Quatro meses após começar um tratamento revolucionário contra o câncer, que já não respondia mais às terapias convencionais, um paciente que estava doente há 13 anos voltou para casa caminhando e trazendo as próprias malas.
Paulo Peregrino, de 61 anos, estava prestes a entrar na fase de cuidados paliativos quando, em abril deste ano, foi selecionado para ser uma das 14 pessoas a receberem o tratamento com o CAR-T Cell. A técnica utiliza células de defesa do corpo do próprio paciente para combater a doença e 100% brasileira.
No último sábado (9), Paulo deixou Ribeirão Preto, em São Paulo, onde recebeu o tratamento, e retornou para sua cidade natal, Niterói, no Rio de Janeiro. Foram seis horas de viagem até o paciente chegar em casa e reencontrar seu filho, de 29 anos e sua cadela, Aretha.
Apesar de parecer algo simples, carregar as próprias malas e andar é simbólico para Paulo, que em 2022 não conseguia nem mesmo vestir um tênis. Ele nem mesmo ficou cansado com a viagem e decidiu caminhar pelo calçadão da praia de Icaraí, onde reencontrou vários amigos.
Após receber o tratamento revolucionário, desenvolvido pela Universidade de São Paulo (USP) em parceria com o Instituto Butantan e o Hemocentro de Ribeirão Preto, Paulo teve 100% de remissão do tumor.
CAR-T Cell, tratamento revolucionário
No último sábado (8), a arquiteta Renata Vendramini, que tem um linfoma perto do olho esquerdo diagnosticado há um ano, começou o tratamento com o CAR-T Cell.
Até o momento, dos 15 pacientes que passaram pelo tratamento, seis tiveram remissão completa e a doença não voltou. Todos os pacientes tiveram, pelo menos, 60% de remissão, mas quatro morreram pouco depois em decorrência de infecções causadas pelo câncer, ou porque o tumor acabou voltando.
O primeiro paciente do tratamento, Vamberto Luiz de Castro, teve remissão total, mas morreu pouco tempo depois em um acidente doméstico.
Técnica foi desenvolvida por cientistas brasileiros na Faculdade de Medicina da USP e é revolucionário porque utiliza células de defesa do corpo do próprio paciente para combater a doença.
“É um autotratamento, podemos dizer assim. O paciente tem a sua célula T do sistema imunológico retirada, elas vão para o laboratório, onde são modificadas geneticamente. Lá, fazemos uma modificação no DNA das células desses pacientes e agora são células que tem um poder de encontrar o tumor e destruí-lo”, explica o coordenador do Centro de Terapia Celular CEPID-USP e do Núcleo de Terapia Celular do Hemocentro de Ribeirão Preto, Dimas Covas.