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Caprinocultor transforma passatempo em case de sucesso

Ex-produtor cultural, conhecido como o “rei da noite” em BH, profissionaliza capril com 80 cabras e inova produzindo queijos autorais de dar água na boca

O ex-produtor cultural Ramon Fiúza se apaixonou pelas cabras

Quando Ramon Fiúza comprou a Frida, sua primeira cabra em 2014, não poderia imaginar que chegaria onde chegou: produzindo 50 litros de leite/dia, entregando 150 kg de queijos, por mês, para uma fiel clientela, pães de queijo de leite de cabra para a conhecida rede de supermercados Verdemar e ainda abrindo sua propriedade - o Aprisco Chevrèmon - à visitação de quem quer curtir um “dia na roça”.

Produtor cultural renomado, amigo de Elza Soares e Milton Nascimento e de outros ícones do Clube da Esquina como Wagner Tiso, Beto Guedes e Fernando Brant, ele já teve uma vida bem mais agitada. Foi dono de restaurantes como o “Cozinha de Minas” e casas noturnas que fizeram história na noite belo-horizontina como o “Cabaré Mineiro” e o “Máscaras”. “Eu era conhecido como ‘o Rei da Noite’”, rememora.

Saudade desse tempo? Ramon diz que não, que foram bons tempos, mas acredita que tudo tem sua hora e tudo passa. “O segredo é saber reconhecer os momentos de mudar, pausar e, como se diz por aí ‘recalcular a rota’.”

Pois foi isso que ele fez quando decidiu levar uma vida mais pacata. “Eu estava com a bola baixa… me perguntando “oncotó” e “oncovô”? A verdade é que o menino simples que nasceu na pequena Inimutaba, interior de Minas, ainda estava bem vivo aqui”, diz. Quando comprou a Frida (na verdade, trocou por 12 galinhas) ele se lembrou de que na infância a espécie havia “lhe salvado” da intolerância ao leite de vaca. “Certa ocasião, meu pai comprou algumas cabras para me aleitar. Daí comecei a observar os hábitos delas. Ficou essa semente em mim”.

Cabras são ‘muito pets’

Quando se mudou de vez para o sítio Ramon começou a investir em pequenas criações: galinhas, patos…até se lembrar das cabras. Descobriu que a espécie não sabe viver sozinha porque precisa de disputa, de companhia. Então comprou a Shiva… e depois outra e mais outra… “Me apaixonei pelas cabras. Descobri que elas são muito “pets”, têm personalidade (umas são mais pirracentas, outras mais dóceis), adoram carinho, encaram a câmera, fazem pose…Virou um hobby”. O agora produtor rural começou a estudar tudo sobre a caprinocultura, ler livros, assistir vídeos, entrou em grupos de discussão de Whatsapp…Hoje são mais de 80, devidamente nomeadas com nomes sugestivos como: Alice, Catah, Camila, Soneca, Shaby, Eda, Amora, Clara, Gal, Bituca, Suzana e Ganesha.

A Grande Virada

Mas a grande virada aconteceu quando ele passou a integrar o projeto ATeG Caprinocultura do Sistema FAEMG, com direito a assistência técnica gratuita por dois anos. “Fui orientado a separar os lotes das cabras por idade, produtividade, lactação; a fazer diariamente o teste do leite (por questões de sanidade). O que aconteceu? Com acertos no manejo, muito cuidado, carinho e ração balanceada, a produção de leite, praticamente, dobrou.

Foi então que Ramon teve a ideia de colocar em prática outra verve: a de culinarista. “Sempre rabiei o fogão, desde pequeno - conta - sempre fui um estudioso e um curioso da gastronomia”. Com leite sobrando no capril Chevrèmon (chevrè=cabra em francês) e (mon=de Ramon), ele começou a testar receitas de queijos e hoje tem um cardápio super personalizado. Veja:

  • Nhôtim Olhaduras - Queijo meia cura com casca lavada com olhaduras do bem

  • Topo do Mundo - queijo meia cura com casca rústica ou florida - cujos nomes fazem alusão a pontos turísticos de Brumadinho.

  • Labnet - tipo coalhada seca - É “primo do queijos Boursin e Feta ”.

  • Ca brie ro - Brie de cabra mineiro

  • João Filé - É o Parmesão, feito com leite de cabra

  • Arengueiro - Feito com leite cru, com dois anos e meio de maturação. Come-se chupando pequenos pedacinhos. À medida que se come, vai-se salivando em cada parte diferente da língua. A propósito, arengar significa fofocar.

  • Sourcream - É um tipo de cream chesse, uma pastinha azeda e deliciosa.

  • Queijo Minas Padrão - É o queijo Minas Padrão normal, só que de leite de cabra

Um dia na roça

A maior parte dos queijos do Aprisco Chevrèmon são vendidos pelas redes sociais mas você também pode apreciá-los in loco. Ramon e sua esposa Cida Souza recebem visitantes interessados em ter uma “vivência na roça”, observando de perto os cuidados com as cabras, dando mamadeira aos cabritinhos e acompanhando o processo de fabricação e produção dos derivados do leite. Também é oferecida uma degustação com tábua de queijos de cabra, geleias, frutas, doce de leite e pão de queijo, além, claro, do leite de cabra. Sua próxima meta é reformar a queijaria com uma verba que deverá receber da Vale, pelo rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão em 2019.

Harmonia e gratificação

Ramon diz que o sucesso não vem fácil, é fruto de trabalho árduo, de acordar todos os dias às 5h da manhã. Mas a gratificação é certa, vem na forma do reconhecimento dos consumidores, amigos e clientes e também da harmonia com as cabras. “Vivo os melhores momentos da minha vida. Me sinto muito abençoado. Elas me energizam muito. São alegres, curiosas e muito ativas. Sinto a linguagem delas e consigo interagir o tempo todo, Tanto nos berrinhos quanto no jeitinho delas no dia a dia. Uma que não aparece para o leite… outra que está muito agitada ou amoadinha. Entendo todos esses significados. E sinto que elas também me entendem. É incrível. Acho que o segredo dos meus sucesso é esse: não viver sem grandes sonhos. São eles que impulsionam minha vida”.


Os preços da visitação ao aprisco são:

Adulto (mínimo 4) R$ 80,00 - Crianças até 12 anos R$ 40,00 Crianças até 6 anos Não pagam. Contato para reserva: (31) 99665-5335 (31) 99110-7311

Maria Teresa Leal é jornalista, pós-graduada em Gestão Estratégica da Comunicação pela PUC Minas. Trabalhou nos jornais ‘Hoje em Dia’ e ‘O Tempo’ e foi analista de comunicação na Federação da Agricultura e Pecuária de MG.