Pode parecer cena de filme futurista, mas dá para atravessar um rio de carro, por baixo d’água, na América do Sul, há mais de cinco décadas. Trata-se do Túnel Subfluvial Raúl Uranga – Carlos Sylvestre Begnis, que liga as cidades de Santa Fé e Paraná, na Argentina. Inaugurado em 1969, ele foi o primeiro túnel subaquático do continente e até hoje é considerado um marco de inovação e desenvolvimento.
O que é um túnel subfluvial?
Um túnel subfluvial é uma estrutura construída abaixo de rios, lagos ou mares. Diferentemente das pontes, ele não interfere na navegação de embarcações e costuma ser uma solução prática e segura para a travessia. No mundo, o exemplo mais famoso é o Eurotúnel, que conecta a França ao Reino Unido pelo Canal da Mancha, com mais de 50 quilômetros de extensão.
Na América do Sul, o pioneirismo ficou com o Túnel Subfluvial Raúl Uranga – Carlos Sylvestre Begnis, que atravessa o Rio Paraná em um trecho de quase 3 quilômetros.
Antes da construção, a única maneira de cruzar o rio era por balsas, o que limitava o transporte de pessoas e mercadorias. Com pista simples e uma faixa em cada sentido, o túnel hoje recebe cerca de 12 mil veículos por dia, em uma travessia que dura apenas três minutos.
Mais do que encurtar distâncias, a obra impulsionou a economia local, facilitou a integração entre as províncias de Santa Fé e Entre Ríos e se tornou referência para outras iniciativas de infraestrutura no continente. Durante a construção, milhares de empregos foram gerados, e a tecnologia aplicada foi considerada avançada para a época.
A opção por um túnel, em vez de ponte, foi estratégica: não atrapalhar a navegação no Rio Paraná.
Além disso, a estrutura exige menos manutenção a longo prazo. O túnel é monitorado 24 horas por dia por um centro de operações e conta com câmeras, sensores de monóxido de carbono e sistemas de som para emergências. A cada 100 metros, há nichos com extintores, hidrantes e sistemas de bombeamento para evitar alagamentos.
O Túnel Subfluvial Raúl Uranga – Carlos Sylvestre Begnis não apenas aproximou duas cidades argentinas, mas também fortaleceu a integração regional, promoveu crescimento urbano e aumentou a competitividade econômica da região. Até hoje, é considerado um exemplo de como obras de engenharia podem transformar realidades locais e servir de inspiração para novos projetos.
Túneis submersos no Brasil
O sucesso do túnel argentino abriu caminho para que obras semelhantes sejam planejadas em outros países da América do Sul, incluindo o Brasil. Dois projetos estão em destaque:
- Túnel Imerso Santos–Guarujá (SP): terá 870 metros de extensão, previsão de entrega em 2028 e investimento estimado em R$ 6 bilhões. Vai permitir a travessia de veículos, ciclistas e pedestres, além de uma faixa para VLT, reduzindo de até 30 minutos (de balsa) para apenas 5 minutos o tempo de deslocamento.
- Túnel no Rio Itajaí-Açu (SC): ligará as cidades de Itajaí e Navegantes, com 300 metros de extensão. O projeto prevê seis faixas de tráfego, incluindo uma exclusiva para ônibus elétricos (BRT). Ainda sem data definida para início, promete revolucionar a mobilidade urbana na região.