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Explorar o leite é castigar uma criança

O pior é que já tem laticínio querendo pagar menos ao produtor por um litro de leite e aumentar o lucro empresarial; inacreditável

Colunista Valdir Barbosa discute o comportamento das indústrias de laticínios

Ainda bem que a CNA - Confederação Nacional da Agropecuária - reagiu a tempo se movimentando nacionalmente para bloquear a possibilidade de um comportamento inadequado por parte de indústrias de laticínios que projetavam através da cartelização reduzir o preço do leite pago ao produtor.

Trata-se de uma medida desumana e irracional no momento em que o leite entra no pico da entressafra correndo o risco de desequilibrar novamente a cadeia que liga o produtor/indústria/consumidor. Vários outros médios e pequenos que insistem na produção do leite também poderão sair do mercado, assim como aqueles que foram eliminados recentemente.

Deixar de remunerar adequadamente o produtor, a captação estará enfraquecida. Com o mercado retraído, voltando a sobrar leite no circuito, será que a única alternativa é penalizar o produtor e consequentemente o consumidor?

Em qualquer segmento do mercado é fundamental que as planilhas do produtor, da indústria e do consumidor andem em sintonia. Um desalinhamento, além dos limites comercialmente toleráveis, pode desencadear uma quebra generalizada e só se salva quem tem o comando financeiro.

E será possível o comandante se manter equilibrado no mercado sem os braços que o sustentam? É sempre bom lembrar que 70% do leite produzido no país vem de pequenos produtores, aquele produtor de 30, 40, 50 e 100 litros por dia.

Explorar o leite só mirando o lado comercial e nunca percebendo que o social faz parte de um contexto mais importante, é castigar uma criança que se apresenta como o maior símbolo do consumo dessa proteína tão necessário para o desenvolvimento do ser humano.

E um detalhe muito importante num momento pós pandemia, meio de uma guerra, todos nós com os cintos apertados.

Os menos favorecidos deixaram para trás o desejo de uma melhor alimentação para seus filhos, melhores roupas, etc. A maioria hoje pensa diferente!

Uma pesquisa feita pela Associação dos Supermercados do Rio de Janeiro chegou a seguinte conclusão:

Principais desejos de quem está recebendo o Auxílio do Governo Federal de 600 reais e vale gás:

1 - comprar carne bovina

2 - leite e derivados

3 - carne de frango

4 - produtos de limpeza

5 - pães, bolos e biscoitos

Perceberam? Ninguém está preocupado com viagens, praias, churrascos e cervejas. Por isso é bom refletir sobre as palavras do Mestre do Leite da Faemg, Jonadan Ma:

“Nesse momento é preciso bom senso e visão de futuro”.

Produtor rural no município de Bambuí, em Minas Gerais, foi repórter esportivo por 18 anos na Itatiaia e, por 17 anos, atuou como Diretor de Comunicação e Gerente de Futebol no Cruzeiro Esporte Clube. Escreve diariamente sobre agronegócio e economia no campo.