Ouvindo...

O nosso Halloween: conheça o ‘Dia do Saci’, comemorado em 31 de outubro

Saci Pererê ou simplesmente saci, o personagem do folclore brasileiro estudado por Monteiro Lobato e Câmara Cascudo é o ‘aniversariante’ do dia

Pererê e Ziraldo em propaganda

Neste 31 de outubro é celebrado o Halloween norte-americano, o popular Dia das Bruxas. A “importação” dessa celebração de origem Celta para o Brasil foi o estopim para mobilizar o debate por uma data nacional.

Foi assim que surgiu o Dia do Saci. Um levantamento da Biblioteca Nacional aponta que a mobilização começou em São Luiz do Paraitinga, cidade do interior de São Paulo. Em 31 de outubro de 2003 o jornal Diário do Commércio, publicado no Rio de Janeiro, trazia a seguinte publicação:

“PERERÊ - Um torneio de chute na abóbora é um dos eventos com que a cidade de São Luiz do Paraitinga, no Vale do Paraíba, comemora amanhã o Dia do Saci. Aprovado pela Câmara Municipal para substituir a tradicional comemoração americana do Halloween a iniciativa visa a valorizar a cultura nacional.”

A partir daí, várias cidades por todo o Brasil aderiram e o Halloween se transformou no Dia do Saci - uma pequena provocação para suplantar a festa “importada”.

A origem do Saci

Há diversas versões para a origem do Saci Pererê. Hoje conhecido por ser um dos clássicos personagens de Monteiro Lobato, autor das histórias do Sítio do Pica-Pau Amarelo, ou por ser um personagem do cartunista Ziraldo e protagonista de uma das primeiras revistas em quadrinhos coloridas, ele está presente na cultura brasileira há bem mais tempo.

Uma das fontes de informações mais citadas sobre o Saci é o livro Dicionário do folclore brasileiro, do folclorista Câmara Cascudo. De acordo com uma publicação da Companhia das Letrinhas, editora que publica, hoje, os livros de Monteiro Lobato, os estudos de Câmara Cascudo apontam que os primeiros registros do Saci são do século 19 e que várias culturas se amalgamaram para construir esse personagem.

Para o autor, o gorro vermelho do Saci pode ser uma herança romana. A personalidade brincalhona e “zoeira” viria dos portugueses. Dos indígenas guaranis, a ideia de que era um curumim, um menino índio. O autor supõe que as mulheres negras escravizadas transformaram o curumim em um menino negro que perdeu uma perna lutando capoeira. Na boca, leva um cachimbo apagado.

Outra versão está no livro “Lendas e Mitos do Brasil”, publicado pelo projeto ‘A Tela e o Texto’ da Universidade Federal de Minas Gerais. Nela, a origem do Saci é do século 18 e seu nome vem do tupi-guarani. Em algumas regiões do Brasil é um moleque peralta. Em outras, um moleque maligno.

Ele é descrito como uma criança que tem uma perna só e uma carapuça vermelha na cabeça - ela garante poderes mágicos ao saci, como aparecer e desaparecer dos lugares.

O saci é conhecido por suas travessuras, como espalhar sal nas cozinhas, trançar as crinas dos cavalos e esconder brinquedos. Diz-se, também, que eles se escondem nos redemoinhos. Sacis não conseguem atravessar rios e quem conseguir pegar sua carapuça ganha direito a ter um desejo realizado.

Lei nacional

Não existe lei nacional que fixe o 31 de outubro como dia nacional do Saci. Já houve tentativas de aprovar uma lei na Câmara dos Deputados. Pelo menos dois projetos foram apresentados à Casa para instituir a data, mas terminaram arquivados.

O dia, então, é celebrado de forma informal em muitos municípios e, em outros, é uma data municipal aprovada pelos legislativos locais.

Coordenadora de jornalismo digital na Itatiaia. Jornalista formada pela UFMG, com mestrado profissional em comunicação digital e estratégias de comunicação na Sorbonne, em Paris. Anteriormente foi Chefe de Reportagem na Globo em Minas e produtora dos jornais exibidos em rede nacional.