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Leptospirose ‘invade’ costa brasileira e infecta golfinhos e baleias

A doença bacteriana é comum em animais domésticos e seres humanos; pesquisa é pioneira no Brasil

A doença bacteriana é comum em animais domésticos e seres humanos; pesquisa é pioneira no Brasil

Uma pesquisa pioneira no Brasil descobriu que a leptospirose, comum em animais domésticos e em seres humanos, tem infectado animais marinhos. Os estudos, iniciados em 2020, e publicados nesta semana pela Universidade Federal Fluminense (UFF) buscam pela infecção da leptospira em cetáceos, que são mamíferos exclusivamente aquáticos representados por baleias, botos e golfinhos, e pinípedes, que representam os mamíferos marinhos que alternam entre a vida em ambiente terrestre e aquático, como as focas, lobos, leões e elefantes marinhos.

Uma das hipóteses da infecção, de acordo com a pesquisa, é de que ela ocorra através de efluentes contaminados com urina de rato, especialmente em áreas litorâneas com maior contato humano, como grandes cidades, áreas portuárias e locais com saneamento básico precário.

“No entanto, a verdadeira fonte da infecção ainda é desconhecida, sendo necessário uma pesquisa mais aprofundada neste tema para entender o impacto que a bactéria, que transita pelo ecossistema marinho, representa para a conservação das espécies e para a saúde pública”, detalha a pesquisa.

Os pesquisadores, o professor Walter Lilenbaum, o doutorando Felipe Torres e a pós-doutoranda Maria Isabel Nogueira Di Azevedo, da Universidade Federal Fluminense (UFF), foram pioneiros na condução de uma pesquisa exclusiva entre a Leptospira e os mamíferos marinhos no Brasil, sendo os primeiros a identificar a presença da leptospira patogênica nesse tipo de animal.

“O primeiro objetivo foi detectar a presença da leptospira sem necessariamente saber se ela interage ou não com os hospedeiros. Percebemos que, ao realizar testes de Reação em Cadeia da Polimerase (PCR), buscando pelo DNA da leptospira nos rins de animais mamíferos encontrados já mortos na praia, poderíamos obter resultados significativos. Então, estabelecemos parcerias com 10 instituições de norte a sul do Brasil, todas seguindo o mesmo protocolo”, relata Felipe.

A pesquisa detalha que as amostras de golfinhos, baleias e lobos marinhos foram encaminhadas para o laboratório de bacteriologia veterinária da UFF, onde foram realizados exames moleculares com os tecidos renais dos animais, com resultados positivos.

“A partir da análise do DNA, a pesquisa obteve resultados positivos, detectando a presença da bactéria leptospira. Devido a importância dessa pesquisa, o projeto foi premiado internacionalmente pelo Grant da Cetacean Society Internacional e pela International Association for Aquatic Animal Medicine, além de possuir dois artigos publicados.”

Outra parte importante da pesquisa foi realizada nos Estados Unidos, onde há casos de leptospirose em leões marinhos.

“Nos Estados Unidos, essa pesquisa já vem sendo desenvolvida há mais de 50 anos. Foi observado que essa doença pode causar uma inflamação aguda severa nos rins dos animais, levando-os a encalhar nas praias com dores abdominais, magreza, desidratação e, em casos mais graves, óbito. Ainda não foram encontradas evidências de lesões renais nos animais estudados, pois é necessário continuar avaliando outros parâmetros para confirmar se há manifestação clínica da doença em animais marinhos no Brasil”, revela Felipe.

Jornalista graduada pelo Centro Universitário Newton Paiva em 2005. Atua como repórter de cidades na Rádio Itatiaia desde 2022