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Cresce protagonismo feminino no campo

Apesar do avanço, segmento continua sub-representado: menos de 30% das startups rurais estão sob comando de mulheres

Juliana Mattana, Juliane Blainski e Caroline Pimenta, fundadoras da ManejeBem

No primeiro semestre de 2022, a América Latina registrou um aumento de 100% no índice de venture capital (referência em investimentos que geram retorno para o bolso e o planeta) destinado a empresas lideradas por mulheres, na comparação com dados de 2019. Apesar do avanço indicado pela pesquisa da Associação de Capital Privado da América Latina (LAVCA), o segmento feminino continua sub-representado nos empreendimentos rurais no Brasil.

É o que indica o primeiro levantamento de gênero feito a partir da base de dados do Radar Agtech Brasil 2022, que identificou menos de 30% das startups sob comando de mulheres: 520 entre as 1.703 catalogadas. O capítulo 3 do Radar Agtech Brasil 2022 traz uma análise quantitativa da composição societária das empresas fundadas por mulheres.

Além dos dados, o capítulo discute o protagonismo feminino nas ciências agrárias e no empreendedorismo agtech, destacando aspectos relacionados à desigualdade de gênero neste meio histórica e majoritariamente masculino. A seção apresenta, ainda, resultados de consulta realizada pelas autoras do capítulo sobre a percepção de um grupo de mulheres sobre os desafios e as perspectivas para cientistas e empreendedoras atuantes no setor agropecuário.

Entre as fundadoras de agtechs entrevistadas para a consulta esteve Priscilla Veras, citada este ano entre as 20 mulheres inovadoras pela ForbesAgro. Ela está à frente da empresa Muda Meu Mundo - plataforma que conecta o pequeno produtor com o varejo, por meio de inteligência de dados para uma alimentação sustentável. Também foi ouvida Gabriela Silva, da empresa Agribela, criada em 2016 e ganhadora de três prêmios internacionais, atuando com produtos voltados à redução de uso de insumos agrícolas.

Os números da participação feminina

Dados mapeados em parceria com o Sebrae mostraram que existem 520 empresas (28,7% do total de startups) com ao menos uma sócia em sua estrutura de comando entre as startups identificadas na base de dados do Radar Agtech 2022. O levantamento apontou ainda que empresas com uma única sócia somam 407, a maior porcentagem (78%); com duas sócias são 93 (18%), sendo que apenas 20 (4%) têm três sócias ou mais.

A análise mostra ainda que empresas com uma fundadora e com apenas fundadoras são em número de 59 e 56 (11%), respectivamente. Com uma fundadora e um fundador o número sobe para 211 (41%), maior que aquelas catalogadas em outras composições, que totalizam 194 (37%).

Segundo Fabiane Astolpho, Co-Fundadora da Fruto Agrointeligência e Consultora Associada da Homo Ludens Inovação e Conhecimento, estes números só tendem a crescer. “Enquanto o número de agtechs tende a estacionar ou diminuir, em decorrência de fusões, aquisições e consolidações, as agtechs fundadas por mulheres tendem a aumentar”. A empreendedora já tinha mais de 50 anos quando fundou a agtech e observa a necessidade de mais iniciativas de apoio às mulheres. Em especial, frentes de investimento e financiamento.

Em 2016, três mulheres - Juliana Mattana, Juliane Blainski e Caroline Pimenta - fundaram em Florianópolis (SC) a startup ManejeBem, voltada ao segmento da agricultura familiar. O aplicativo ManejeChat, desenvolvido pela empresa, auxilia na implementação de projetos e metas nas dimensões ambiental, social e governança (ESG na sigla em inglês).

A agtech é uma das 520 catalogadas pelo Radar Agtech Brasil 2022. Em seis anos, computa 15 projetos com os quais alcançou mais de um milhão de acessos por agricultores/as familiares e técnicos/as agrícolas, em dez estados brasileiros. A ferramenta utiliza técnicas de inteligência artificial para auxiliar o produtor na avaliação da sustentabilidade da produção do cacau na região Sul da Bahia.

História inspiradora

Juliana Mattana (foto) é a diretora de inovação da jovem empresa, que ajudou a fundar ao lado de Caroline Luiz Pimenta e Juliane Lemos Blainski.

“Nunca tinha pensado em empreender”, conta a bióloga mestre em Biotecnologia que apostava na carreira acadêmica. A empresária de 34 anos deixou a estabilidade do emprego público para abrir o próprio negócio. O papel da família e das parcerias nos desafios impostos às mulheres têm destaque na fala da empresária, cuja trajetória se assemelha a de outras mulheres dispostas a enfrentar riscos e desafios em busca da realização pessoal e profissional.

(*) Com informações da Embrapa

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