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Massacre em escolas: por que adolescentes escolhem a violência? Saiba como identificar sinais

Segundo especialistas, os adolescentes dão diversos sinais antes de escolherem a violência no ambiente escolar

Adolescentes dão sinais de agressividade especialmente pelas redes sociais

Pais, alunos e professores vêm demonstrando preocupação com o aumento de casos de ameaças e tentativas de ataque em escolas no Brasil. Apesar da movimentação do Governo Federal e dos governos estaduais, além do aumento do policiamento nos ambientes escolares, especialistas acreditam que a melhor forma de prevenir massacres em escolas é entender o que leva um adolescente a escolher a violência.

Segundo o psicólogo e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Fábio Melo, não existe uma explicação universalmente aceita para o fenômeno de ataques em escolas, que vêm atingindo inúmeros países pelo mundo. Entretanto, o mais importante é entender que o autor dos crimes não é um monstro, mas alguém que construiu motivos durante a vida para agir desta forma.

"É como numa balança: a história individual do criminoso e a história social do contexto político, onde esses massacres têm acontecido. Tem que tentar entender se existe violência familiar, abuso na escola, bullying ou traumas violentos anteriores na família. Mas é impossível fazer essa análise isolando o indivíduo do seu contexto sociopolítico”, explica o especialista.

Portanto, para identificar os motivos que levam um jovem a ameaçar ou praticar massacres em escolas, é importante entender quais lugares ele frequenta, quais fóruns ele participa e como ele se comporta nas redes sociais. Além disso, deve questionar quais os modelos deste adolescente e quais discursos políticos ele segue.

Sinais de que um adolescente está escolhendo a violência

Segundo o psicólogo Fábio Belo, diversos estudos mostram que adolescentes dão diversos sinais antes de escolherem a violência no ambiente escolar. São eles:

  • Publicações nas redes sociais com conteúdos violentos;

  • Interesse por ideologias políticas armamentistas e neonazistas;

  • Grupos e fóruns que discutem massacres e ameaças ao ambiente escolar;

  • Falas agressivas dentro de sala de aula;

  • Brigas constantes;

  • Pesquisas na internet sobre massacres e armas;

  • Manifestações violentas e agressivas no âmbito familiar, escolar ou em grupos sociais;

  • Comportamentos antissociais.

“A aprendizagem do uso da violência não é natural, isso é sempre aprendido. Esse adolescente vai dar sinais disso o tempo todo: escrevendo, mandando mensagens, ameaçando a escola, falando na sala de aula, levando uma arma um dia e mostrando a arma, pesquisando na internet sobre armas. É preciso ter a verificação disso junto aos pais e à comunidade, quando o adolescente ou a criança manifestar esse desejo da violência e da agressão”, orienta Belo.

Combate à violência nas escolas

O professor Fábio Belo defende ainda que a melhor forma de combater a ameaça de violência nas escolas é prestando maior acolhimento aos alunos. Segundo ele, a divulgação desmedida de ataques às escolas pode influenciar atitudes agressivas nas crianças e adolescentes.

"É preciso acolher e encaminhar essa criança e adolescente para as redes de solidariedade, como a arte, esporte ou comunidades religiosas. Todas essas são redes de acolhimento que poderiam conter os sinais violentos que os adolescentes dão. Chame o adolescente para conversar, encaminhar o adolescente para o psicólogo, tente entender essa história individual e o contexto político social no qual adolescente está vivendo”, recomenda.

Policiamento é a solução?

O psicólogo Fábio Belo também se diz contra o aumento de policiamento no entorno da escola. Ele cita como exemplos para redução dos ataques as políticas adotadas em escolas de Japão, Dinamarca e Espanha, países que possuem índices muito baixos de violência no ambiente escolar ou familiar.

“Países que proíbem a arma, possuem menos ataques, mesmo com armas brancas. Esses dados são relevantes para entender que a questão não é individual, mas também absolutamente social, política e afetiva, então isso tem que ser analisado em conjunto. Onde a gente tem proibição de armas e isso não é propagandeado como o modo de vida, há menos massacres”, argumenta o especialista.