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Produtor aposta no cultivo de pimenta e vê faturamento aumentar 800%

Receita que era de R$ 2 passou a R$ 18 mil com comercialização de molhos e temperos

Dona Selmira, de 74 anos, faz questão de ajudar o filho Emerson na colheita das pimentas

Foi a pouca oferta de água em sua região e a má remuneração dos laticínios pelo litro do leite, os motivos que fizeram o produtor rural Emerson Rafael de Almeida, de Corinto, região central de Minas, a dar uma guinada na profissão.

Filho de produtores rurais, ele trabalhava com produção de leite e cultivava maracujá, abóbora e quiabo. Mas foi ficando desanimado porque o esforço era grande e o retorno financeiro mal dava para cobrir os custos de produção.

Pesquisou e descobriu que o cultivo da pimenta não exigia muita água, tinha fácil manejo e boa saída no mercado local. Numa área pequena da fazenda Santa Helena, ele plantou inicialmente 1000 pés da espécie Malagueta.


Clientes eram fabricantes de linguiça

Com ajuda da mãe, dona Celmira, de 74 anos, e de um funcionário, ele colhia a produção, colocava em garrafas Pet e vendia in natura para fabricantes de linguiça da região. Mas ainda não estava satisfeito. Seu sonho era aumentar, diversificar e beneficiar a produção. Em vez de simplesmente colher a pimenta, e queria produzir os molhos, envasar, rotular e vender diretamente para o consumidor por um preço mais atraente. Começou, então, estudar nas horas vagas por meio de cursos on-line. “Quanto mais eu aprendia, mas tinha vontade de colocar em prática”.


ATeG Olericultura

Nesse meio tempo, o Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) convidou-o a participar de um projeto denominado ATeG Olericultura (que engloba a produção de legumes, vegetais, hortaliças e, claro, as pimentas). A proposta era receber assistência técnica gratuita por dois anos, com acompanhamento de um profissional especializado em troca apenas de comprometimento.


Ajustes no Manejo

Emerson gostou da ideia. A engenheira agrônoma Paula Fabiane Alonso fez alguns ajustes no manejo da lavoura, incrementou a nutrição do solo, aumentou a distância entre um pé e outro e instituiu o sistema de irrigação por gotejamento, por meio do qual a planta é irrigada diretamente no solo, sem que a água atinja as folhas, o que é bom porque essas, quando úmidas, podem se tornar um atrativo para o desenvolvimento de fungos.

Paula também sugeriu a inserção de outras espécies de pimentas mais raras e de maior valor econômico, como a Jalapenho e a Carolina Reaper, considerada a pimenta mais ardida do mundo.


Título de Referência

A área de plantio do alho poró, espécie que proporciona um tempero de alto valor agregado, também foi reestruturada com foco em obter maior volume na colheita. O resultado? O produtor conquistou o título de referência no fornecimento de matéria-prima: as mudas, que antes eram compradas, agora saem do próprio terreno e abastecem outros produtores.


Cursos on-line

O produtor começou a fazer testes com os molhos e pastas de tempero. “Eu colocava todo mundo para experimentar e ouvia as opiniões”, conta. Foi o pessoal do Senar quem também lhe deu o suporte sobre estratégia de marketing, apresentação do produto, divulgação e degustação. Com o material pronto, Emerson foi participar de uma feira para supermercadistas, em Belo Horizonte.

Virada de ‘chave’

No segundo dia, um grande distribuidor se interessou por seus produtos e lhe fez uma proposta para comprar praticamente toda a sua produção. Em oito meses, o cultivo de pés de pimenta dobrou, saindo do patamar de RS 2.200 para RS 5.500. Além disso, desde o início de 2023, a receita que antes era de R$2.000 saltou para R$18.000,00 ao mês, representando um aumento de 800%. Hoje, para atender a demanda, a produção que antes apresentava uma média de 250 potes de tempero e 500 garrafas de molho de pimenta por mês, chega a 6.000 quilos. “É só o começo”, comemora Emerson.

“Fico muito feliz quando os produtores atendidos pelo programa passam a conhecer bem a atividade, aproveitam as oportunidades e se abrem para a inovação. Em um mercado amplo, extenso e promissor como este, o céu é o limite”, disse Paula.

Maria Teresa Leal é jornalista, pós-graduada em Gestão Estratégica da Comunicação pela PUC Minas. Trabalhou nos jornais ‘Hoje em Dia’ e ‘O Tempo’ e foi analista de comunicação na Federação da Agricultura e Pecuária de MG.