Quando militantes do Hamas lançaram um ataque surpresa contra Israel, no sábado (6), uma rave que acontecia no sul do país foi um dos primeiros locais atacados.
Homens armados começaram a atirar contra o público que fugia do local e fizeram outros de reféns. O serviço de resgate israelense encontrou mais de 260 corpos no local do festival. Três brasileiros, que estavam no evento, seguem desaparecidos.
A rave, que acontecia na região do kibutz Re’im, a metros da Faixa de Gaza, era a primeira edição em Israel do festival de música eletrônica “Universo Paralello” – criado há 23 anos, no Brasil, pelos pais do DJ Alok. O pai do artista goiano, Juarez Petrillo, se apresentou no evento.
Apesar da origem, o evento de sábado não foi diretamente realizado por brasileiros. A marca foi licenciada e a organização ficou por conta da produtora “Tribe of Nova”. Além de “Universo Paralello”, nos últimos dias, o evento também vem sendo chamado pela imprensa de “Festival Nova”, “Supernova” ou “Tribe of Nova edição Universo Paralello”.
Festival foi criado no Brasil há mais de 20 anos
Há 23 anos, foi criado em Goiás um festival influenciado pela vertente da música eletrônica chamada de “trance”. Entre os fundadores do evento estavam Juarez Petrillo, o DJ Swarup, e Adriana Peres Franco, a DJ Ekanta – pais dos irmãos gêmeos e também DJs goianos, Alok e Bhaskar.
Após as primeiras edições, o evento foi transferido para a praia de Pratigi, no município baiano de Ituberá, onde ganhou corpo e se consolidou como um dos festivais mais importantes de música eletrônica na América Latina.
A próxima edição brasileira acontecerá entre os dias 27 de dezembro e 3 de janeiro, ocupando uma área de 3 quilômetros de extensão “em uma comunidade construída especialmente para receber os convidados”.
Ao longo dos anos, o Universo Paralello começou a ser realizado também em outros países, como França, Argentina, Espanha e Portugal, por exemplo.
Festival chegava a Israel pela primeira vez; pai de Alok estava no line-up
Neste sábado (6), organizado pela produtora israelense “Tribe of Nova”, aconteceu a primeira edição do Universo Paralello em Israel.
Com o local anunciado poucos dias antes, o evento aconteceu em um terreno na região sul do país, próximo à Faixa de Gaza.
“O lendário festival Universo Paralello, do Brasil, está prestes a aterrissar em nosso pequeno país! Parte integrante da nossa visão tribal contínua é a criação de eventos inesquecíveis e de quebra de rotina, cheios de boas notícias e com padrões internacionais”, escreveram os organizadores na
“A Tribe of Nova convida todos vocês a mergulhar conosco em uma jornada de união e amor que combina um local novo e espetacular, a melhor música do mundo, performances artísticas extraordinárias e multifacetadas e muitos outros conteúdos alucinantes e de tirar o fôlego”, concluíram.
Entre as atrações, constavam DJs de diversos países, como Japão, França, Inglaterra, por exemplo. O único representante brasileiro era o DJ Swarup, pai de Alok, e fundador do evento.
Estamos profundamente chocados, dizem organizadores
Após o ataque do Hamas, os organizadores brasileiros do Universo Paralello publicaram uma nota nas redes sociais afirmando estarem “profundamente chocados com os últimos acontecimentos em Israel envolvendo ataques simultâneos sem precedentes em diversas regiões do país pelo Hamas”.
“Como muitos de vocês sabem, o evento “Tribe of Nova edição Universo Paralello” estava sendo realizada na região Sul, próximo a Faixa de Gaza no último dia 6, um dos lugares atacados. Israel é reconhecida mundialmente por grandes eventos de música eletrônica e o local é conhecido por realizar diversos deles, tendo no dia anterior acontecido um festival com mesmo perfil NO MESMO LOCAL”, escreveram.
“O Universo Paralello sempre licenciou sua marca para eventos fora do Brasil onde um produtor é responsável pela organização e contratação de artistas vinculados, como aconteceu no caso do Swarup. A marca foi licenciada e o DJ contratado pela produção israelense da “Tribe of Nova”, assim como aconteceu na Índia em 2015, Argentina em 2022 e 2023, Espanha em 2022, Portugal em 2022 e 2023, Tailândia em 2023, México em 2022, França em 2016 e 2023 e Israel em 2023″, acrescentaram.
Com a repercussão do conflito, o DJ Alok também foi às redes sociais. Ele voltou a destacar que seu pai foi ao evento como artista contratado.
“Ele está seguro em um bunker aguardando direcionamento para retornar ao Brasil”, escreveu o artista. O governo brasileiro disse, nesta segunda (9), que mais de 1.700 pessoas aguardam ajuda para deixar Israel.
Após ataque do Hamas, mais de 260 corpos foram encontrados no local do festival
Ao menos 260 corpos foram encontrados no local do festival, segundo o serviço de resgate israelense Zaka.
Explosões podem ser ouvidas em um vídeo feito pela jovem Tal Gably, dela e de amigos caminhando pelo recinto de concertos que se esvazia rapidamente, a cerca de três quilômetros da fronteira.
Quando os participantes fugiram em seus carros, Gably disse que as estradas ficaram obstruídas e ninguém conseguia se mover. Foi então que os tiros começaram, ela diz.
O Hamas mantém mais de 100 reféns israelenses em Gaza, incluindo oficiais de alto escalão do exército, afirmou um porta-voz do grupo militante no domingo.
Além dos cativos israelenses, há também outras nacionalidades que se acredita terem sido feitas reféns, incluindo cidadãos mexicanos e brasileiros – complicando a resposta de Israel ao ataque do Hamas.
Três brasileiros que estavam no festival estão desaparecidos
Ao menos três brasileiros estão desaparecidos em Israel, de acordo com fontes do governo brasileiro.
A CNN apurou que eles estavam no “Universo Paralello” e há pelo menos um brasileiro ferido.
À CNN, namorada de brasileiro desaparecido relata pânico: “Nos defendemos com corpos de mortos”
Rafaela Treistman, namorada de Ranani Glazer, brasileiro que está desaparecido em Israel, relatou em entrevista à CNN neste domingo (8) momentos de pânico em ataque do Hamas ao país.
Eles estavam junto de um amigo em um festival que acontecia no Sul do país. Rafaela relata que na manhã do sábado (7), na rave, passaram a ver mísseis no céu. Foram, então, em busca de um bunker.
“Fomos para uma estrada e vimos que em um ponto de ônibus tinha um bunker. Aí a gente achou que ia ficar tudo bem, já que no bunker os mísseis não seriam problemas. Mas começou a entupir de gente o bunker. Não sei dizer quantas, só não dava para se mexer no espaço que a gente estava”, relatou.
“Em algum momento não vi mais meu namorado. Não sei se ele levantou ou chegou a sair. Não vi mais ele, estava muito desorientada. Desmaiava muito por conta do gás”.
Na sequência, a polícia chegou ao local e checou a situação das pessoas. Rafaela e o amigo deixaram o bunker, mas não encontraram Ranani.
“Achei que ia morrer”, diz brasileiro que estava no festival
O brasileiro Rafael Birman contou à CNN que estava no festival quando começaram os ataques.
“Aqui em Israel, infelizmente, a gente já é acostumado com sirenes, bombas e mísseis. Mas, como é uma cidade muito próxima de Gaza, pode ser uma questão de 5 ou 10 segundos entre o foguete ser lançado e cair próximo a você. Então, eu decidi pegar os meus amigos e sair”, relatou.
Na estrada rumo a Tel Aviv, onde ele mora, Rafael viu passar, no sentido oposto, rumo ao sul, um carro verde com uma menina ensanguentada gritando “terrorista, terrorista”. Foi nesse momento, conforme ele afirmou, que as pessoas decidiram mudar a rota e ir sentido ao sul.
Um amigo que estava com ele viu uma estrada de terra paralela e eles resolveram seguir por lá para fugir do congestionamento.
“Era um portão de Gaza. Um portão provavelmente desativado que estava fechado bem na fronteira. No momento em que a gente virou, a gente começou a ouvir uns barulhos de tiro. A gente ainda não tinha noção de que estava sendo atacado, mas depois de uns quatro tiros e o vidro de trás do carro estourando, a gente entendeu que eles tinham aberto fogo contra o carro.”