotina movimentada e cheia ao lado de funcionários que estao por perto 24h por dia, que ela mantém com o salário da aposentadoria.
Todo dia, quando a vovó se levanta no Morro do Pilar, ela faz café e vai para a horta, de onde ela tira alguns dos ingredientes utilizados nas receitas especiais. Depois da horta, ela joga água nas folhagens e começa a pôr o frango para cozinhar.
“Lá na casa dela, ela não para. Você acorda, ela tá fazendo um doce de leite, depois você levanta, ela já está lá na horta pegando banana para fritar. A mente dela é a mil”, conta a neta Bárbara.
A idosa diz que até tem gás para trabalhar mais, mas que as filhas a seguram e não a deixam fazer muito esforço por conta da idade, principalmente quando ela está em Belo Horizonte.
E o dinheiro?
“Eu gosto de dinheiro. Ninguém vive sem dinheiro. Eu acho que a gente tem que trabalhar e ter um dinheiro honesto da gente também, né?”, diz Loca.
Como boa capricorniana que é, Vovó Loca se preocupa com as finanças pessoais e sempre se virou para conquistar seu próprio dinheiro. Das várias ocupações que já teve, todas foram com o mesmo objetivo, inclusive o preparo das coxinhas: ter sua própria renda.
Hoje em dia, a idosa afirma que o dinheiro que ganha é utilizado para comprar o que precisa para dentro de casa e para pagar os funcionários que a acompanham, já que ela faz questão de continuar morando no Morro do Pilar, mesmo com a grande maioria da família tendo se mudado para a capital.
Fabíola diz que não se importa em comprar muitas coisas para ela mesma, já que recebe muitos presentes dos 14 filhos e dos 20 netos. O que ela gosta é de comer bem e de conseguir ofertar comida e bebida para todo mundo que chega em sua casa, como toda boa avó mineira!
E qual é o sonho da vovó? “Ver os netos e bisnetos formados”. Saúde e energia não vão faltar!
*Sob supervisão de Marina Borges