Demorou, mas finalmente o Ibama suspendeu o uso do agrotóxico Fipronil para aplicação em folhas e flores. O objetivo é proteger insetos polinizadores, como as abelhas, que desempenham um papel fundamental na produção de alimentos em função da polinização.
Conforme já havia sido adiantado pela reportagem da Itatiaia no ano passado, pelo menos três grandes episódios de mortandade em massa de abelhas no Brasil no ano passado tiveram em comum o uso do Fipronil.
O agrotóxico foi banido na União Europeia e de alguns países da América dos Sul há, pelo menos, dois anos. Em fevereiro do ano passado, o Ministério da Agricultura da Colômbia e o Instituto Colombiano de Agricultura (ICA), acataram a orientação de proibição do uso da substância, feita por uma Comissão Técnica constituída para a adoção de medidas de preservação de insetos polinizadores. Na América do Sul, o Uruguai foi pioneiro, banindo o agrotóxico em 2009.
‘Risco Ambiental Inaceitável’
O Ibama reconhece que publicou a Medida Cautelar porque “as avaliações já realizadas indicam a potencial existência de risco ambiental inaceitável às abelhas”. O comunicado da instituição determina que as empresas que tenham o registro de agrotóxicos com Fipronil publiquem um comunicado de advertência sobre o componente ativo em até 90 dias. Com a decisão, o Fipronil não está proibido nas lavouras, mas fica proibida a sua aplicação nas folhas e nas flores, portanto ele ainda pode ser aplicado nas sementes e no solo.
A substância também está sendo reavaliada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), após ser identificada como um produto com “potenciais riscos à saúde não identificados no momento da concessão de registro”.
O que é o Fipronil?
É o principal componente ativo para controlar insetos sociais, aqueles que formam colônias, como formigueiros e colmeias. Para matar esses insetos, o Fipronil causa um bloqueio nos canais nervosos deles. Então, os insetos são hiperestimulados e morrem, explica Araújo.
Aplicação pode ser terrestre ou aérea
Existem duas maneiras de se aplicar o Fipronil na lavoura: terrestre (na forma sólida, diretamente no solo) e aérea (forma líquida, sobre folhas e flores), que é espirrado em forma líquida nas folhas e flores. O professor da USP/Esalq, mestre em Fitopatologia e doutor em Agronomia/Fitossanidade, José Otávio Menten, acha que não é justo o Fipronil ‘pagar toda a conta, sozinho’, pela mortandade das abelhas, porque há outros fatores que podem provocar efeito semelhante, mas admite que seu uso deveria ser restrito às pragas do solo, evitando-se, por exemplo, sua aplicação por meio de aviões o que atinge indiscriminadamente a flora e a fauna do entorno.
“O problema que eu vejo é a falta de consciência e de comunicação entre os produtores rurais. Muitos deles, quando precisam aplicar um defensivo em suas plantações, não avisam, previamente, os vizinhos apicultores que são pegos de surpresa e têm suas colmeias completamente destruídas. Isso não precisa ser dessa forma. A convivência harmônica entre agricultores e apicultores é possível. As abelhas precisam do pasto apícola nas lavouras e as plantas são beneficiadas com o serviço ecossistêmico de polinização’”.
O que muda com a medida do Ibama?
Com a decisão, o Fipronil não está proibido nas lavouras, mas fica proibida a sua aplicação nas folhas e nas flores, portanto ele ainda pode ser aplicado nas sementes e no solo.