No primeiro dia do VI Congresso de Palma e Outras Forrageiras para o Semiárido, realizado, pela primeira vez, em Montes Claros, Norte de Minas, o termo mais ouvido nas falas de abertura, palestras e rodas de conversa foi “o alimento do futuro”. A referência faz justo à essa cactácea ainda pouco utilizada no semiárido mineiro e cada vez mais valorizada por estudiosos por ser resistente à escassez hídrica - não necessitando de irrigação - e muito rica em nutrientes. Tanto que já tem sido amplamente utilizada na alimentação humana no Nordeste do país e no México onde há décadas compõe pratos com os famosos tacos mexicanos, caldos, pizzas, saladas e tortas salgadas.
Cerca de 800 participantes e organizadores participam do evento, que acontece no Parque João Alencar Athayde, junto com a Palmatech 2023. Na abertura, o presidente do Sistema Faemg Senar, Antônio Pitangui de Salvo, brincou fazendo uma analogia entre a planta e os próprios produtores rurais:
“Ambos são resilientes, têm imensa capacidade de crescimento, perpetuação, e, inclusive, são responsáveis pela sobrevivência de outras espécies e vêm mostrando cada vez mais a importância do que fazem. Tenho certeza de que, se copiarmos o que essa planta faz, vamos continuar avançando de forma muito forte no nosso setor”, concluiu.
Mitos e desinformações
À frente da organização, o gerente regional do Senar Minas, o médico veterinário, Luiz Rodolfo Antunes, disse que a realização do Congresso em Montes Claros é extremamente oportuna, uma vez que o uso da cactácea na região ainda está aquém do que poderia ser em função da desinformação e de alguns mitos, como por exemplo, “de que é uma opção apenas para pequenos produtores” ou de que “é trabalhosa demais”.
“Provavelmente a palma é, hoje, a tecnologia mais importante para o semiárido, Ela pode fazer a diferença entre o produtor lucrar ou não na propriedade. Com ela, conseguimos ter custos de produção e produtividade de animais muito mais eficientes”, afirmou. Não há números oficiais a respeito da utilização da palma no estado, mas acredita-se que menos de 10% dos produtores rurais a utilizem.
A importância da planta
O diretor de Operações Técnicas da Epamig, Trazilbo José de Paula Júnior, disse que era um prazer muito grande receber o congresso por reforçar a importância da planta para o nosso estado como alternativa forrageira”, disse. “Essa iniciativa tem aumentado com várias instituições participando desse movimento e percebemos nitidamente como isso tem sido importante. Nas conversas com os produtores, percebemos como a palma vem se concretizando na alimentação animal. Nós podemos ver também em nossas diversas unidades demonstrativas como os produtores têm atendido a essa difusão de tecnologia”, acrescentou.
Representando a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Mário Borba, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária da Paraíba, destacou o crescimento da cultura da palma desde que eventos voltados para a cultura começaram a ser realizados, em 2004, no México. “Precisamos trazer tudo isso para o nosso semiárido. Saímos de 70, 80 toneladas de palma por hectare para chegarmos a 300, 400 e ainda pode aumentar com os tratos corretos”, explicou.
Banco de Germoplasma
A pesquisadora da Epamig, Leidy Rufino, trouxe para o congresso um trabalho voltado para forrageiras adaptadas ao semiárido mineiro e conservação de forragens. Ela abordou os resultados das pesquisas da Epamig com a palma miúda, a palma sertânea e a palma orelha de elefante mexicana. “Além disso, contamos com um banco ativo de germoplasma com 24 genótipos de palma forrageira, implantado em 2017, cujos resultados iniciais após seis anos de avaliação destes genótipos trouxemos para o congresso”, explicou.
A Pitaya
Você sabia que a palma, além de tudo, ainda dá uma deliciosa fruta? É a Pitaya, que tem um sabor docinho e marcante, sendo ótima alternativa para ser degustada in natura ou compor sorvetes. O especialista Fábio Oséias, da Epamig, disse que:
“A cultura da Pitaya tem conquistado os consumidores do mercado nacional e internacional pela sua beleza e sobretudo por seu sabor”.
Cardápio Forrageiro
Já as pesquisadoras Ana Clara Cavalcante e Alenilda Novais (ICNA) falaram sobre o projeto “Forrageiras para o Semiárido”, iniciativa da Embrapa com a CNA que encontra-se na fase 2.
Elas mostraram o conceito do “cardápio forrageiro”, em que não apenas uma, mas um grupo de plantas forrageiras pode ser utilizada pelos produtores para garantir a segurança alimentar dos rebanhos, especialmente em ambientes de sequeiro.
“São soluções muito adequadas principalmente frente a esse cenário de mudanças climáticas, onde cada vez vai chover menos, a temperatura vai estar mais elevada. Temos uma série de recomendações para garantir que não falte forragem para os rebanhos e, com isso, temos uma pecuária cada vez mais forte e adaptada frente a esse cenário”, detalhou Ana Clara.
Outras atividades
O dia ainda teve as palestras Palma forrageira como estratégia alimentar na produção de ruminantes, com Marcelo de Andrade Ferreira (UFRPE); Sistema de integração de lavoura, pecuária: Caso de sucesso do Vale do Jequitinhonha, com Fredson Chaves (Embrapa); e Variedades e genética de palma forrageira, com Djalma Cordeiro (IPA). Fechando a programação, a chef Antonieta Pozas preparou uma receita de salada de palma com pequi frito na cozinha-show, mostrando que, além de versátil, a planta cai super bem com ingredientes típicos do Norte de Minas.
O VI Congresso de Palma e Outras Forrageiras para o Semiárido e o Palmatech 2023 vão até este sábado (21).
Os dois eventos são organizados pelo Sistema Faemg Senar e pela Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), com apoio da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Federação da Agricultura e Pecuária da Paraíba (Faepa/Senar-PB), Sicoob Crediminas e Banco do Nordeste.
(*) Com informações do Sistema Faemg.