Uma lista crescente: estes são os países latino-americanos que participam do destacamento militar dos EUA

Os ataques contra embarcações que, segundo Washington, transportavam drogas, já resultaram em mais de 80 mortes

Porta-aviões Gerald R. Ford, dos EUA, pode abrigar mais de 75 aeronaves militares

O desdobramento militar dos Estados Unidos no Caribe, que intensifica a pressão sobre o governo do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, conta com o crescente apoio logístico e diplomático de diversos países da região. Enquanto alguns oferecem suporte aberto, outros estabelecem limites, pelo menos no discurso, à colaboração com as forças norte-americanas.

Os ataques contra embarcações que, segundo Washington, transportavam drogas, já resultaram em mais de 80 mortes, embora a Casa Branca não tenha apresentado evidências que sustentem essas alegações.

Trinidad e Tobago: O Aliado Mais Próximo

O apoio mais frontal vem de Trinidad e Tobago, que está a apenas 11 quilômetros da costa venezuelana.

  • Apoio Total: Quando os EUA iniciaram o desdobramento em agosto, a primeira-ministra trinitária, Kamla Persad-Bissessar, declarou pleno apoio às manobras de combate ao narcotráfico.
  • Ameaça de Base: A premiê chegou a alertar que, se a Venezuela atacasse a Guiana (com quem Caracas tem disputas territoriais), concederia acesso a Washington para defesa. Essa postura sinalizou o abandono da política de neutralidade mantida por anos.
  • Escalada da Tensão: Em resposta, Maduro suspendeu acordos bilaterais de gás, acusando a primeira-ministra de querer transformar Trinidad e Tobago em um “porta-aviões do império”. As manobras, no entanto, continuaram, sendo descritas por Maduro como planos “irresponsáveis” e pelo chanceler trinitário como necessárias devido à violência e atividade de gangues criminosas.
  • Acordo SOFA: O ex-primeiro-ministro Keith Rowley negou que tenha selado um acordo que permitiria aos EUA usar o país como base de ataque. O Acordo sobre o Estatuto das Forças (SOFA), de 2007, apenas regula a presença temporária e atividades do pessoal militar dos EUA.

🇬🇾 Guiana: Disputas e o “Cartel dos Sóis”

A pequena fronteira terrestre da Venezuela com a Guiana (789 km) é a mais tensa atualmente, após o referendo de 2023 de Maduro para criar o estado de Guayana Essequiba na área rica em petróleo que reivindica.

  • Apoio às Manobras: O governo da Guiana apoiou o desdobramento militar dos EUA logo em agosto, em um comunicado que “reafirma seu apoio a uma abordagem colaborativa e integrada para combater o crime organizado transnacional”.
  • Acusações a Caracas: O texto manifestou “grave preocupação com a ameaça à paz e à segurança” representada pelo narcoterrorismo, mencionando explicitamente o “Cartel de los Soles” (Cartel dos Sóis), que Washington acusa Maduro de liderar, o que Caracas nega veementemente.
  • Visita de Alto Comando: O chefe do Comando Sul dos EUA, Almirante Alvin Holsey, visitou a Guiana este mês para promover a “segurança e estabilidade regional”.

El Salvador: Nova Posição no Pacífico

No início de novembro, um avião de ataque AC-130J da Força Aérea dos EUA, armado com canhões de grosso calibre, foi visto na base de segurança cooperativa de Comalapa, em El Salvador.

  • Posição Estratégica: A base salvadorenha, antes usada para aeronaves desarmadas, tem uma localização privilegiada perto da costa do Pacífico.
  • Vigilância Ampliada: A operação a partir de Comalapa “oferece mais opções e permite vigiar e defender uma faixa muito mais ampla do Oceano Pacífico, por onde passa grande parte da cocaína traficada para os Estados Unidos”, segundo analistas.
  • Relação Próxima: O presidente salvadorenho, Nayib Bukele, não se manifestou sobre o tema, mas mantém uma relação próxima com o ex-presidente Donald Trump.

Panamá e 🇩🇴 República Dominicana: Cooperação Cautelosa

  • Panamá: Militares dos EUA realizam treinamentos no Panamá. O presidente José Raúl Mulino negou que seu país esteja servindo para qualquer “ato hostil contra a Venezuela”, garantindo que as manobras se devem a acordos bilaterais de cooperação com Washington e não têm relação com a pressão sobre Maduro.
  • República Dominicana: O presidente Luis Abinader anunciou ações “muito mais extensas e profundas” com a DEA (agência antidrogas dos EUA) no combate ao narcotráfico. Autoridades dominicanas confirmaram incinerações de carregamentos de cocaína em apoio direto à “Operação Lança do Sul”, nome do Pentágono para o desdobramento na região.

Porto Rico: O Epicentro da Logística

A ilha de Porto Rico, território autônomo dos EUA, desempenha um papel crucial, sendo o local do maior operativo e com mais bases militares do Pentágono no Caribe.

  • Bases Reativadas: A ilha preserva várias bases, e a Estação Naval Roosevelt Roads, fechada desde 2004, já está novamente em funcionamento.
  • Alerta Aéreo: A escala da presença militar levou a Administração Federal de Aviação (FAA) a emitir um Aviso para Missões Aéreas (NOTAM) para operadores de aeronaves, alertando sobre uma “situação potencialmente perigosa” devido ao aumento das operações militares até fevereiro de 2026.

Outras Bases e Aliados de Maduro

  • Guantánamo (Cuba): A base naval dos EUA em Cuba é um enclave militar que permite tarefas logísticas, rejeitado pelo governo cubano, aliado da Venezuela.
  • La Palmerola (Honduras): Os EUA mantêm uma base aérea em Honduras desde 1982. A presidente Xiomara Castro, aliada de Maduro, qualificou as acusações contra ele como “infundadas” e se manifestou contra o desdobramento militar.

Apelo Político: América do Sul se Junta à Pressão

Países fora do Caribe também reforçaram a estratégia de Washington ao mirar no Cartel dos Sóis:

  • Equador: Em agosto, o presidente Daniel Noboa designou o Cartel dos Sóis como “grupo terrorista do crime organizado”, considerando-o uma “ameaça para a população nacional”.
  • Paraguai: Também declarou a organização como “terrorista internacional”, prometendo “redobrar seus esforços” para combater a delinquência transnacional.
  • Argentina: O governo declarou o grupo como “organização terrorista”, fundamentando a decisão em relatórios oficiais que creditam atividades ilícitas transnacionais como narcotráfico e exploração ilegal de recursos.
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Graduado em Jornalismo e Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Atuou como repórter das editorias de Política, Economia e Esportes antes de assumir o cargo de chefe de reportagem do portal da Itatiaia.

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