Bem-estar, qualidade de vida,
sustentabilidade. Esses são alguns dos aspectos contidos no ato de habitar. Isso porque a habitação vai além do imóvel em que se mora. Ela inclui o entorno, o bairro, a cidade, o país e até o planeta — e tudo isso somado à convivência entre os indivíduos.
Eduardo Fischer, CEO da MRV&Co, destaca que grande parte das mazelas sociais começam com urbanização inadequada. “Todo problema que a gente discute nas grandes cidades hoje, falta de mobilidade, saneamento, educação, começam com urbanização malfeita, mal planejada ou os dois”, aponta. “A discussão em torno do habitar e do habitability enriquece esse debate para que a gente tenha cidades cada vez mais integradas.”
Para discutir esses temas, a MRV&Co criou, há dois anos, a plataforma
Habitability. E, como extensão natural desse projeto, instituiu o Prêmio Habitability, para homenagear quem esboça o futuro do habitar com soluções para as cidades e o coletivo. O encontro para a entrega do reconhecimento a projetos de destaque ocorreu na noite de quinta-feira (3), na capital paulista, depois da análise de quase 150 ideias de diferentes partes do país.
Foram selecionados projetos em cinco categorias: Caminhos, Consciência, Convivência, Sentidos e Transformação. “Para a escolha, a gente considerou diversos aspectos: aderência às categorias, a regionalidade e a diversidades são alguns deles”, conta Walter Romano, idealizador da premiação. “São soluções concretas, que podem ser replicadas e que podem inspirar outras pessoas.”
Soluções homenageadas
Em Caminhos, o projeto destacado foi a startup
Nina, criada pela pernambucana Simony César. A ferramenta desenvolvida pela empresa permite rastrear e padronizar casos de assédio e violência de gênero no transporte público — Simony foi vítima de uma tentativa de latrocínio e recebeu três facadas ao ser atacada em um ponto de ônibus. Implantada em Fortaleza (CE) desde 2019, a solução já coletou quase 3 mil denúncias de assédio desde que foi adotada.
Os dados são fornecidos para a prefeitura, que pode adotar políticas públicas capazes de ajudar a combater a prática. “As informações incluem as linhas com maior índice de assédio, horários críticos para o trânsito de mulheres em determinadas regiões e as deficiências de infraestrutura urbana para que a prefeitura possa agir com prioridade nesses aspectos e deixar a mobilidade mais segura para as mulheres e, consequentemente, para todos os usuários.”
A categoria Consciência homenageou a
Revolusolar, uma organização social que promove o uso de energia solar nas comunidades Babilônia e Chapéu Mangueira, no Rio de Janeiro. “O modelo envolve, além de maior acessibilidade econômica, a educação, com a formação profissional de instaladores e a conscientização de toda a comunidade sobre energia solar”, explica Eduardo Ávila, diretor-executivo da Revolusolar.
Em Convivência, o projeto escolhido foi o
Desacelera SP. O movimento une pessoas, organizações, coletivos, empreendimentos e projetos que buscam construir uma vida mais desacelerada na cidade. “Desacelerar não diz respeito, necessariamente, a ser devagar. É sentir o que se está fazendo, com convivência afetiva, atenção plena e consciência temporal”, diz Michelle Prazeres, idealizadora do projeto.
A categoria Sentidos homenageou o
Ruína, um escritório de arquitetura de São Paulo que aposta na reutilização e no reúso de materiais. “Pesquisamos como reaproveitar materiais e transformá-los em tecnologias alternativas para a arquitetura e a construção”, destaca Victória Braga, uma das fundadoras do escritório. “Com a crise climática e a escassez de recursos naturais, é mais do que necessário a arquitetura responder às demandas da sociedade nos aspectos social e ambiental e dar alternativas para futuros mais sustentáveis.”
Para Transformação, a iniciativa escolhida foi a mineira
Arquitetura na Periferia. Carina Guedes, cofundadora da ação, diz que o projeto reúne e capacita mulheres para serem independentes ao construir e reformar suas próprias casas. “É importante que haja uma mudança estrutural para que, no futuro, essa ação não seja mais necessária.”
Luhh Dandara, que participou da primeira turma de formação do Arquitetura na Periferia, aponta que essa ação melhora a qualidade de vida da mulher porque é ela quem atua no dia a dia do cuidado com a casa. “É uma oportunidade para as mulheres, de aprender a fazer melhorias e romper com o processo machista que é a construção da casa”, diz. “Fazer isso pelo olhar da mulher melhora a vida dela e permite que ela tenha mais tempo para atividades que vão além das demandas da casa.”
Fischer lembra que habitar e se relacionar são ações que se misturam e se completam. Ele destaca que é a partir da moradia que se projeta o futuro. “Inovar e evoluir não são escolhas. Esse é o único caminho para a transformação.”