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Produtores investem na qualidade do leite para melhorar valores pagos pelo litro do produto

Com ajustes na alimentação das vacas, tem sido possível aumentar os sólidos, utilizados na produção de queijos, manteiga e iogurte

Um leite de boa qualidade, com bons níveis de proteínas, gorduras, carboidratos e sais minerais - os chamados sólidos totais - vale mais na negociação com os laticínios. Então, melhorar esse índice tem sido a saída para os produtores driblarem os baixos valores pagos pelo litro do produto. Mas o consultor master do programa de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG Leite) do Sistema FAEMG, Walter Miguel Ribeiro, explica que a equação não é tão simples assim. Em primeiro lugar, não são todos os laticínios que têm essa política de remuneração. Em segundo, não basta ter uma boa quantidade de sólidos é preciso também ter baixos índices de CCS (Contagem de Células Somáticas) e CPP (Contagem Padrão de Placas).

“A indústria quer sólidos porque aumenta os rendimentos do que é produzido. Mas também quer um produto sanitizado, livre de doenças e bactérias. Os sólidos são importantes porque representam uma economia. Por exemplo, se o leite tiver poucos sólidos, serão necessários 10 litros para fazer 1 kg de queijo. Se tiver muitos sólidos, com 7 litros faz-se um queijo com o mesmo peso e tamanho. Sem contar a melhoria do sabor”, explica Ribeiro. Ele conta que conhece queijeiros que fazem queijos com o leite tirado pela manhã e com o leite tirado à tarde. “O da tarde, por ter, naturalmente um volume menor, é mais concentrado, tem muito mais sólidos e é muito mais gostoso. Então, o produtor, espertamente, o vende mais caro”.

De qualquer forma, o consultor reitera que todo trabalho de assistência técnica mira a qualidade do leite - com ausência de microrganismos nocivos e coliformes fecais - e, claro, o aumento dos sólidos usados também na fabricação de requeijão, iogurte e manteiga.

Isso se consegue com ajustes na alimentação do rebanho. De acordo com estudo publicado pelas pesquisadoras Cristiane Viana e Karina Toledo da Epamig, o teor de sólidos no leite sofre variação de acordo com a genética, saúde, boas práticas de ordenha e o manejo nutricional de vacas em lactação, sendo essa última uma das estratégias mais eficazes.

A nutrição está diretamente relacionada à produção de leite, seja no volume e/ou na composição de sólidos. Uma vaca saudável e bem alimentada, tendo todas as exigências de nutrientes supridas com a alimentação, mantida em um ambiente que proporcione conforto e bem estar, terá condições de expressar o seu potencial máximo de produção de leite e, consequentemente, maiores teores de sólidos.

Nesse sentido, é ideal garantir um suprimento adequado de proteínas, energia, fibras, minerais e vitaminas aos animais, por meio de uma formulação adequada da dieta a partir do volumoso que o produtor tiver disponível, seja ele pastagem, silagem ou feno. “É importante procurar o auxílio de um profissional, que irá calcular a quantidade apropriada de ingredientes da dieta para atender às exigências dos animais”, salienta Karina Toledo.

As principais recomendações das pesquisadoras são a otimização da fermentação ruminal das vacas e o uso de alimentos volumosos com fibras de alta qualidade. Segundo elas, os produtores devem priorizar as dietas ricas em energia e proteínas, pois são componentes essenciais para a síntese da proteína do leite. “Outra possibilidade é a inclusão na dieta de aminoácidos protegidos, favorecendo um aumento da proteína microbiana”, diz Karina.

Já a gordura é o componente com maior potencial de alteração por meio da nutrição. “A redução no teor de gordura do leite está relacionada a alterações no metabolismo de ácidos graxos, causadas, por exemplo, pela ingestão de dietas com altas quantidades de amido ou óleos. Mas quando é fornecida uma dieta com fibras de qualidade e matéria seca regular, tem-se um favorecimento na produção de ácidos graxos voláteis no rúmen do animal, o que favorece o aumento do teor de gordura no leite”, explica Cristiane Viana.

Para as pesquisadoras, outra estratégia importante para elevar o teor de gordura é o aumento na frequência de alimentação dos bovinos, por ser uma prática que evita flutuações do pH ruminal e favorece a manutenção dos microrganismos produtores de ácido acético no rúmen, o qual ajuda na formação da gordura no úbere das vacas. No caso de animais confinados, a indicação é que o cocho esteja sempre cheio, com oferta de alimento o dia todo.

“A efetivação dos programas de melhoria na qualidade do leite é vantajosa para o produtor, que terá mais rendimento e receberá uma bonificação, para a indústria, que irá produzir com menor custo e maior prazo de validade, e para o consumidor, que poderá ter produtos de qualidade e que não ofereçam riscos à sua saúde”, conclui Cristiane.

Maria Teresa Leal é jornalista, pós-graduada em Gestão Estratégica da Comunicação pela PUC Minas. Trabalhou nos jornais ‘Hoje em Dia’ e ‘O Tempo’ e foi analista de comunicação na Federação da Agricultura e Pecuária de MG.



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