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Por que todo mundo quer o seu Labubu ao redor do mundo?

Assustadores e adoráveis, os pingentes de pelúcia Labubu se tornaram itens de colecionador muito cobiçados por jovens e celebridades

Esses são os famosos Labubus

No final de novembro, Casey Lewis lançou a newsletter After School com a seguinte declaração: “Oficialmente, chegamos ao auge dos pingentes de bolsa”. Ela citava uma série de artigos do New York Times, Wall Street Journal e The Strategist sobre mulheres de todas as idades prendendo chaveiros e bijuterias em suas bolsas, como prova de que “os dias dessa tendência estavam contados”.

No entanto, apenas uma semana antes, Lewis também havia incluído uma nota sobre um novo brinquedo que estava conquistando a Ásia: um duende de sorriso travesso, vestido com uma fantasia de pelúcia, chamado Labubu.

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Meses depois, o Labubu está mais popular do que nunca — e os bonecos de pelúcia podem ser vistos balançando em bolsas, ao lado de outros pingentes barulhentos, por toda parte.

Lewis é conhecida por estar sempre por dentro das tendências de consumo da Geração Z, mas admite que sua previsão sombria sobre os pingentes de bolsa foi precipitada.

“O fenômeno Labubu surgiu do nada — pelo menos para mim”, disse Lewis. “Essa é uma das coisas mais divertidas, mas também mais desconcertantes, sobre os ciclos de tendências atuais: é tão difícil prever o que vem a seguir, o que vai pegar e com que velocidade vai se espalhar.”

Graças ao Labubu, a tendência dos pingentes de bolsa ganhou uma nova vida.

Como chegamos até aqui?

A resposta envolve Jane Birkin, Miuccia Prada, ansiedade econômica, pequenas bonecas Kewpie com frutas na cabeça e artes e ofícios de acampamentos de férias.

Mas primeiro: Labubu.

“Labubu” é o nome de um personagem da série de livros infantis The Monsters. É uma duende que costuma usar macacões de pelúcia de várias cores.

Kasing Lung é o artista baseado em Hong Kong que criou The Monsters em 2015. Em 2019, Lung fez uma parceria com a empresa chinesa Pop Mart para vender exclusivamente versões de brinquedo do Labubu. Os preços variam de centenas de euros para exemplares raros a menos de 30 para a maioria dos pequenos chaveiros do Labubu.

Ainda é cedo para saber se o Labubu alcançará o status mítico e os números de vendas épicos, por exemplo, da Hello Kitty. Mas sua ascensão tem sido impressionante. Segundo a Pop Mart, os produtos The Monsters geraram mais de 400 milhões de euros em vendas globais em 2024, com o Labubu representando a maioria dessas receitas.

Celebridades como Rihanna, Dua Lipa e Lisa do Blackpink já foram vistas com chaveiros Labubu pendurados em suas bolsas e passadores de cinto. O jogador de basquete da NBA Dillon “the Villain” Brooks foi fotografado mais de uma vez com uma bolsa à qual estava preso um Labubu branco.

Lewis também vê um paralelo com a febre dos copos Stanley no final de 2023. “Nestes tempos estranhos, em que as pessoas tentam descobrir quem são, o que defendem, qual é a sua identidade, ter estas coleções de coisas queridas é uma forma de dizer ‘Isto sou eu, é isto que me representa’”, disse.

Assim como os copos Stanley, a tendência do Labubu é alimentada pelas redes sociais. Uma musiquinha com ukulele, cantada em voz de bebê repetindo “Labubu” várias vezes, já tem 11 milhões de visualizações no YouTube. O áudio foi usado em mais de 250 mil Reels no Instagram, muitas vezes acompanhando vídeos de pessoas exibindo seus Labubus pendurados nas carteiras.

Alguns Labubus vêm em blind boxes — embalagens “surpresa” em que o comprador não sabe qual é o boneco até abri-lo. É o mesmo princípio de comprar um maço de figurinhas de beisebol: tanto pode sair algo banal quanto algo raro e valioso.

Essas embalagens intensificam o risco e a recompensa da compra, liberando ainda mais dopamina quando se encontra um exemplar cobiçado. Isso contribuiu para o fenômeno dos Sonny Angels — bonequinhos Kewpie colecionáveis com chapéus temáticos.

Mas mesmo no auge da febre Sonny Angels, nunca se viu nada como a cena no shopping Westfield Century City, em Los Angeles, no final de abril, quando vídeos do TikTok mostraram centenas de pessoas correndo para o lançamento de um novo Labubu.

Shabnam Melwani, fundadora da marca de lifestyle Sun Moon Rain, estava lá quando o fenômeno aconteceu na loja Pop Mart. “Nem consigo explicar — foi uma loucura”, disse. Melwani contou que “havia pelo menos mil pessoas” antes das seis da manhã.

Melwani, de 56 anos, divide seu tempo entre Singapura e Los Angeles, e tinha acabado de voltar da Ásia. Ela e o filho pegaram o que ela chama de “vício do Labubu” em fevereiro, mas não tinham percebido que já havia se espalhado pelo mundo.

Neste momento, ela possui cerca de dez Labubus, mas o número varia porque costuma oferecê-los como presentes. Quando conversamos, ela estava prestes a ir ao cabeleireiro, onde planejava surpreender a cabeleireira com um.

A moda dos pingentes

Seu filho de 13 anos troca e vende os bonecos para lucrar e também lhe oferece roupas para Labubus, feitas à semelhança de marcas como Chrome Hearts, Chanel e Gucci. As roupas “de marca” são falsas, mas as bolsas às quais ela prende os Labubus são verdadeiras. Há algumas semanas, ela publicou uma foto de um de seus Labubus com um lenço rosa (autêntico) da Hermès, preso a uma bolsa Hermès Kelly (também autêntica).

Para uma mulher que pode comprar uma Kelly (ou várias — “Há muito tempo que deixei de contar minhas bolsas”, disse Melwani), qual é o fascínio por um brinquedo de pelúcia e plástico?

“São várias camadas de razões que me levaram a isso”, disse. Ela começou a colecionar Labubus na sequência dos incêndios em L.A., que danificaram sua casa. “Escapar para este pequeno universo de criaturas malucas em caixas surpresa era uma distração divertida”, contou.

Seu novo amor pelo Labubu a levou a recuperar uma coleção de pingentes vintage, incluindo um robô divertido da Prada, contou. “O timing foi perfeito”, disse, referindo-se à forma como a tendência dos pingentes do ano passado ajudou a alimentar a febre Labubu atual.

No verão passado, começaram a surgir vídeos no TikTok de jovens “birkinificando” suas bolsas, prendendo-lhes lenços, bugigangas e chaveiros. A tendência foi inspirada por Jane Birkin, que adornava sua icônica bolsa Hermès personalizada com colares, adesivos com slogans políticos e cortadores de unha.

A procura por pingentes de bolsa extravagantes foi respondida por marcas como Loewe, Fendi, Balenciaga e Burberry. O pingente em forma de cereja da Coach, por US$ 95, foi particularmente popular entre a Geração Z.

O que acharia Jane Birkin ao ver jovens prendendo Labubus às bolsas em seu nome? “Sinceramente, acho que ela teria adorado”, disse Marisa Meltzer, autora da futura biografia It Girl: The Life and Legacy of Jane Birkin.

A própria Birkin levava consigo um boneco de pelúcia chamado Monkey. Quando o ex-companheiro Serge Gainsbourg morreu em 1991, ela o enterrou com o Monkey. “Ela compreendia perfeitamente o poder de um talismã de pelúcia — algo que se quer por perto e a que se atribui um grande significado”, explicou Meltzer.

O Labubu também agrada a cantos mais ousados e menos sentimentais da cultura.

“Acho que eles têm aquele equilíbrio perfeito entre serem assustadores e fofos ao mesmo tempo”, disse Meg Ferry, que estava sendo tatuada quando conversamos. “Agrada a todo mundo.”

Ferry, de 24 anos, é dona do estúdio de tatuagens Karma Club, em Lincoln, Inglaterra. Ela começou a dar nas vistas por tatuar Labubus — tanto em pessoas quanto nos próprios bonecos, que ela decora com morcegos, teias de aranha e estrelas.

Até agora, ela já vendeu 40 bonecos tatuados através de seu site e tem mais 20 quase prontos para sair. “Costumam esgotar em segundos”, disse, com o zumbido da máquina de tatuagem ao fundo.

Estudante de jornalismo na PUC Minas e estagiária da Itatiaia