O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, reúne-se com Donald Trump na Flórida nesta segunda-feira (29), no momento em que o presidente dos Estados Unidos pressiona o chefe de governo israelense para avançar à próxima etapa do frágil plano de trégua em Gaza.
O encontro no complexo Mar-a-Lago de Trump, o quinto entre os dois líderes realizado nos Estados Unidos neste ano, ocorre enquanto autoridades da Casa Branca temem que Israel e o Hamas estejam atrasando a implementação da segunda fase do cessar-fogo.
Trump, que afirmou que a reunião acontece a pedido de Netanyahu, estaria ansioso para anunciar antes de janeiro um governo tecnocrático palestino para Gaza e a mobilização de uma força internacional de estabilização.
O gabinete de Netanyahu informou que ele se reuniu com o secretário de Estado americano, Marco Rubio, e o secretário de Defesa, Pete Hegseth, na Flórida, antes de suas conversas com Trump, previstas para as 13h locais (15h de Brasília).
A porta-voz do governo israelense, Shosh Bedrosian, disse que Netanyahu pretende abordar com Trump a segunda fase do acordo, que implica garantir que “o Hamas seja desarmado e Gaza desmilitarizada”.
O braço armado do Hamas reiterou nesta segunda-feira que não entregará suas armas, um dos principais pontos de fricção nas negociações do acordo de paz.
“Nosso povo está se defendendo e não entregará suas armas enquanto a ocupação continuar”, afirmaram as Brigadas Ezzedine al-Qassam em uma mensagem em vídeo.
O grupo islamista também confirmou a morte de seu porta-voz de longa data, Abu Obeida, meses depois de Israel anunciar que ele havia morrido em um ataque aéreo em Gaza em 30 de agosto.
Mas Netanyahu também tentará pressionar Trump a realizar mais ataques contra o programa nuclear de Teerã devido “ao perigo que o Irã representa não apenas para a região do Oriente Médio, mas também para os Estados Unidos”, indicou Bedrosian.
‘A fase dois precisa começar’
A visita de Netanyahu dá sequência a dias frenéticos de diplomacia internacional em Palm Beach, onde Trump recebeu no domingo o seu homólogo ucraniano, Volodimir Zelensky, para discutir o fim da invasão russa.
O cessar-fogo em Gaza anunciado em outubro é uma das principais conquistas do primeiro ano de Trump em seu retorno ao poder, mas sua administração e os mediadores regionais pretendem manter o ímpeto.
O enviado especial dos EUA, Steve Witkoff, e o genro de Trump, Jared Kushner, receberam funcionários de alto escalão dos países mediadores - Catar, Egito e Turquia - em Miami no início do mês.
O momento da reunião com Netanyahu é “muito significativo”, disse Gershon Baskin, copresidente da comissão de construção da paz ‘Alliance for Two States’, que participou de negociações secretas com o Hamas.
“A fase dois precisa começar”, declarou à AFP. Ele acredita que “os americanos percebem que já é tarde porque o Hamas teve tempo demais para restabelecer sua presença”.
A primeira fase do acordo de trégua exigia que o Hamas libertasse os reféns que permaneciam em cativeiro, vivos e mortos, do ataque de 7 de outubro de 2023 contra Israel.
O Hamas devolveu todos, exceto o corpo de um refém.
Na segunda etapa, Israel deve retirar as tropas de suas posições em Gaza, enquanto o Hamas deve entregar as armas.
Além disso, uma autoridade interina deve governar o território palestino e uma força internacional de estabilização (ISF, na sigla em inglês) será mobilizada.
No entanto, ambas as pares denunciam frequentes violações do cessar-fogo.
‘Permanecer no poder’
O site americano Axios informou na sexta-feira que Trump queria convocar a primeira reunião de um novo “Conselho de Paz” para Gaza, que ele presidiria, no Fórum de Davos, na Suíça, em janeiro.
Mas a publicação apontou que funcionários da Casa Branca estavam cada vez mais exasperados por considerarem que Netanyahu se esforça para travar o processo de paz.
“Há cada vez mais sinais de que o governo americano está se frustrando com Netanyahu”, disse Yossi Mekelberg, analista para o Oriente Médio do centro de estudos Chatham House, com sede em Londres.
“A pergunta é o que vai fazer a respeito (...) porque a fase dois, neste momento, não avança”, acrescentou.
Mekelberg observou que Netanyahu tenta desviar a atenção de Gaza para o Irã justamente quando Israel entra em um ano eleitoral.
“Tudo está relacionado com permanecer no poder”, afirmou sobre o veterano primeiro-ministro israelense.
Com informações de AFP