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Lavouras de pimenta recuam por falta de mão-de-obra

Especialista diz que produtores desistiram da atividade por não encontrarem força de trabalho suficiente para a colheita

A maior parte dos produtores do estado vende as pimentas in natura

Minas Gerais é um dos maiores produtores de pimenta do país, de acordo com dados do IBGE de 2020. Mas, segundo a engenheira agrônoma do Sistema Faemg/Senar, Paula Fabiane Alonso, nos últimos anos, muitos produtores mineiros desistiram de plantar a especiaria por falta de mão de obra para a colheita. O fato reduziu, consideravelmente, as lavouras da especiaria no estado.

“O produtor de pimentas de Corinto, Emerson Rafael Almeida para quem presto assistência técnica, na região de Corinto, não enfrenta esse problema porque conta com mão de obra familiar”, disse.

Emerson, no entanto, rebate dizendo que já “não está sendo mais assim”. Para a safra atual, ele teve que contratar quatro funcionários e avisa que deverá precisar de mais colaboradores nos próximos meses porque já há outros clientes do Paraná e Santa Catarina, interessados em comprar sua produção. Além disso, ele pretende oferecer os molhos de pimenta e as pastas de alho que produz para degustação nos restaurantes das cidades do entorno, na expectativa de que surjam novos clientes.

Sobre a mão de obra, ele diz: “a colheita é um trabalho puxado, exaustivo porque exige que a pessoa fique longas horas exposta ao sol. Para todos os meus colaboradores, ofereço o sombrite (espécie de guarda-sol gigante) e uma remuneração melhor que a média local”, contou o produtor.


Pequenos produtores devem se unir

Emerson é um raro caso de produtor de pimenta que decidiu beneficiar a própria produção e tem tido um retorno muito positivo. Para se ter uma ideia, antes ele vendia as pimentas in natura em garrafas Pet, para as indústrias de linguiça a R$ 30, cada. Hoje, vende o equivalente a uma garrafa Pet de molho por R$ 212, o que significa um aumento de cerca de 700%.

A questão é que, segundo Paula, a maior parte dos produtores mineiros não está estruturada para beneficiarem suas pimentas. A maior parte das lavouras em Minas são destinadas à comercialização in natura e têm como responsáveis, pequenos produtores produzindo em áreas igualmente pequenas. “São pessoas que fazem suas próprias colheitas sem necessidade de mão-de-obra externa. Em geral, eles se juntam a outros para comercializar um volume maior, o que é uma alternativa interessante”, aconselha.


Demanda deverá ser cada vez maior

A engenheira agrônoma acredita que a tendência é que a demanda pela pimenta beneficiada seja cada vez maior porque a valorização do produto no mercado está aumentando. E deve aumentar ainda mais nos próximos dias, pelo menos 10%. Converso muito com compradores no CEASA sobre como está a oferta e a demanda do produto no mercado. O que eles dizem é que falta pimenta, tem muita gente querendo comprar e não encontra na quantidade que precisa”.


Pimentas mais cultivadas em Minas

  • Malaguetinha

  • Carolina reaper

  • Malagueta

  • Biquinho

  • Dedo de moça

“Eu aposto muito no crescimento da pimenta Jalapeño para a indústria das pimentas de mesa e de molho num futuro próximo, acho que ela terá uma grande aceitação”, disse Paula.


Produção Nacional

O Brasil é um dos cinco maiores produtores mundiais de pimenta e está entre os três maiores exportadores de pimenta-do-reino do mundo. A produção em 2019, segundo a pesquisa do IBGE, atingiu o recorde de 109.400 toneladas. Desse total, 62.600 toneladas foram cultivadas em terras capixabas, o que significou um aumento de 3,4% em relação ao ano anterior. Os municípios de São Mateus, Jaguaré e Vila Valério estão entre os maiores produtores da especiaria.

Maria Teresa Leal é jornalista, pós-graduada em Gestão Estratégica da Comunicação pela PUC Minas. Trabalhou nos jornais ‘Hoje em Dia’ e ‘O Tempo’ e foi analista de comunicação na Federação da Agricultura e Pecuária de MG.