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Remédio para ‘nariz entupido’ considerado ineficaz nos EUA é ‘pouquíssimo indicado’, diz médica

Fenilefrina via oral foi declarada sem eficácia por grupo de especialistas de agência estadunidense; substância é usada em medicamentos como Benegrip, Naldecon e Resfenol

Fenilefrina, usada nos principais remédios contra a congestão nasal, é contestada em estudos

A fenilefrina, substância usada nos principais remédios contra “nariz entupido” no Brasil, foi declarada sem eficácia em sua forma oral por um grupo de especialistas da Agência de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA, em inglês). Apesar da decisão não afetar o mercado brasileiro por enquanto, especialistas e empresas já acompanham a situação de perto.

Em entrevista à Itatiaia, a doutora Danielly Andrade, otorrinolaringologista especialista em Rinologia e Face, esclareceu que a fenilefrina está presente em muitos antialérgicos e descongestionantes nasais, mas é pouquíssimo indicado na maioria dos casos e só deve ser tomado em casos específicos, com a indicação de um otorrino.

“A gente indica pouco por ter efeitos colaterais como taquicardia, aumento da pressão, e irritação nasal. Ele é indicado em casos agudos de doença congestiva nasal, mas apenas com acompanhamento médico.”

Apesar de ter efeitos colaterais e não ser indicado na maioria dos casos, a fenilefrina está presente nos remédios contra “nariz entupido” mais vendidos no Brasil e mais usados na automedicação, como Cimegripe, Resfenol, Benegrip, Naldecon e Fluviral.

Danielly afirma que os medicamentos mais indicados nesses casos são sprays nasais com corticoide, que desinflamam as mucosas nasais. Apesar disso, a especialista explica que os pacientes que apresentarem congestão nasal devem procurar um médico, pois esse tipo de problema pode desencadear complicações maiores.

“O problema de não tratar a congestão nasal é que ela traz má respiração, atrapalha o sono, a qualidade de vida, o desempenho em atividades esportivas e aumenta a ocorrência de sintomas infecciosos de repetição. O paciente precisa fazer acompanhamento para ver se o “nariz entupido” é por culpa de uma rinite, desvio de septo ou alteração anatômica.”

Farmacêuticas estão ‘atentas’

A decisão do painel do FDA ainda não é definitivo e, com isso, os medicamentos seguem sendo vendidos nos Estados Unidos. Apesar disso, a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para o Autocuidado em Saúde (ACESSA), entidade que representa empresas como Aché, Bayer e Hypera Pharma, afirmou que está acompanhando a situação.

“A ACESSA destaca a importância da segurança do consumidor e reafirma que os medicamentos isentos de prescrição (MIPs) contendo fenilefrina, amplamente utilizados para o alívio de sintomas da gripe e resfriado comuns, como febre, dor, coriza e congestão nasal, tiveram sua segurança comprovada pela Anvisa e continuam disponíveis no mercado brasileiro.”

Assim como a FDA, a Acessa reafirmou a segurança da fenilefrina e informou que continua monitorando a situação. “Estaremos preparados para avaliar de forma proativa e apropriada, fornecendo orientações claras e precisas aos consumidores sobre o uso seguro e eficaz de produtos de Autocuidado.”

Remédio contra ‘nariz entupido’ pode não ser eficaz

Um painel da Agência de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA, em inglês) passou a considerar a fenilefrina ineficaz nesta terça-feira (12). A substância está presente nos principais descongestionantes nasais vendidos nos EUA e também no Brasil.

Os conselheiros votaram de forma unânime contra a eficácia da substância de forma oral, nos medicamentos chamados vasoconstritores, que reduzem o inchaço e a inflamação das mucosas nasais. De acordo com a decisão, que seguiu um estudo da Universidade da Flórida, apenas uma parte da substância é absorvida pelas mucosas nasais pela via oral.

O que é fenilefrina?

A fenilefrina passou a ser amplamente usada na indústria farmacêutica dos Estados Unidos no início dos anos 2000, quando substituiu a pseudoefedrina, que foi proibida por ser usada na produção de drogas como a metanfetamina. Nesses 23 anos, a fenilefrina passou a estar presente nos principais medicamentos dos EUA e também em outros países, como o Brasil.

Jornalista formado pela UFMG, com passagens pela Rádio UFMG Educativa, R7/Record e Portal Inset/Banco Inter. Colecionador de discos de vinil, apaixonado por livros e muito curioso.