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Publicitário diz que o agro brasileiro precisa se comunicar melhor

O premiado Nizan Guanaes defende uma guinada na comunicação do setor para tornar o agro brasileiro global e encarar a acirrada concorrência internacional

“O agro não pode deixar as coisas caírem no colo dele e não se posicionar”, diz Guanaes.

Apesar de bater recordes na colheita de grãos ano a ano, de ser um dos maiores exportadores de produtos agro do mundo e grande produtor de frutas, carne, ovos e leite, o agro ainda padece de preconceitos e tem que lidar com a desconfiança de parte da sociedade que acusa o segmento de ser um potencial agressor do meio ambiente e compactuar com a prática de trabalho escravo.

Para Nizan Guanaes, um dos publicitários mais premiados do mundo e, durante anos, responsável pelas ações de comunicação da Confederação da Pecuária do Brasil (CNA), o que falta ao agronegócio brasileiro é saber se comunicar melhor. “Nosso agro é internacional, mas não é global. Se você não cria a sua narrativa, seus concorrentes criam. E eles são poderosos,” alertou, essa semana, em entrevista à revista AGFeed.

Em outro trecho ele manifestou surpresa pelo fato do agro brasileiro não estar em Davos; “É inacreditável que o agro brasileiro não esteja em Davos”, referindo-se ao Fórum Econômico Mundial, que em 2023 se reunirá sob o lema “Cooperação em um mundo fragmentado”.

O evento reúne cerca de 2.500 chefes de estado e de governo, CEOs de empresas e representantes da sociedade civil. “Você chega em Davos, você vê a Índia, a China, os Emirados Árabes, todos lá presentes contando suas histórias”, complementou.

O publicitário lembrou ainda que o capitalismo, hoje, é o tempo todo assistido pelas redes sociais. No entanto, na opinião dele falta ao setor, essa compreensão. “Eles carregam o sentimento de que são injustiçados. Mas eles (empresários e produtores) permitem que um monte de exageros seja dito sobre eles.”

Para mudar isso, Guanaes diz que só tem um jeito: dando uma guinada na comunicação. “O agro tem que parar de se lamentar e entrar no ringue para brigar. É tão simples quanto isso. Eles têm que falar que o agro é inovador, sustentável”, afirma.

Veja outros trechos da entrevista:

Nome aos bois

“Sempre falo que é importante separar o agro do ogro. Como em qualquer atividade, sempre vão haver pessoas que não têm caráter, não têm boas intenções, que não são corretas. Qualquer atividade... Médicos, advogados, educadores etc. Então, agro, claro, também tem seus ogros. Mas aí é preciso, sem trocadilho, separar o joio do trigo e dar nome aos bois. Se posicionar”.

Conar do Agro

“A publicidade brasileira fez isso há mais de quarenta anos, com o Conar. O agro deveria ter uma instância dele. Não pode ficar vendo coisas “cair no colo” como se não tivesse nada a ver com isso, porque tem. Nada mais é regional”.

Mau exemplo

“Você vê o caso do vereador do Rio Grande do Sul, que falou lá (Sandro Fantinel, o vereador de Caxias do Sul que foi preconceituoso com os nordestinos na tribuna da Câmara) e vê o trabalho análogo à escravidão (de trabalhadores que faziam a colheita das uvas na Serra Gaúcha). Veja quanto de dano isso fez à imagem do Rio Grande do Sul e a todo o ecossistema. O agro tem de levar isso a sério”.

Orgulho do Agro

“O Brasil tem que ter muito orgulho do agro, ele é sofisticado, é moderno. É o maior nível de inovação. Estive no curso OPM de Harvard e tinham vários empresários do agro. O MIT me chamou para dar uma palestra e disse que não falaria sozinho, chamei vários colegas do agro para falar. O agro deu um show. O agro tem que parar de se lamentar e entrar no ringue para brigar. É tão simples quanto isso. Eles têm que falar que o agro é inovador, é sustentável”.

Ala Radical

“Isso é complicado, não sei como se resolve isso. Mas o agro se enredou em uma dicotomia ideológica. E ninguém moderno faz assim. As pessoas têm de conviver com a alternância da democracia. Nenhum setor, nenhum grande empresário, vira militante. Isso só prejudica ele. Esse tipo de coisa me faz chegar às raias do desespero porque o agro brasileiro é o plexo do Brasil.

Para ser Global

“O agro brasileiro tinha que se anunciar no Super Bowl. Um anúncio lá custa R$ 5 milhões. Quatro brasileiros, todos os anos, deveriam enfiar quatro comerciais no Super Bowl. Ele deveria patrocinar o US Open, Roland Garros. É assim que big player faz.

Fazendas de carbono

“São fazendas aéreas. Mas isso passa também por educação. O Brasil tem que se posicionar como potência verde. Nearshoring, descarbonização... A Amazônia é tratada como problema! Ela é solução para emprego, para divisa, para crescimento científico!”

Responsabilidade do Governo

“Sim, também é responsabilidade do governo divulgar o agro brasileiro no mundo. Mas não gosto de terceirizar responsabilidades. Sabe por que a gente come castanha para a saúde? Porque a indústria foi lá e fez. Por que o café da Colômbia, que é infinitamente pior do que o nosso, ganhou o mundo? Porque fez o trabalho de marketing dele. Não concordo com esse negócio infantilizado de enfiar tudo no colo do governo.

Enquanto o agro não se posicionar e não se envolver, não há solução. Agora, se partir para cima, em quatro ou cinco anos, ganha a narrativa”.

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