Na contramão de qualquer impulso de autoextermínio é preciso cultivar o desejo de viver. Muitos desistem da vida, realidade que pede de todos uma atitude de promoção desse dom precioso recebido de Deus. Antes do trágico desfecho, quem abre mão do viver já percorreu caminhos sombrios e, por isso mesmo, torna-se necessário buscar formas para resgatar os que se aproximam do precipício. O autoextermínio ecoa como luto silencioso, causa um profundo vazio familiar e comunitário.
Especialistas buscam compreender o que leva uma pessoa a desistir de viver. Muitas pesquisas oferecem respostas, mas o processo que leva ao autoextermínio permanece um mistério, exigindo, sempre mais, a atenção de diferentes campos do conhecimento. Sabe-se que, entre as medidas preventivas, está o cuidado com a espiritualidade, ainda mais importante em um mundo marcado por disputas, consumismos e superficialidades.
O cotidiano impõe pressões que desgastam e ameaçam a unidade interior, núcleo que sustenta a força e a sabedoria do viver. Essa unidade se fragiliza quando o valor pessoal se apoia em títulos, ganhos e glórias efêmeras, seguidas de um vazio que mutila internamente e gera a incapacidade de prosseguir. O vazio aumenta quando se depende apenas do externo ou de fantasias internas, sem alcançar autoconhecimento. Valorizar-se não pode depender da aprovação alheia nem da prisão constituída por inquietações: é preciso liberdade interior.
O cansaço do peregrino de cada dia — fruto de hiperatividade, encontros superficiais e festas vazias — exige tratamento com silêncio, retiro e cultivo da sede de Deus. Sem Deus, a existência se deteriora, perde alegria e multiplica decepções. Sentar-se à beira do próprio poço, em clima orante, é caminho de encontro com Aquele que também deseja encontrar cada ser humano.
A abertura a Deus fortalece o ser humano para suportar pesos e renova a sede de viver. A oração se torna escola de sabedoria, dá sentido ao sofrimento e gera paz interior. Espiritualidade é resposta à desesperança e remédio contra a perda da inteireza psicoemocional. Mas não basta qualquer espiritualidade.
O encontro com Jesus Cristo humaniza, promove autoconhecimento, corrige instintos de violência, vence tendências suicidas e desperta o gosto de praticar o bem. Essa espiritualidade cura feridas, firma passos, ilumina a identidade e abre horizontes.
A sede de viver cresce e se sacia quando a vida é movida pela energia do amor, pela plenitude de ser bom e fazer o bem. A espiritualidade mostra que o bem é a razão que alimenta o viver.