Ouvindo...

Síndrome de Guillain-Barré: entenda a doença que gerou estado de emergência no Peru

Condição neurológica aguda pode evoluir para o óbito caso não seja identificada e tratada precocemente

Aproximadamente 5% a 15% dos pacientes morrem em decorrência da doença

O governo peruano declarou emergência nacional devido ao aumento incomum de casos da síndrome de Guillain-Barré no país. O surto já matou quatro pessoas e atingiu 25 regiões. A decisão foi divulgada nesse domingo (9) e vale por 90 dias.

Entenda o que é a doença, quais os principais sintomas e o tratamento:

Segundo o Ministério da Saúde, a síndrome de Guillain-Barré é uma condição neurológica aguda, grave e rara. A doença é considerada um distúrbio autoimune, ou seja, ela acontece quando as células de defesa do corpo humano passam a atacar o próprio organismo. No caso do Guillain-Barré, o sistema imunológico ataca parte do sistema nervoso periférico.

A síndrome afeta a membrana que envolve os neurônios - chamada de bainha de mielina - e prejudica a transmissão do impulso elétrico do cérebro para o resto do corpo. A condição gera uma resposta inflamatória no sistema neurológico, levando os pacientes a sentirem fraqueza muscular, formigamento, dormência e, até mesmo, paralisia.

A síndrome é grave e exige intervenção imediata. Aproximadamente 5% a 15% dos pacientes evoluem para o óbito, geralmente causado por insuficiência respiratória, pneumonia aspirativa, embolia pulmonar, arritmia cardíaca ou infecção generalizada.

Principais sintomas

Os principais sintomas da síndrome de Guillain-Barré são fraqueza muscular e a redução ou perda dos reflexos. A gravidade da doença depende de cada paciente. Há pessoas que apresentam fraqueza leve, enquanto outros podem ter paralisia nos quatro membros.

Segundo o neurocirurgião Felipe Mendes, quando a doença progride, ela possui um padrão ascendente. “Ela começa com a perda na força das pernas e depois vai subindo. Passa para o tronco, braços e, em casos mais graves, pode até afetar os músculos responsáveis pela respiração. Nesses casos o paciente precisa ser entubado e usar a ventilação mecânica para conseguir respirar”, explica.

Segundo o Ministério da Saúde, outros sinais e sintomas podem estar associados à Síndrome de Guillain-Barré:

  • Sonolência;

  • Confusão mental;

  • Coma;

  • Crise epiléptica;

  • Alteração do nível de consciência;

  • Perda da coordenação muscular;

  • Visão dupla;

  • Fraqueza facial;

  • Tremores;

  • Redução ou perda do tono muscular;

  • Dormência, queimação ou coceira nos membros.

Causa

A causa exata da doença ainda é desconhecida, mas ela é associada a infecções anteriores. Segundo o Ministério da Saúde, a infecção por Campylobacter, que causa a diarreia, é a mais comum. Mas o desenvolvimento da síndrome de Guillain-Barré após infecções por coronavírus e zikavírus também foram observadas durante os períodos de surto dessas doenças no Brasil.

Diagnóstico

O diagnóstico é geralmente clínico. Um neurologista identifica os sintomas e investiga a suspeita da doença a partir do histórico do paciente e de exames físicos. Alguns exames laboratoriais também ajudam a confirmar a suspeita.

O exame do líquido da espinha (líquido cefalorraquidiano) analisa caraterísticas presentes no líquido que envolve a medula óssea que podem sugerir a doença. Outros exames como ressonância magnética e a eletroneuromiografia - exame que dá pequenos choques nos braços e nas pernas para identificar lesões neurológicas - também podem ser pedidos.

Tratamento

O tratamento é hospitalar, ou seja, o paciente precisa ser internado para que os médicos acompanhem a doença e façam as intervenções necessárias. O tratamento está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS), que oferece os procedimentos, diagnósticos clínicos, de reabilitação e medicamentos necessários.

Felipe Mendes explica que o tratamento rápido é essencial no combate à doença:

O importante é que o diagnóstico seja feito o mais rápido possível e o tratamento iniciado o quanto antes. O tratamento é o que vai interromper a evolução da doença, diminuir o tempo de infecção e reduzir a possibilidade de sequelas

O tratamento pode ser feito através de do medicamento imunoglobolina intravenosa (IgIV) e do procedimento plasmaférese - técnica que retira o sangue do doente e separa as células sanguíneas do plasma, líquido que contém os anticorpos causadores da doença. O plasma é filtrado e retorna para o corpo do paciente.

Recuperação

Segundo o neurocirurgião, não há um período determinado para que a recuperação aconteça. “Esse tempo é muito variável. Nos casos leves, em poucas semanas o paciente já está recuperado. Nos mais graves, em que houve a necessidade de uma UTI (Unidade de Tratamento Intensivo), a recuperação pode ser bem mais longa. O paciente tem um tempo de internação maior e ainda precisa da reabilitação. Isso pode levar meses”, esclarece.

A reabilitação é parte essencial da recuperação. De acordo com o Ministério da Saúde, a rede pública conta com 136 centros especializados na reabilitação de pacientes com a síndrome de Guillain-Barré. Mendes explica que a reabilitação é feita, principalmente, por meio de fisioterapia para recuperar a mobilidade dos músculos e, consequentemente, dos movimentos.

O médico ainda ressalta a possibilidade de sequelas em casos graves, ou em que houve demora no início do tratamento. “O paciente pode continuar com fraqueza muscular nos membros e, até mesmo, desenvolver um quadro de dor crônica incapacitante. Nesses casos ele utiliza uma medicação para dessensibilizar os nervos”, afirma.

Fernanda Rodrigues é repórter da Itatiaia. Graduada em Jornalismo e Relações Internacionais, cobre principalmente Brasil e Mundo.