O desdobramento militar dos Estados Unidos no Caribe, que intensifica a pressão sobre o governo do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, conta com o crescente apoio logístico e diplomático de diversos países da região. Enquanto alguns oferecem suporte aberto, outros estabelecem limites, pelo menos no discurso, à colaboração com as forças norte-americanas.
Os ataques contra embarcações que, segundo Washington, transportavam drogas, já resultaram em mais de 80 mortes, embora a Casa Branca não tenha apresentado evidências que sustentem essas alegações.
Trinidad e Tobago: O Aliado Mais Próximo
O apoio mais frontal vem de Trinidad e Tobago, que está a apenas 11 quilômetros da costa venezuelana.
- Apoio Total: Quando os EUA iniciaram o desdobramento em agosto, a primeira-ministra trinitária, Kamla Persad-Bissessar, declarou pleno apoio às manobras de combate ao narcotráfico.
- Ameaça de Base: A premiê chegou a alertar que, se a Venezuela atacasse a Guiana (com quem Caracas tem disputas territoriais), concederia acesso a Washington para defesa. Essa postura sinalizou o abandono da política de neutralidade mantida por anos.
- Escalada da Tensão: Em resposta, Maduro suspendeu acordos bilaterais de gás, acusando a primeira-ministra de querer transformar Trinidad e Tobago em um “porta-aviões do império”. As manobras, no entanto, continuaram, sendo descritas por Maduro como planos “irresponsáveis” e pelo chanceler trinitário como necessárias devido à violência e atividade de gangues criminosas.
- Acordo SOFA: O ex-primeiro-ministro Keith Rowley negou que tenha selado um acordo que permitiria aos EUA usar o país como base de ataque. O Acordo sobre o Estatuto das Forças (SOFA), de 2007, apenas regula a presença temporária e atividades do pessoal militar dos EUA.
🇬🇾 Guiana: Disputas e o “Cartel dos Sóis”
A pequena fronteira terrestre da Venezuela com a Guiana (789 km) é a mais tensa atualmente, após o referendo de 2023 de Maduro para criar o estado de Guayana Essequiba na área rica em petróleo que reivindica.
- Apoio às Manobras: O governo da Guiana apoiou o desdobramento militar dos EUA logo em agosto, em um comunicado que “reafirma seu apoio a uma abordagem colaborativa e integrada para combater o crime organizado transnacional”.
- Acusações a Caracas: O texto manifestou “grave preocupação com a ameaça à paz e à segurança” representada pelo narcoterrorismo, mencionando explicitamente o “Cartel de los Soles” (Cartel dos Sóis), que Washington acusa Maduro de liderar, o que Caracas nega veementemente.
- Visita de Alto Comando: O chefe do Comando Sul dos EUA, Almirante Alvin Holsey, visitou a Guiana este mês para promover a “segurança e estabilidade regional”.
El Salvador: Nova Posição no Pacífico
No início de novembro, um avião de ataque AC-130J da Força Aérea dos EUA, armado com canhões de grosso calibre, foi visto na base de segurança cooperativa de Comalapa, em El Salvador.
- Posição Estratégica: A base salvadorenha, antes usada para aeronaves desarmadas, tem uma localização privilegiada perto da costa do Pacífico.
- Vigilância Ampliada: A operação a partir de Comalapa “oferece mais opções e permite vigiar e defender uma faixa muito mais ampla do Oceano Pacífico, por onde passa grande parte da cocaína traficada para os Estados Unidos”, segundo analistas.
- Relação Próxima: O presidente salvadorenho, Nayib Bukele, não se manifestou sobre o tema, mas mantém uma relação próxima com o ex-presidente Donald Trump.
Panamá e 🇩🇴 República Dominicana: Cooperação Cautelosa
- Panamá: Militares dos EUA realizam treinamentos no Panamá. O presidente José Raúl Mulino negou que seu país esteja servindo para qualquer “ato hostil contra a Venezuela”, garantindo que as manobras se devem a acordos bilaterais de cooperação com Washington e não têm relação com a pressão sobre Maduro.
- República Dominicana: O presidente Luis Abinader anunciou ações “muito mais extensas e profundas” com a DEA (agência antidrogas dos EUA) no combate ao narcotráfico. Autoridades dominicanas confirmaram incinerações de carregamentos de cocaína em apoio direto à “Operação Lança do Sul”, nome do Pentágono para o desdobramento na região.
Porto Rico: O Epicentro da Logística
A ilha de Porto Rico, território autônomo dos EUA, desempenha um papel crucial, sendo o local do maior operativo e com mais bases militares do Pentágono no Caribe.
- Bases Reativadas: A ilha preserva várias bases, e a Estação Naval Roosevelt Roads, fechada desde 2004, já está novamente em funcionamento.
- Alerta Aéreo: A escala da presença militar levou a Administração Federal de Aviação (FAA) a emitir um Aviso para Missões Aéreas (NOTAM) para operadores de aeronaves, alertando sobre uma “situação potencialmente perigosa” devido ao aumento das operações militares até fevereiro de 2026.
Outras Bases e Aliados de Maduro
- Guantánamo (Cuba): A base naval dos EUA em Cuba é um enclave militar que permite tarefas logísticas, rejeitado pelo governo cubano, aliado da Venezuela.
- La Palmerola (Honduras): Os EUA mantêm uma base aérea em Honduras desde 1982. A presidente Xiomara Castro, aliada de Maduro, qualificou as acusações contra ele como “infundadas” e se manifestou contra o desdobramento militar.
Apelo Político: América do Sul se Junta à Pressão
Países fora do Caribe também reforçaram a estratégia de Washington ao mirar no Cartel dos Sóis:
- Equador: Em agosto, o presidente Daniel Noboa designou o Cartel dos Sóis como “grupo terrorista do crime organizado”, considerando-o uma “ameaça para a população nacional”.
- Paraguai: Também declarou a organização como “terrorista internacional”, prometendo “redobrar seus esforços” para combater a delinquência transnacional.
- Argentina: O governo declarou o grupo como “organização terrorista”, fundamentando a decisão em relatórios oficiais que creditam atividades ilícitas transnacionais como narcotráfico e exploração ilegal de recursos.