As autoridades da Lituânia declararam, nessa terça-feira (9), estado de emergência em todo o país devido ao envio de balões com mercadorias de contrabando provenientes da vizinha Bielorrússia, aliada do Kremlin. A onda de balões de hélio, geralmente carregados com cigarros, nas últimas semanas, forçou o fechamento do aeroporto de Vilnius, a capital lituana, em mais de dez ocasiões.
O Governo lituano classificou os incidentes como possíveis “atos de terrorismo”, que colocam em risco a segurança do país báltico e constituem “ataques híbridos” orquestrados pelo regime de Aleksandr Lukashenko.
Motivos e ações governamentais
“O estado de emergência foi declarado não apenas pelas interrupções na aviação civil, mas também por motivos de segurança nacional”, destacou o Ministro do Interior, Vladislav Kondratovic, em uma reunião de Governo transmitida ao vivo pela televisão nesta terça-feira.
O Executivo lituano solicitou ao Parlamento que conceda às Forças Armadas poderes para atuar em colaboração com a polícia, a guarda de fronteira e as forças de segurança durante o estado de emergência. A medida visa conter a onda de balões e garantir a segurança da aviação civil, explicou Kondratovic. O Ministro da Defesa, Robertas Kaunas, afirmou que o exército poderá utilizar a força no cumprimento dessas funções. As medidas de emergência permanecerão em vigor até que o Governo decida revogá-las.
“Devido à ameaça contínua aos interesses de segurança nacional do Estado e ao perigo para a vida humana, saúde, propriedade e meio ambiente representados pelos ataques de balões lançados da Bielorrússia em direção ao território lituano e que transportam contrabando, declara-se estado de emergência em nível nacional em todo o país”, detalhou o Executivo lituano em comunicado.A Primeira-Ministra, Inga Ruginiene, manifestou: “Na luta contra os ataques híbridos da Bielorrússia, devemos tomar as medidas mais estritas e defender as áreas mais afetadas.” Ela acrescentou que “a população não sofrerá inconveniente algum” em decorrência da declaração do estado de emergência.
Reação de Minsk
Lukashenko, por sua vez, criticou a medida do país báltico, afirmando que o Governo lituano está exagerando os incidentes com os balões de contrabandistas e que a Bielorrússia “não busca uma guerra” com seus vizinhos.
“O que os lituanos dizem hoje é impossível e irrealista”, declarou o ditador bielorrusso em um discurso retransmitido pela agência de notícias estatal Belta. “O tema está sendo exagerado e politizado”, completou. O presidente da Bielorrússia ressaltou que, após consultar diversos pilotos, estes lhe garantiram que, mesmo no caso improvável de os balões atingirem grandes altitudes, não representariam risco para a aviação civil.
Histórico da crise e impacto
O contrabando de cigarros por meio de balões tem sido um ponto de atrito entre Lituânia e Bielorrússia há meses, o que levou Vilnius a fechar temporariamente a fronteira entre os dois países no final de outubro.
Desde outubro, o aeroporto de Vilnius teve de fechar por mais de 60 horas no total devido à ameaça dos balões vindos da Bielorrússia. Segundo números do Governo lituano, isso afetou mais de 350 voos e aproximadamente 51.000 passageiros.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, já havia se manifestado em 1º de dezembro, classificando as incursões de balões como “ataques híbridos” do regime de Lukashenko “completamente inaceitáveis”.
A Lituânia impôs o estado de emergência também em 2021, na região fronteiriça com a Bielorrússia, por conta do que classificou como uma campanha de Minsk para instrumentalizar migrantes e forçá-los a entrar ilegalmente no território da União Europeia. No ano seguinte, Vilnius voltou a decretar a medida após o início da guerra na Ucrânia, temendo que o país báltico pudesse se tornar um alvo da Rússia.